Capítulo treze.

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Emancipada é uma palavra que significa tornar-se livre ou independente, ou seja, libertar-se do poder paternal.

Mais pra frente entenderam.

NÃO REVISADO! BOA LEITURA.



Pov Enid

Vejo pessoas mortas. O tempo todo. Na rua,na praia,no shopping,nós restaurantes,nós corredores da escola,nas filas do correio,na sala de espera dos consultórios...mas nunca no do dentista. Porém,ao contrário dos fantasmas que a gente vê na televisão e no cinema, eles jamais me perturbam,pedem minha ajuda ou vêm conversar comigo. De modo geral,não fazem mais que sorrir e acenar quando notam que estão sendo vistos. Como a maioria dos vivos,eles adoram ser vistos.

Mas a voz no meu quarto, definitivamente, não era de um fantasma. Também não era de Riley. A voz em meu quarto era de Wednsday.

E por isso sei que foi um sonho.

— E aí?—Ela sorrir e se senta segundos depois do sinal tocar,mas,como a aula é do Sr.Robins,isso é o mesmo que chegar cedo.

Cumprimento-a apenas com um aceno de cabeça, de um jeito displicente,neutro,como se não tivesse nem aí pra ela. Esperando esconder o fato de que, a essa altura,estou tão afim que até ando sonhando com ela.

— Sua tia parece legal— ela diz, olhando para mim e batendo com a caneta na carteira, num irritante tec tec tec.

— É, ela é — resmungo, furiosa com o Sr. Robins,que não sai daquele banheiro,desejando que ele larguei o maldito cantil de uísque e venha logo dar aula.

— Também não moro com minha família — diz Wednsday, a voz silenciando a sala, aquietando meus pensamentos, enquanto ela gira a caneta na ponta dos dedos,para lá e para cá,sem deixá-la cair.

Não digo nada. Apenas ajusto o iPod no comprimento secreto do capuz,cogitando ligar a música para bloquear Wednsday também. Não, isso seria grosseiro demais.

— Fui emancipada— ela acrescenta.

— Sério?— pergunto, apesar de ter prometido a mim mesma limitar nossa conversa aí mínino necessário. Só que,bem,nunca conheci uma outra emancipada e sempre achei que todos fossem pessoas tristes e solitárias. Mas, a julgar pelo carro que dirige, as roupas que usa e os lugares que frequenta nas noites de sextas, Wednsday não parece nem um pouco infeliz com sua condição.

— Sério— ela diz. E assim que para de falar ouço cochichos febrilmente trocados entre Stacia e Honor, que me chamam de esquisitona e outros qualificativos bem menos simpáticos que esse. Depois me espanto ao vê-la arremessa a caneta para o alto, sorrindo e quando ela desenha uma série de oito preguiçosos no ar, antes de aterrissar perfeitamente na ponta do dedo dela.— E sua família,onde está?— ela pergunta.

Como é estranha essa alternância entre barulho e silêncio, barulho e silêncio, barulho e silêncio... Parece até uma versão prova para a dança das cadeiras,uma versão em que sempre acabo sobrando de pé.

—O quê?— digo, distraída pela caneta que agora paira entre a gente,nem como pelos comentários de Honor a respeito de minha roupa.

Quanto ao namorado dela, bem,o garoto concorda com tudo,feito um cordeirinho,mas ao mesmo tempo se pergunta por que ela, Honor, nunca se veste como eu.

Minha vontade é de pôr o capuz,ligar o iPod no volume máximo e dar um fim a essa história toda. Em tudo. Inclusive Wednsday.
Principalmente em Wednsday.

— Onde sua família mora?— ela pergunta.

Fecho os olhos enquanto ela fala, saboreando a delícia que são esses poucos segundos de silêncio. Depois volto a abri-los e, encarando-a,digo:

— Estão todos mortos.

Finalmente o Sr. Robins entra na sala.

— Sinto muito.

Wednsday se senta a minha frente na mesa do almoço, e eu corro os olhos pelo pátio, ansiosa para Yoko e Ajax não demorarem para chegar.

E quando abro a bolsa com o lanche, vejo o quê? Uma tulipa! Igualzinha a do outro dia,espetada entre o sanduíche e o saco de batatas fritas.

Não sei como ela fez isso, mas tenho certeza de que foi Wednsday quem colocou ali. Na verdade,não são os truques de mágica que me incomodam,mas o jeito como ela olha para mim, fala comigo, aquilo que me faz sentir...

— Sua família. Eu não sabia que...

Olhando para baixo, fico rodando a tampinha da garrafa de suco para lá e para cá, para cá e para lá, preferindo mil vezes que ela tivesse esquecido o assunto.

— Não gosto de falar nisso—digo.

— Sei como é perder as pessoas que a gente ama— ela sussurra, estendendo o braço por cima da mesa e colocando a mão sobre a minha.

Sinto uma onda tão boa de calma, aconchego e segurança...que fecho os olhos e baixo a guarda, entregando-me totalmente a esse momento de paz, feliz por ouvir o que ela diz, e não o que ela pensa. Feito uma garota normal. Mas com uma garota bem mais bonita que o normal.

— Hmm, licença — diz alguém. Abro os olhos novamente e dou se cara com Yoko, as mão plantadas na mesa, os olhos amarelos apertados fixos em nossas mãos. — Eu não queria interromper.

Imediatamente colocou a mão no bolso,como se tivesse fazendo algo errado,algo que ninguém deveria ter visto. Minha vontade é explicarrque aquilo não havia sido nada,que não significava nada,mas conheço minha amiga o bastante para saber que seria inútil.

— Cadê Ajax?— falo afinal, sem saber mais o que dizer.

Yoko revira os olhos e senta ao lado de Wednsday, a aura passando de um amarelo forte a um vermelho muito escuro em razão dos mais pensamentos.

—Ajax está trocando torpedos com sua nova paixão da internet,bilau_no_cio_307— ela diz, evitando meu olhar enquanto desembrulhar seu cupcake.

Em seguida,virando-se para Wednsday, acrescenta: — Então,como foi o fim de semana de todo mundo?

Mesmo sabendo que a pergunta não foi dirigida a mim, dou de ombros e fico olhando para minha amiga. Como faz todos santo dia, Yoko prova o cupcake com a ponta da língua. ( Nem sei por que faz isso;nunca a vi recusar um único cupcake desde que conheço!) Mas quando volto o olhar para Wednsday,fico chocada ao vê-la sacudindo os ombros também:pelo que vi na sexta-feira, imaginei que o fim de semana dela havia sido infinitamente melhor que o meu.

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Para sempre as imortais - Wenclair G!P Onde histórias criam vida. Descubra agora