Capítulo XVI
_No'ak_
Continuei caminhando as margens rio acima, com uma lança na mão e a determinação de arrancar o mal pela raiz. A mais de 10 anos o povo que veio do céu ergueu sua tribo de ferro em minhas terras e se movem constantemente em aves barulhentas, andando pelas florestas como se fossem donos de tudo. Antes poucos, agora se multiplicaram como uma praga.
No início pareciam indefesos e não vi motivos para expulsá-los e por isso um pequeno grupo de Arrakes os vigia à distância, todo dia me notificando sobre seus passos quando estão fora daquele lugar -mas me preocupo, minha prima Ty'saia lidera o grupo, e não tenho notícias dela faz alguns dias e seu sumiço não deixa apenas seu parceiro Mdjorn, preocupado mas também minha família.
Todo ano eles descem do céu e pousam em Zyra em grupos grandes, trazendo consigo a curiosidade e a desconfiança para qualquer membro de minha tribo, mas agora os pequenos viajantes estão me irritando e sua ousadia em caminhar para além de seus muros me irrita.
O vento bate em meu rosto e sinto um cheiro diferente, do outro lado da margem uma pequena cabana costuma abrigar ferramentas de caça e pesca, construindo pelo próprio Raoshy na primavera passada e trinco o maxilar ao ver pequenas pegadas na terra molhada e um rastro vermelho sujando a grama para fora da margem do rio.
Cheiro o ar novamente e me agacho para tocar o rastro de sangue quase seco, um cheiro metálico de cor carmim - trinquei o maxilar. Já era final de tarde e a luz alaranjada do pôr do sol batia em minhas costas suadas e continuei caminhando em direção a cabana, ouvindo o melodioso som que se assemelhava a batidas de tambor.
Estava preparado para matar, meu plano era esse, o que estivesse lá dentro iria sofrer o golpe fatal de minhas facas, o que quer que fosse - viajante do céu, intruso, ladrão, ou qualquer besta - e então entrei fazendo o mínimo de barulho, o rastro no chão de madeira me guiou até a enorme cama, onde o dono daquele som belíssimo adormecia.
Arregalei os olhos e levei uma das mãos a faca na cintura e segurei o cabo com força, meus olhos ficaram vidrados na pequena coisa que dormia no meio da cama. Pequena e ferida.
- O que diabos é você? - falei baixinho.
Meus olhos percorreram o corpo da coisa, curiosamente de pele escura, seu cabelo era alto e curto, me fez lembrar das pequenas flores de Lyra, era pequena e robusta sob as veste de couro apertadas e usava um capacete que fazia pequenos ruídos a cada respiração, usava também uma pequena bolsa grudada nas costas e uma bota.
Olho sob o ombro onde tinha deixado a lança e observo o par perdido e suspiro, acho que achei o dono.
- Será que é um guerreiro? - falo baixinho, me agachando ao lado da cama para observar a coisa mais de perto. - ou uma fêmea, dos viajantes do céu?
Observei o corpo curvilíneo e trinquei o maxilar, havia dois pequenos volumes - como frutas Vortexia, redondos e macios na frente, a barriga pequena e delgada, quadris largos e pés pequenos - e movido pela curiosidade e com as mãos trêmulas, toquei levemente uma das pequenas frutas empinadas para o teto e a coisa ressoou dormindo.
- É... acho que é uma fêmea - disse decidido, recuando os dedos
Meus olhos varreram ainda mais, para o vale da barriga e fixaram na coxa enfaixada, ela estava ferida, o cheiro de sangue denunciava seu atual estado e como acredito que a ferida seja profunda, ela não vai durar muitas horas desse jeito.
- Será que ela está com dor? - perguntei baixinho, e então desviei o olhar e passei a mão pelos cabelos me afastando. - Porque estou me importando? Se ela morrer, deixarei o corpo dela em frente aos portões de sua tribo e ela servirá como exemplo para os demais. Mas se vierem atrás dela com a o festival tão perto, vai ser um problema... o que os outros líderes vão dizer se descobrirem que não sei manter meu próprio povo seguro de ameaças?
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Planeta dos bárbaros -Vol1
Science FictionCom o passar dos anos a terra veio se transformando em um lar inabitável para os humanos, no entanto, com a descoberta do planeta alienígena ZYRA, vive o primitivo povo Kal'el com o seu ambiente tóxico, se tornou a salvação para nossa espécie. Ameli...