capítulo 6

1.1K 126 87
                                    

— POV: Selena

     Todo esse planejamento do Paredão da Furiosa me ajudou a esquecer um pouco o meu problema com a Cecília, pelo menos um pouco. É sempre incrível, afinal. Escutar os planos de Mabel e observar a estrutura sendo formada me distraiu.

     Só que agora já é de noite e eu estou entrando na Garagem, faltando dez minutos para o início do evento. Cecília ainda não chegou. Pelo que eu ouvi, ela está trocando de roupa com Mafe e Hayley na casa da Mabel - que, por outro lado, já está aqui desde cedo. Xulia parece perceber que tem algo na minha cabeça porque logo que chego, ela me arrasta para um canto e me pergunta se aconteceu algo.

- Não aconteceu nada, só to ansiosa pro Paredão — Eu falo e ela arqueia uma sobrancelha.

- Tem certeza? — Xulia fala e olha ao redor — Olha, se for por causa da sua situação com a Cecília, eu ouvi dizer que ela tá sentindo muito sua falta.

     Finjo naturalidade, como se não ficasse extremamente feliz com a afirmação.

- Não enche, Xulia — Eu falo e ela ri — Vem, já tem gente chegando.

     Xulia me segue enquanto voltamos ao centro da Garagem, iluminado pelas luzes fortes do palco. Os Marabuntas chegam primeiro, assim como na maioria das vezes. Mesmo que Tex não esteja mais com a Cristal, nossa aliança permanece.

     Cristal avisa no rádio para as meninas que ainda não estão aqui se apressarem. Enquanto elas não chego, decido aproveitar o início da festa. Sempre começamos com pop internacional o que, apesar de eu gostar muito, não tem a mesma animação de um funk dos anos 2000.

     Pego algumas das bebidas rosas que Cristal disponibilizou e vou em direção ao palco, onde algumas Hells já estão se posicionando para alguma dança sincronizada.

     Me distraio tanto com a dança e o passar das músicas que demoro para perceber que todas as meninas já chegaram e que Cecília está conversando com Tomate, um pouco distantes do palco.

     Desço da plataforma e aproveito a multidão para me esconder e tentar ouvir a conversa dos dois. Com a música alta e a mistura de vozes, tenho certa dificuldade para entender o que eles estão falando, mas consigo captar algumas frases.

- Sem rosa na boca hoje, não tô no clima — Escuto Cecília falar, segurando uma rosa na mão.

     Antes que eu possa ouvir a resposta de Tomate, alguém esbarra nas minhas costas, me fazendo dar uns passos para frente e ficar exposta.

- Opa, Tomate. Cecília — Eu falo alto, recuperando o equilíbrio — É... aproveitando a festa?

     Odeio soar idiota assim.

- Tamo sim — Tomate fala meio sem jeito, desviando o olhar entre Cecília e eu — É- eu vou ali com a Cora, vocês conversem aí.

- Tomate, espera! — Cecília fala, mas Tomate já passou entre umas pessoas vestidas de roxo e sumiu de vista.

     Cecília se vira para mim e abaixa a mão com a rosa, levantando a outra e dando um gole na bebida. Eu tomo coragem e me aproximo.

- A gente precisa conversar mesmo — Eu falo alto para que ela escute e ela concorda com a cabeça — Vem, não dá pra escutar direito aqui.

     Ando para longe do palco, olhando para trás algumas vezes para garantir que Cecília está me seguindo. Penso em apenas ficar perto de onde guardamos os carros, mas decido leva-la até a parte de trás, próximo da escada que dá para o letreiro.

     Cecília se encosta em uma parede e cruza os braços. Eu paro na frente dela e ficamos em um silêncio desconfortável até que eu consigo fazer as palavras saírem.

não vou namorar - cecilenaOnde histórias criam vida. Descubra agora