Capítulo um.

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-Adivinha!
As mãos quentes e úmidas de Yoko apertam minhas bochechas,e seu anel,um crânio de prata escurecido,deixa uma marca de sujeira sobre minha pele.E mesmo que meus olhos estejam cobertos e fechados,sei que os cabelos dela,tingidos de preto, estão partidos ao meio;um espartilho,sei que se sobrepõe a uma blusa de gola rulê mantendo-se em conformidade com código de vestimenta de nossa escola;a saia comprida de cetim preto,apesar de nova,já tem um furo próximo à bainha,de quando ela pisou com o bico das botas Doc Martens;os olhos parecem dourados,mas só porque ela está usando lentes de contato amarelas.

Também sei que o pai dela não está viajando "a trabalho",como ele mesmo disse;que o personal trainer de sua mãe é muito mais "personal" do que "trainer" e que o irmão caçula quebrou um CD dela,nem porque alguém me contou.Sei porque tenho poderes sobrenaturais.

-Anda logo,adivinha!Daqui a pouco o sinal vai tocar!-ela diz com a voz rouca,como se fumasse um maço de cigarros por dia,embora só tenha tentando fumar uma vez.

Enrolo um pouco enquanto penso na última pessoa com quem ela gostaria de ser confundida.

-Bianca Barclay ?
-Eca!Vai tenta de novo.-Ela aperta ainda mais forte,nem sequer desconfiando de que eu não preciso ver para saber.

-Será a Sra.Marilyn Manson?

Ela ri e desencosta as mãos,e então lambe o polegar para apagar a tatuagem em minha bochecha,mas levanto o braço antes de quê ela possa me alcançar. Não porque tenha nojo da saliva dela (quer dizer,sei que Yoko não tem doença nenhuma),mas porque não quero que encoste em mim novamente. O toque humano é muito revelador,muito cansativo, então procuro evitá-lo a todo custo.

Com um gesto rápido,ela tira o capuz de minha cabeça e aperta os olhos aí ver meus fones de ouvido.

-O que está ouvido?
Levo a mão ao bolsinho para iPod que costurei no capuz de todos os meus moletons (para esconder dos professores os tão conhecidos fiozinhos brancos) e entrego a ela o aparelho.

-Puxa...-ela diz com os olhos arregalados.-Quer dizer,que barulheira é essa? Quem é que está cantando isso?
Yoko se curva para que nó duas possamos ouvir Sid Vícios berrando
sobre a anarquia no Reino Unido. Na verdade,nem sei se ele é a favor ou contra. Sei apenas que berra o suficiente para dar uma acalmada em meus supersentidos.

-Sex Pistols-respondo,desligando o iPod e o guardando-o de volta no esconderijo.
-Nem sei como você pôde me ouvir.-Yoko sorri ao mesmo tempo que o sinal toca.

Simplesmente dou de ombros. Não preciso escutar para ouvir. Claro, não é isso que digo a ela. Falo apenas que a gente vai se ver de novo na hora do almoço e vou para minha aula, atravessado o campus da escola e encolhendo-me ao intuir os dois garotos que se aproximam pelas costas de Yoko e pisam a bainha da saia dela -por pouco não a fazem cair.Mas quando ela se vira pra trás,faz o sinal do Mal(certo, não é o sinal do Mal,mas algo que ela mesma inventou)e os encara com aqueles olhos amarelos,eles imediatamente se afastam e a deixam em paz.Quanto a mim, suspiro aliviada e entro na sala de aula,sabendo que não vai demorar muito até que eu deixe de sentir a energia persistente do toque de Yoko.

A caminho de meu lugar,no fundo da sala,desvio-me da bolsa que Amber Freeman deixou de propósito em meu caminho e ignoro a serenata que ela diariamente sussurra ao me ver-"Per-de-do-ra". Em seguida,acomodo-me na cadeira,tiro livro,caderno e caneta da mochila vazia a meu lado e espero pela chegada do Sr.Robins está sempre atrasado.Sobretudo porque gosta de tomar uns goles de seu cantil de prata entre uma aula a outra.Mas bebe apenas porque a mulher grita com ele o tempo todo,a filha o considera um fracasso e ele,quase sempre,detesta a própria vida.Descobrir tudo isso em meu primeiro dia nesta escola,quando acidentalmente toquei na mão dele aí entregar o formulário de transferência.Agora, portanto,sempre que tenho que lhe entregar algo,deixo na beira da mesa.

Fecho os olhos e espero, enquanto meus dedos deslizam pelo moletom,a fim de trocar o barulho Sid Vicious por algo mais leve,mais tranquilo.A gritaria de Sid não é mais necessária agora que estou na sala de aula.Acho que a relação entre professor e aluno ajuda a conter,pelo menos até o certo ponto,minha energia mediúnica.

Nem sempre fui essa bizarrice que sou hoje. Já fui uma adolescente normal,do tipo que ia às festinhas da escola,se apaixonava por celebridades e tinha tanto orgulho dos cabelos louros que jamais pensaria em prendê-los num rabo de cavalo ou escondê-lo sob um capuz.Eu tinha mãe,pai uma irmã caçula chamada Riley e uma cadela labradora amarela,fofíssima,de nome Buttercup.Morava numa casa agradável,num bairro bacana de Eugene,no Oregon.Era popular,feliz e mal podia esperar pra chegar ao segundo ano,pois tinha acabado de me tornar chefe de torcida da principal equipe da escola. Minha vida era completa,mas,no meu caso, ironicamente, é também a mais pura verdade.

No entanto,sei tudo isso apenas por ouvir dizer,pois desde o acidente só lembro claramente de uma coisa:eu morri.

Tive o que as pessoas chamam de "experiência de quase morte",ou EQM. Acontece que as pessoas está erradas. Podem acreditar, não houve nada de "quase" no que me aconteceu. Foi assim:um acidente instante, Riley e eu estávamos no banco de trás do SUV do papai,Buttercup com a cabeça em minha perna,e a próxima lembrança...os airbags inflados,o carro inteiramente destruído e eu lá, assistindo a tudo do lado de fora.
Olhando para os destroços-os estilhaços de vidro,as portas amassadas,o para-choque dianteiro agarrado ao trono de um pinheiro num braço letal-, fiquei me perguntando o que poderia ter acontecido de errado,esperando e suplicando que todos tivessem conseguido sair dali colo eu. De repente,ouvi um latido familiar;virei para trás e vi minha família seguindo por um caminho,guiada por Buttercup,que abanava o rabo.
Fui de encontro deles. De início,tentei correr e alcança-los,mas depois fui mais devagar,querendo me demorar e passear por aquele campi vasto e perfumado de árvores e flores vibrantes que tremeluziam,e apertando os olhos diante da névoa deslumbrante que refletia e brilhava intensamente,iluminando tudo.

Prometi a mim mesma que seria rápido,que logo voltaria para encontrar minha família. Mas quando enfim olhei, só deu tempo de,um relance,eles sorrirem e acenarem para mim ao atravessar uma ponte,sumindo de vista pouco depois.

Entrei em pânico. Olhando para todas as direções,comecei a correr de um lado para o outro,mas tudo parecia igual:iam névoa sem fim,branca,brilhante,iluminada,bonita e estúpida. Então,caí no chão e fiquei ali,morrendo de frio,chorando, gritando, xingando, implorando,fazendo promessas que sabia jamais pode cumprir.

Foi então que ouvi alguém dizer:
-Enid? É esse seu nome?Abra os olhos e olhe para mim.

Aos tropeços,voltei para a superfície,onde tudo era dor e sofrimento,e minha testa porejava de tanta dor,uma dor lancinante. Então olhei fixamente para o sujeito que se curvava sobre mim, dentro de seus olhos escuros,e sussurrei:
-Sim,sou Enid.-E desmaiei outra vez.

______________________________________Vontem aí ★ please.

E comente oq quiserem.

Bye.🏂🏻

Para sempre as imortais - Wenclair G!P Onde histórias criam vida. Descubra agora