Capítulo cinco.

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Por conta de muitos ossos quebrados,uma concussão,uma hemorragia interna, diversos ematomas e cortes, entre eles um talho bastante profundo na testa, fiquei hospitalizada por mais de um mês,toda engessada e quase sempre sedada. Portanto, coube a Sabine toda a chatice de esvaziar a nossa casa, providenciar os enterros e empacotar meus pertences para a mudança que estava por vim.

Ela pediu que eu listasse tudo que eu quisesse levar comigo. Tudo o que deveria ser transplantado da vida perfeita que eu tinha em Eugene Oregon,para a vida nova e assustadora que passaria a ter em Laguna Beach, California. Mas, exceto por algumas roupas, eu não queria levar nada. Não seria capaz de suportar tantos lembretes de tudo o que havia perdido; além do mais, uma caixa idiota cheia de tralhas jamais traria minha familia de volta.

Durante todo o tempo em que fiquei confinada naquele quarto branco e insípido recebi visitas regulares de um psicólogo: um residente sempre embrulhado no mesmo suéter bege, com uma prancheta nas mãos, excessivamente preocupado. E que sempre começava nossa conversa com a mesma pergunta imbecil, querendo saber como eu vinha lidando com minha "perda profunda" (palavras dele, não minhas), para depois tentar me con- vencer a subir para o quarto 618, onde rolavam sessões de aconselhamento

pós-traumático. Nem morta eu participaria de algo assim. Nem morta eu me juntaria a um bando de pessoas angustiadas, esperando minha vez de contar a história do pior dia de minha vida. Em que isso poderia ajudar? Por que eu me sentiria

melhor só por confirmar algo que já sabia: que não só fui a única responsável pelo que aconteceu à minha família, como também fui bastante estúpida, bastante egoista e bastante preguiçosa para perder tempo, demorar e, assim, idar para a eternidade?

Sabine e eu não falamos muito durante o voo de Eugene para Laguna Beach Fingi que estava quieta por causa da tristeza e das dores no corpo, mas, para falar a verdade precisava apenas de um pouquinho de distanciamento. Sabia do conflito de emoções que rolava na cabeça da minha tia. Por um lado queria desesperadamente tomar a atitude certa; por outro, não conseguia parar de perguntar a si mesma: Por que eu?

Quase nunca me pergunto isso. Em geral, penso: Por que eles, e não eu? Mas também não queria correr o risco de magoar Sabine. Depois de tudo o que ela havia feito por mim, assumindo minha tutela e providenciando casa legal para me receber, eu não poderia deixar que ela nem sequer suspetasse de que todo o trabalho e todas as boas intenções haviam sido em vie que não faria a menor diferença caso ela tivesse me abandonado num orfan to pulguento qualquer.

O trajeto do aeroporto até a nova casa se resumiu a uma imagem embar lhada de sol, mar e areia. E quando Sabine me levou para o quarto no ande de cima, passei os olhos rapidamente pelo cômodo e balbuciei alguma free equivalente a um muito obrigada.

-Sinto muito por ter de deixar você aqui sozinha- ela disse, óbviamente ansiosa para voltar ao espaço organizado e seguro do trabalho, onde nada lembrava o mundo fragmentado de uma adolescente traumatizada E tão logo ela saiu, eu me joguei na cama, afundei o rosto entre as mãos e

desandei a chorar.

Até que alguém disse:

-Ah, tenha dó, olhe pra você! Por acaso já deu uma boa olhada neste lugar? Viu a TV de tela plana, a lareira, a banheira que faz bolhas? Alo-ou?

-Achei que você não pudesse falar- retruquei assim que virei o rosto

e deparei com Riley, que, aliás, usava um moletom rosa da Juicy, um par de

tênis dourados da Nike e uma peruca fucsia, dessas que a gente vê em boneca

chinesas de porcelana. Claro que posso falar, não seja ridícula ela disse, e revirou os olhos.

Mas das outras vezes...

-Eu só estava zoando você, algum problema? - Ela passeava pelo quarto enquanto falava,passando a mão sobre minha escrivaninha, dedilhando o iPod e o laptop novinhos em folha que Sabine havia deixado ali. - Mal posso acreditar que você agora tem tudo isso. Não é justo,caramba!- ela exclamou, com as mãos na cintura,as sobrancelhas franzidas. -Pior, você não está nem aí! Quer dizer, você já viu essa varanda? Pelo menos pensou em dar uma olhada nessa vista?

- Não quero saber de vista alguma- eu disse, cruzando os braço diante do peito e fulminando minha irmã com o olhar. - Está difícil engolir esse de quê você aprontou comigo, fingindo não saber falar.

Riley simplesmente riu e disse:

Deixa de drama, vai. - Ela atravessou o quarto, abriu as cortinas e
tentou destrancar a porta de vidro que dava para a varanda.
-E onde é que você descolou essas roupas?perguntei, examinando-a
da cabeça aos pés, ressuscitando nossa velha rotina de briguinhas bobas e mágoas intermináveis.

-Porque, primeiro, você aparece com minhas coisas e,
agora, está usando essas peças de marca. Sei que mamãe nunca comprou um
moletom da Juicy pra você.-
Ela riu.

- Por favor, como se eu ainda precisa se da permissão da mamāe, quando
posso simplesmente abrir o armário celestial e tirar de lá o que me der na
telha. E sem pagar nada!acrescentou, esboçando um sorriso.
- Sério? perguntei, meus olhos se arregalando e pensando que aquilo
parecia um ótimo negócio.
Mas Riley não fez mais que balançar a cabeça e apontar para a varanda.
-Ande, venha dar uma olhada em sua nova vista.
Obedeci. Levantei-me da cama, enxuguei os olhos com a manga da blusa
e, passando direto por minha irmā, fui rumo a varanda com seu piso de mármore, meus olhos arregalados com o que vi diante de mim.
- Por acaso isso é uma piada? perguntei. A paisagem à minha frente
era uma réplica exata do quadro com moldura dourada que Riley havia me
mostrado no hospital.
Mas quando virei para trás ela já havia partido.

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Reed sua desgraçada 🙄

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Para sempre as imortais - Wenclair G!P Onde histórias criam vida. Descubra agora