Capítulo XIX
- No'ak -
Caminhamos por algumas horas e o tempo mudou de ensolarado e fresco, para frio e chuvoso. Escolhi construir um pequeno abrigo dentro de um tronco caído e o camuflei com galhos e folhas para nos proteger da chuva, e os destroços da nave - como prometido - estava do outro lado do rio.
A manhã chuvosa se desenha em um tom de cinza suave que cobre o céu, como um manto de algodão que esconde o sol. As nuvens, pesadas e carregadas, sussurram promessas de água que dançam e se misturam em um leve tamborilar sobre as folhas e árvores. O som da chuva cria uma sinfonia tranquila, onde cada gota parece contar uma história esquecida, enquanto os pássaros se recolhem, procurando abrigo nas copas das árvores.
A floresta, uma vez viva e colorida, agora reflete os contornos opacos do céu, com poças de lama que se formam, como espelhos distorcidos que capturam o movimento. O cheiro da terra molhada, uma mistura de frescor e nostalgia, invade o ar, trazendo à mente memórias de infância e dias aconchegantes passados em casa. As folhas das árvores, encharcadas, dançavam suavemente ao sabor do vento, em um balé tímido que só a chuva poderia proporcionar.
As gotas de água cristalina descem lentamente, escorrendo pelas folhas iridescentes que refletem a luz de um sol distante, criando uma atmosfera mágica e hipnotizante. O chão, coberto por um tapete espesso de musgos fluorescentes, absorve cada gota, formando poças que brilham como joias sob a luz filtrada.
À medida que a chuva torna-se mais intensa, o ar fresco se enche de aromas exuberantes. O perfume terroso mistura-se com o doce e agridoce de flores exóticas que se abrem na umidade, criando um convite para qualquer forma de vida. Criaturas curiosas, com pelagens brilhantes e pele escamosa, aparecem timidamente entre as sombras, suas silhuetas destacando-se contra o fundo turquesa da vegetação - Lia sorriu maravilhada ao observar aquilo.
A sinfonia da chuva é complementada pelo som de sussurros das folhas sendo balançadas pelo vento. O murmúrio de água escorrendo entre as pedras cobertas de limo dá vida ao rio que serpenteia pela floresta, tornando-se mais robustos e vibrantes sob a chuva intensa que viria. A luz suave do amanhecer, filtrada pela densa camada de nuvens, pinta o céu em um espectro de azuis profundos, enquanto relâmpagos ocasionalmente riscam o horizonte, trazendo um espetáculo de luz - ela se encolheu assustada.
- Tem medo de relâmpagos? - perguntei, me aproximando com o capuz de peles.
Ela concordou com um sorriso tímido.
- A fêmea que não tem medo de gritar com um kal'el, tem medo de relâmpagos? - disse surpreso, cobrindo seus ombros com o manto - Que descoberta interessante.
Ela fez uma careta quando ouviu outro relâmpago e soltou um gritinho, me sentei ao seu lado e exibi um sorriso - agora ela havia mudado drasticamente de uma fêmea feroz para uma criança medrosa e isso me deixava fascinado.
- Se por acaso rir de novo, vou garantir que seja a última vez - alertou Lia, se embrulhando nas peles.
- Prometo não garantir nada - retruquei.
Ela bateu de leve no meu ombro e segurei o riso, contraindo os lábios.
- Quantas horas restam? - Perguntei, tentando não demonstrar preocupação.
Ela engoliu a seco e disse:
- Duas horas.Concordei e me levantei, ajustando o cinto com facas na cintura.
- Fique aqui, vou voltar com o que precisa - afirmei, decidido a continuar.
Ouvi Lia agradecer e me afastei para longe. A chuva caia sobre meu ombros e o vento frio castigava a cada passo em direção a nave abatida. Me mantive no campo de visão de Lia, ao passo que outro relâmpago cortou o céu, a fazendo estremecer, ela abri a boca, mas nenhuma palavra saiu de início, uma rajada fria beijou seu rosto e ela engoliu a seco apreensiva.
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Planeta dos bárbaros -Vol1
Science FictionCom o passar dos anos a terra veio se transformando em um lar inabitável para os humanos, no entanto, com a descoberta do planeta alienígena ZYRA, vive o primitivo povo Kal'el com o seu ambiente tóxico, se tornou a salvação para nossa espécie. Ameli...