capítulo 5

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— POV: Selena

Quando eu acordei, a primeira coisa que eu fiz foi ir atrás de Cecília. Agora, porém, depois que ela saiu correndo da nossa discussão, acredito que eu sou a última pessoa que ela quer ver.

Eu perdi horas de sono ontem pensando no que havia acontecido, buscando momentos da festa que poderiam ter feito Cecília se sentir mal. De fato, eu cogitei que o fato de eu ter beijado outras pessoas poderia ter incomodado ela, mas agora sei que não é só isso. Ela ouviu a minha conversa com a Merlin e tomou as próprias conclusões.

Cecília tem toda razão em estar irritada comigo, afinal, eu falei merda. Mas não foi com esse sentido ruim e muito menos com essa intenção.

Me encosto no metal frio da escada do Hell Hotel. As meninas já saíram — exceto por uma ou duas que ainda estão dormindo — para resolver suas coisas, mas eu não estou com cabeça no momento. Por sorte, não tem nenhuma reunião ou novidade hoje, então talvez Cristal seja mais compreensiva com o fato de eu estar sentada sem fazer nada a mais de duas horas.

- Selena? — Escuto a voz de Renata e vejo ela no fim da escada.

Estava tão distraída com meus pensamentos que nem sequer percebi que ela havia chegado. Vejo Cristal acenar para mim de longe, guardando o carro.

Sinalizo para que Renata suba e sente ao meu lado, o que ela faz. Renata tem uma expressão levemente preocupada no rosto. Eu planejava conversar com ela mais tarde, tanto por ela ter ajudado e conversado com a Cecília, quando porque... bem, eu sempre falo dos meus problemas pra ela. É o meu porto seguro.

Cristal entra no quarto que ela divide com a Renata ao mesmo tempo que minha mãe alcança o degrau em que eu estou.

- Quer conversar? — Renata pergunta ao sentar um degrau acima do meu.

- Acho que sim — Eu falo, me encostando na sua perna e fechando os olhos — Eu fiz merda.

- Eu percebi — Ela fala — Me conta o que aconteceu.

- Achei que você já sabia.

- Eu sei da visão da Cecília, não da sua.

A frase me conforta, mas não tanto quanto eu queria. Eu posso ter a minha versão, mas nela eu também errei e magoei a minha... a Cecília.

- Eu não tinha muito o que falar, sabe? A gente tinha se beijado e aí ela falou da Cecília e soaria estranho se eu ficasse defendendo ela demais e- sei lá. Eu não quis dizer aquilo de uma forma ruim, é só que ela tem esse jeitinho, sabe? E eu gosto desse jeito, gosto muito. Eu não- eu não devia ter falado aquilo, foi uma merda e agora a Cecília tá puta e ela tem total razão de estar mas e-

- Selena, respira — Renata me interrompe e coloca uma mão no meu ombro, me acalmando — Eu sei que você não fez por mal, e no fundo a Cecília também deve saber. Ela só tá chateada porque enfim, não foi muito legal.

- Não foi nada legal — Eu falo.

- É, não foi nada legal. Mas é só vocês conversarem que vai dar certo. Mostra seu ponto de vista, fala que tá arrependida e vai dar certo.

- Não sei se é simples assim, mas eu vou tentar — Eu falo enquanto olho para a tela do celular, ainda sem notificações da Cecília — Ela não quis nem me atender.

- Ela precisa de um tempo, talvez. Espera pra tentar de novo amanhã — Renata fala e se levanta — Quer fazer alguma coisa pra se distrair?

Me deixa muito feliz saber que ela está se empenhando tanto para fazer com que eu me sinta um pouco melhor, mas acho que eu também preciso de um tempo só para mim.

- Hoje é o seu dia livre com a Cristal, vai lá. Se eu precisar de ajuda eu aviso — Eu falo.

- Tem certeza?

- Tenho, mamacita — Eu falo e, quando Renata sorri, faço o mesmo.

Não é um sorriso muito grande, mas é genuíno. Um sinal de que eu consegui relaxar pelo menos um pouco.

- Tá bem. Se cuida, Se. Qualquer coisa grita — Renata fala e desce as escadas.

Uns minutos depois que Renata já está no quarto, decido levantar e dar uma volta pela cidade. As vezes eu realmente gosto de dirigir, mesmo que seja sem rumo, apenas curtir a rua e o movimento.

Não sei por quanto tempo eu fico rodeando a cidade, só sei que quando paro em um posto para abastecer já está anoitecendo. E, nesse mesmo posto, tem outro carro. Ainda não deu o horário de assalto, então fico mais tranquila, mas ainda alerta.

Escuto barulhos de passos e vozes e olho para trás, vendo Tomate e Cecília saindo da lojinha do posto. Tomate me cumprimenta meio timidamente e Cecília apenas dá um "oi" seco sem olhar na minha cara ou sequer parar de andar. Antes mesmo de Tomate chegar ao carro, ela já está com a porta fechada.

Dar o espaço dela, foi isso que a Renata me disse. É isso que eu vou fazer. Eu errei, e agora ela precisa de um tempo para me perdoar. É isso.

Simples demais para ser verdade. Um dia se passa, e Cecília não retorna minha ligação. Mais um dia, ela está claramente me evitando em todo lugar e situação. Terceiro dia, na mesma. Quarto, quinto e sexto dia. De quanto tempo ela precisa?

Eu tento viver a minha vida normalmente, realmente tento. Só que eu não tinha percebido o papel que Cecília tem no meu dia a dia. Eu não posso randolar com ela em um dia livre, não tenho histórias para contar ao Maicon quando nos encontramos - e nem recebo mais as mensagens ciumentas e possessivas dela que, no fundo, eu sinto falta -, não tenho mais a minha parceira pra toda hora, e isso acaba comigo.

Não dá pra ficar desse jeito. Eu quero respeitar o espaço dela, mas assim não dá. Eu não tenho ideia de onde ela tá dormindo, de com quem ela tá quando não está com uma das Hells, como ela está lidando com o nosso afastamento... eu preciso resolver isso.

Amanhã é o Paredão da Furiosa, onde todo mundo obrigatoriamente vai estar. Dessa conversa você não vai escapar, Cecília LePavlov.

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OBSERVAÇÕES

Poxa Cecília perdoa a Selena vai...

não vou namorar - cecilenaOnde histórias criam vida. Descubra agora