Cap. 27

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Paolo Lancaster

Sai da casa do Mauro e fui direto para a minha. Tinha passado o dia inteiro fora e não tive tempo de ver ou conversar com a minha baixinha. Gabriela é o anãozinho da minha vida, com seus 1,59 de altura, ela governa o meu mundo como se fosse grande.

Não temos filhos. Na nossa primeira tentativa, Gabriela engravidou e acabou perdendo no segundo mês de gestação. Depois de fazer diversos exames, descobrimos que ela tem um problema no útero e que se ela engravidasse outra vez, eu acabaria perdendo os dois na hora do parto.

Então decidimos não tentar mais e estamos felizes assim com o nosso bebê de 4 patas.

Coloquei o carro na garagem, guardei minha arma na cintura, peguei minha mochila e entrei em casa.

- Gabriela.

Nosso pastor alemão veio correndo quando ouviu minha voz e pulou em mim.

- Ei garotão, eu também estava com saudade de você - Falei coçando atrás das orelhas dele.

Coloquei minha mochila no sofá e fui para a cozinha. Gabriela estava de costas, folheando um caderno com fones no ouvido e usando um short preto com uma das minhas camisas sociais.

Dei um tapa na bunda dela, Gabriela gritou e tudo que estava perto dela foi para o chão.

- Paolo! Seu...

- Olha essa boca.

- Doeu, sabia?

- Achei que foi fraco.

- Se ficar marcado, eu que vou te bater.

- Quero ver tentar.

Ela juntou a revista do chão e antes que ela escondesse, eu consegui ver a capa.

- O que você está vendo aí?

- Não é nada, é só uma revista.

- Você está mentindo Gabriela, deixa eu ver.

- Não Paolo.

Ela se virou e eu puxei a revista da mão dela.

- PAOLO!

Era uma revista infantil, o conteúdo da capa até a contra capa falava sobre bebês. Olhei para ela, seus olhos estavam marejando e uma lágrima escorreu.

- Amor...

- Desculpa, eu sei que prometi a você que não falaria ou procuraria mais sobre isso, só que é mais forte do que eu.

Ela já estava chorando, larguei a revista e a abracei.

- Me desculpa meu amor, mas não quero arriscar, eu não posso te perder.

- Podemos adotar.

- Meu trabalho é muito arriscado, já é difícil manter você longe, imagina uma criança.

- ENTÃO LARGA ESSE TRABALHO! - Disse me empurrando

- E VOCÊ ACHA QUE EU JÁ NÃO TENTEI? - Gritei tirando minha camisa - Como você acha que eu consegui essas cicatrizes? Tudo que eu faço é por você, para proteger o que temos e demoramos muito para conquistar. Adrian precisa de mim, a equipe precisa de mim e eu não posso abandonar eles.

- E quando você precisou? O Adrian estava do seu lado? A equipe que você lidera estava do seu lado? Aquele dia que você quase morreu no hospital, eram eles que estavam do seu lado?

- Gabi... O pai dele está vindo pra cá, ele me ameaçou usando você, não posso deixar que ele chegue perto de você.

- Eu sei me cuidar, você me ensinou a me defender e a usar uma arma.

- Não parece ser o suficiente, as vezes acho que você não está 100% protegida.

- Eu vou cuidar do meu jardim, se precisar de alguma coisa faça sozinho.

Ela saiu sem olhar para mim, peguei minha mochila do sofá e subi para o quarto, eu precisava de um banho gelado.

Tomei meu banho, me vesti e antes de descer olhei pela janela. Gabriela estava agachada com uma tesoura na mão, nosso querido Scott estava deitado ao lado dela, sorri e desci pra cozinha. Meu celular começou a tocar, peguei um pacote de bolacha e fui para a sala.

- Alô?

- Paolo, já está em casa?

- Já sim, por que?

- Estou indo aí pra gente conversar.

- Miguel, você nunca vem só pra conversar.

- Tá legal, estou indo jantar também, mas estou levando as cervejas.

- Estou precisando conversar mesmo.

- O que aconteceu?

- A gente conversa depois.

- Beleza, só vou terminar de arrumar algumas coisas e já vou.

- Tá, até depois.

- Até.

Encerrei a ligação e joguei meu celular no sofá. Me levantei e fui até a varanda.

- Amor.

- O que é? - Pergunta sem olhar para mim

- Miguel está vindo pra cá, ele vem jantar com a gente.

- Tá bom.

- Eu vou ir no mercado, precisa de alguma coisa?

- Não - Responde passando por mim

- Gabriela - Falei indo atrás dela - Conversa comigo, por favor amor.

- Não tenho nada para falar Paolo.

- Gabriela, é sério, não quero ficar brigado com você. Me desculpa por tudo que eu disse pra você, eu só não quero te perder.

Ela começou a chorar e eu a abracei forte.

- Nós podemos tentar, podemos adotar, mas eu não vou colocar sua vida em risco.

- Podemos procurar uma barriga de aluguel, você...

- Não Gabriela, não tá legal, eu não vou transar ou fazer qualquer outra coisa com outra mulher.

- Amor, mesmo não sendo meu filho, ele vai ser seu, vai ter seu sangue.

- Não, não, não Gabriela.

- Tá legal Paolo, mas eu preciso de você comigo, preciso que você volte vivo e inteiro para nós.

- Farei o possível e o impossível por vocês.

- Eu te amo.

- Também te amo meu amor.

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