Recíproco;

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ㅡ Esse... sou eu? ㅡ Jeonghan murmurou frente ao espelho do quarto, observando os pequenos traços que ele mal reconhecia como seus.

Seus cabelos, antes loiros e secos, agora estavam em um preto tão sedoso e brilhante que ele mal lembrava da última vez que os havia visto assim. Ele passou os dedos pelos fios, sentindo a maciez que diferenciava fortemente com a aspereza de antes. O toque suave trazia uma sensação de renovação, quase como se ele estivesse redescobrindo uma parte de si que havia perdido ao longo do tempo.

Sua pele também estava diferente. Antes marcada por uma palidez e uma magreza que preocupava, agora parecia mais luminosa e viçosa. As maçãs do rosto tinham um tom saudável, e a pele parecia mais firme e hidratada. Ele sabia que parte dessa mudança devia-se aos cuidados que estava recebendo ultimamente, mas não podia evitar sentir-se espantado com o quão significativa era a diferença. O moreno se inclinou para mais perto do espelho, examinando os detalhes que antes escapavam de sua atenção. As olheiras profundas que sempre marcavam seus olhos haviam praticamente desaparecido, revelando um olhar mais desperto e vivo.

Ele se afastou um pouco, tentando assimilar todas as mudanças. Havia um brilho em seus olhos que ele não via há muito tempo, e deixou que um sorriso pequeno tomasse conta de seus lábios. Passou a mão pelo rosto, sentindo a suavidade da pele, como se quisesse confirmar que aquilo era real. Girou lentamente, analisando seu reflexo de diferentes ângulos, verificando como a nova cor de cabelo complementava suas feições. Abriu a boca ligeiramente, observando seus dentes brancos refletirem a luz do quarto, e depois a fechou. Aproximou-se mais uma vez, focando nas sobrancelhas bem delineadas e nos cílios escuros que emolduravam seus olhos brilhantes.

ㅡ É realmente eu... ㅡ Disse por fim, abaixando a cabeça enquanto suas memórias o levavam de volta a uma época que ele preferia esquecer, uma época em que o cuidado consigo mesmo era uma ideia distante e quase inconcebível.

Ele começou a lembrar de seu passado, de quando ficava preso na antiga casa com seu tio. A casa, sempre escura e fria, era um lugar onde ele se sentia constantemente aprisionado. As paredes pareciam se fechar ao seu redor, e cada canto estava impregnado com a sensação de desespero e solidão. Seu tio, um homem de poucas palavras e muitos gestos cruéis, não demonstrava nenhum afeto ou carinho. Jeonghan passava horas intermináveis isolado em seu quarto, onde a única companhia eram seus próprios pensamentos sombrios e as sombras que dançavam nas paredes.

Essas lembranças trouxeram de volta o medo constante que ele sentia, especialmente das vezes em que desconhecidos entravam em sua vida, trazendo consigo apenas dor e sofrimento. Ele recordava as vezes que era arrastado para fora de casa, entregue a pessoas que não conhecia, que o tratavam como um objeto descartável. Cada encontro deixava cicatrizes invisíveis em sua alma, marcas que ele carregava consigo até hoje. A vulnerabilidade e o desamparo que sentia eram esmagadores, e Jeonghan se via revivendo cada momento doloroso, cada lágrima derramada em silêncio, cada súplica por uma ajuda que nunca chegava.

Lembrava-se das noites em que dormia com fome, do frio que parecia nunca ir embora, e das palavras duras que seu tio lançava como se fossem dardos, perfurando qualquer resquício de esperança que ele ainda tentava manter.

Jeonghan sentiu um fio de lágrima escorrer pelo canto de seus olhos. A emoção que ele tentava suprimir há tanto tempo finalmente encontrou uma saída. O toque suave da lágrima em sua pele o despertou para a realidade de suas experiências passadas. Incapaz de conter a onda de sentimentos que o assaltava, ele começou a chorar em silêncio, permitindo que anos de sofrimento e angústia finalmente viessem à tona.

Ele deslizou para o chão, encostando-se ao espelho enquanto as lágrimas caíam livremente. Jeonghan abraçou os joelhos, envolvendo-se em um abraço apertado, como se tentasse proteger-se do impacto esmagador das memórias. Sentia o gosto salgado das lágrimas nos lábios e a umidade se acumulando em sua pele, mas não fez nenhum esforço para interromper o fluxo.

New Chance - JIHAN ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora