- 𝟟 𝕔𝕙𝕒𝕧𝕖𝕤-

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Capítulo IX

Naquela mesma noite em meu quarto, no dormitório, Austin, Alec e Liz, compartilhavam momentos, experiências e curiosidades sobre a semana de trabalho em Zyra e principalmente, pelas novas descobertas, entre elas as melhores fofocas.

Austin no primeiro momento ficou indignado com o que ouviu da minha boca sobre as experiências no laboratório e no segundo depois, havia ficado irritado com o comportamento de Samantha, ela não parecia ser a mesma de antes e com a sua busca incansável pela cura, confirmava os boatos que ele ouviu no dormitório masculino com o piloto da nave.

- Isso explica aquela conversa - disse Austin pensativo.

- Que conversa? - quis saber o irmão, cruzando os braços e possivelmente irritado por não saber com antecedência.

Liz revirou os olhos.

- Não fique chateado por não ser o primeiro a saber de uma fofoca - respondeu Liz com um sorriso animado, preparada para o que viria a seguir.

- Você sabe que detesto ser o último a saber das coisas - retrucou Alec, dando um tapinha no ombro da amiga.

Segurei o riso.

- Se fosse sobre nós, eu até entenderia que fique zangado, mas estamos falando da Sam, ela não faz mais parte do grupo e querendo ou não, tudo o que ela faz nos afeta - corrigiu Austin, mas prosseguiu determinado a contar - Ouvi boatos entre os militares no dormitório que Samantha quer começar uma família com Erick e que estava tentando uma adoção antes de vir a Zyra, mas como ambos tem a carreira movimentada e estão morando em um planeta nada seguro, ambos foram rejeitados para a seleção no programa de adoção. E vocês sabem como são, o patriarcado leva a sério a criação e a segurança de uma criança, é tudo mais difícil.

- Então aquela decisão doentia de querer a cura, é para ter filhos ? - deixei a pergunta no ar, recebendo um súbito silêncio em resposta.

- Como assim decisão doentia? - perguntou Alec, curioso.

Suspirei fundo e consegui dizer :

- Samantha tem sido responsável por levar para o saco preto várias nativas, usa elas como cobaias e tenta descobrir como se reproduzem, o que acreditamos ser bem diferente da forma como fazemos na terra.

- Não é para menos - retrucou Austin - usamos placentas artificiais desde o século passado, eles são primitivos e não possuem a mesma tecnologia, talvez eles se reproduzam a moda antiga.... - continuou ele meio envergonhado. - aquela conexão direta.

- Já li alguns livros sobre esse relato - disse com as bochechas quentes, recebendo uma risada maliciosa de Alec e prossegui envergonhada - mas essa não é questão, fizemos alguns teste de fertilidade nas nativas no laboratório, todas são inférteis, exceto Ty'saia.

- Quem? - quis saber Alec, desmanchando o sorriso.

- A nativa grávida que encontramos, no último trabalho em campo - disse Liz, compartilhando uma valiosa informação - desde que chegou tentei criar uma conexão com ela e confesso que com o tempo a minha presença em sua cela veio se tornando menos ameaçadora. Mas não me sinto bem tendo que deixá-la em um lugar como aquele, estando tão perto de ganhar o bebê, temo pelos dois, tenho medo que aconteça o mesmo que da ultima vez.

- O que aconteceu da última vez Liz? - Austin perguntou e não se sentiu muito bem com o que ouvi a seguir.

Liz apenas conseguiu segurar as lágrimas e não disse nada, aqueles gritos ainda lhe causava pesadelo.

- Graças ao desespero de Samantha a irmã mais nova de Ty' saia foi parar dentro de uma sala e jamais saiu - respondi, tentando repassar o mesmo que Ty'saia, um pedido de socorro e o pior momento de sua vida - ela era uma criança inocente e Samantha não teve piedade, nunca teve ao menos consideração com o bem estar de ninguém, quando ela coloca um plano em ação é capaz de tudo para conseguir o que quer. - Prossegui angustiada - Não estou apenas falando do fim daquela menina, mas no que poder acontecer se prosseguimos com essas pesquisas e jogar a descoberta dessas mortes para debaixo do tapete e pensar que não haverá consequências.

Austin se encostou na cadeira e olhou para o teto, uma bola de palavras ficaram presas em sua garganta, mas para sua surpresa nada saiu, estava sem acreditar - aquela menina devia ter a idade dos seus filhos - e ele não pretendia trazê-los a Zyra se fosse para destruir o lar de outras famílias. Teria que haver outro plano para fazer os humanos sobreviverem. Mas qual?

- Que tipo de consequências Lia? - perguntou Alec, ainda pálido com o que acabara de ouvir.

Por um momento fiquei em silêncio, mas me lembrei da sentença de Ty'saia.

- Todas aquelas mulheres que passaram por esses corredores são mães ou filhas, morreram ou estão presas e a qualquer momento vão sentir falta delas e quando procurarem e acharem, onde acham que vão aparecer para vingar as mortes delas? - perguntei, fazendo Alec engolir a seco. - Não temos armamento para nos proteger de uma invasão ou de um exército kal'el, eles são grandes demais, fortes e violentos e já ouvi uma fofoca entre os militares essa manhã, que armas normais demoram para derrubar um deles e se tiver sorte do brutamonte não te matar primeiro.

Alec tentou não demonstrar medo, mas foi óbvio seu desespero em uma única frase:

- Quero ir embora desse planeta,  sou jovem demais para morrer.

Austin se virou devagar para o irmão e meneou a cabeça.

- Ninguém vai fugir - decidiu Austin se levantando e encarando todos no quarto. - Mas vamos ajudar com uma fuga, precisamos libertar essas nativas antes que começamos uma guerra sem ter conseguido uma cura.

Liz meneou a cabeça preocupada, aquilo cheirava a encrenca - problemas enormes e ela sabia o que acontecia com aqueles que quebravam as regras, não estávamos mais na terra e as leis não se aplicavam ali - quebrar as regras te levaria a morte.

- Não podemos, Austin - lembrou Liz nervosa - ou é o pescoço delas ou o nosso, acha que eu não teria feito algo se soubesse que seria diferente?

Meu coração se partiu quando ouvi aquilo.

- Estou aqui a mais tempo que todos vocês - disse Liz, nos encarando com um misto de medo e cuspindo palavras amargas - quebre as regras aqui dentro e você será morto e mesmo se tiver sorte, eles vão te deixar em pedaços. - A voz dela no início ficou embargada, mas pude perceber que Liz estava tirando os curativos de uma ferida aberta no peito quando concluiu - Como vocês acham que consegui essa cadeira de rodas?

Seis segundos de silêncio e então uma resposta.

- No acidente de carro, todo mundo sabe - Disse Alec, temeroso em tocar em um assunto doloroso.

- Também pensei assim nos primeiros meses - disse Liz, lutando para conter as lágrimas de cabeça baixa - Não foi apenas um acidente, planejaram isso depois que me aprofundei em uma pesquisa e mantive sigilo quando voltei pra casa nas férias, eles queriam a verdade e me neguei em abrir a boca, foi então que aconteceu o acidente e meu pai acabou...

Liz deixou as lágrimas rolarem e como magnetismo me movi para abraçá-la. Sabia que tinha algo de errado e apenas esperei para que ela desabafasse, mas esse dia nunca chegou. Liz era do tipo de pessoa que era forte o tempo inteiro - e quando se acumula feridas no peito é inevitável esperar que o tempo cure, porque quase sempre nunca cura, a ferida já está profunda demais.

- O que você descobriu Liz? - Austin se ajoelhou e apertou as mãos dela quando ela parou de chorar.

- Menti, dizendo que perdi a memória de alguns meses antes de voltar pra casa na época - Disse Liz, secando as bochechas úmidas. - mas eles ainda me mantiveram no laboratório porque acham que posso lembrar de tudo, mas a verdade é que, eu sempre lembrei de tudo e acho que encontrei a cura.

Alec ficou boquiaberto e se sentou na cama sem acreditar, os lábios de Austin se mexeram e um sorriso esperançoso enfeitou seu rosto quando meus olhos brilhavam de emoção, mas foi Liz que soltou um suspirou de alívio e sorrio dentro daquele lugar, depois de muito tempo -aliviada por saber que seu segredo estava em boas mãos.

Planeta dos bárbaros -Vol1Onde histórias criam vida. Descubra agora