— POV: Selena
Cecília chega mais rápido do que eu pensava. Aceno brevemente para Tomate - com quem eu já sabia que ela estava - antes de Cecília entrar no quarto e eu fechar a porta.
Acho que nenhuma de nós duas sabe muito bem como agir nessa situação. Para ser sincera, eu mandei aquela mensagem para Cecília no impulso. Passei o dia pensando em como ela havia falado que me amava e, naquele momento, sem saber quando ela iria decidir falar comigo, acabei soltando aquela pedrada. Eu nem tenho certeza se ela quis dizer da forma romântica mas, se não fosse, por que ela sairia correndo e me evitaria por horas?
Talvez eu esteja mais em pânico ainda porque ainda não processei totalmente os meus sentimentos. Eu venho sentindo tudo isso a muito tempo mas só consegui admitir isso para mim mesma hoje, pouco tempo antes de ir buscar Cecília na cadeia. Acho que foi por isso que eu agi daquela forma no carro. Eu não queria deixar os meus sentimentos transparecerem, mas acabei sendo uma idiota com ela e... bem, deu no que deu.
Tento me concentrar no que está acontecendo no momento. Falo para Cecília sentar no sofá e eu me sento ao seu lado, me sentindo estranha por esse ser o mesmo lugar em que, horas atrás, eu cheguei a conclusão que nos trouxe até aqui.
- Então... acho que a gente precisa conversar né? — Eu falo e ela assente.
- É né... — Cecília fala e nós ficamos em silêncio novamente até que eu tomo coragem para iniciar o assunto.
- Desculpa pela forma como eu agi mais cedo. Eu... eu tava com muita coisa na cabeça e acabei descontando em você.
- Eu entendo mas, sabe, você pode falar comigo quando precisar. Sabe disso né? Mesmo que você não queira conversar, você pode me falar que não que falar sobre, que só quer companhia... ou até se quiser ficar sozinha também. Eu quero que você seja sincera comigo, tá ligado? — Cecília fala.
- Eu sei. Eu confio muito em você, Cecília. De verdade. Desculpa mesmo.
- Tá tudo bem — Ela pausa — A gente tá de boa então?
Acho engraçado - e até um pouco fofo — como ela faz essa pergunta, como se não importasse o que aconteceu contanto que nós fiquemos bem uma com a outra. E nós estamos, mas ainda temos mais camadas pra discutir.
- Claro que a gente tá — Eu falo e ela sorri — Mas... sobre algumas outras coisas...
- Outras coisas? — Ela pergunta, parecendo ficar nervosa.
- Você sabe... sobre umas palavras que foram faladas...
- É... a gente falou, é... coisas.
- Cecília — Eu chamo sua atenção — Você... você realmente queria dizer aquilo? Tipo, no sentido que eu tô pensando?
- Aquilo... o que?
Não sei se ela realmente não entendeu ou se só está tentando fugir da pergunta. As duas coisas são bem a cara da Cecília, mas nesse caso acho que não tem como ela não saber do que eu estou falando.
- Cecília, você sabe. Só me responde, por favor.
Cecília fica uns segundos em silêncio até que ela assente levemente, um movimento quase imperceptível, e murmura algo que não consigo entender.
- O que? — Eu pergunto.
- Sim — Ela repete.
- Sim, você queria dizer aquilo?
- É- eu- eu não queria falar aquilo naquele momento mas... er... é verdade — Ela fala sem olhar para mim.
- No sentido que eu estou pensando? — Eu pergunto, precisando ter exata certeza do que ela está dizendo.
- Eu não sei qual o sentido que você- — Ela olha para mim e acredito que percebe minha expressão, porque logo reformula a frase — É, acho que é sim...
- Tá... entendi.
É uma resposta horrível, mas eu não sei o que dizer. Como reagir ao saber que a pessoa por quem eu estou apaixonada aparentemente também está apaixonada por mim? Me sinto uma adolescente falando assim mas... é complicado.
Cecília ainda é uma das minhas melhores amigas, minha colega de trabalho e, ultimamente, a minha parceira para todos os momentos. E, coincidentemente, uma garota que eu beijei algumas vezes e percebi que talvez eu ame ela desde antes de termos ficado pela primeira vez. É confuso pra caralho.
- Selena... — Cecília fala e eu lembro que ainda estamos no mesmo cômodo — E você?
- Eu o que?
- Você quis dizer aquilo?
Pode ser apenas uma ilusão, mas acho que vejo certa insegurança nos seus olhos, como se ela precisasse ouvir a minha resposta. Na verdade, como se ela não acreditasse que a minha resposta vai ser a mesma que a dela.
- Sim — Eu respondo e vejo seus ombros relaxarem, apesar de manter um olhar nervoso.
Caímos em um silêncio novamente, apenas por alguns minutos mas que, nesse clima em que estamos agora, parecem demorar muito mais do que realmente demoraram.
- A gente tá bem né? — Cecília pergunta.
- Eu já te disse que a gente tá. Não precisa se preocupar com isso — Eu falo e involuntariamente seguro sua mão, sentindo seus dedos tremerem um pouco com o toque repentino.
- Era... só pra ter certeza — Cecília fala e e move sua mão para apertar a minha — Não conseguiria ficar longe de você.
Sua expressão deixa claro que ela falou isso sem pensar. Seguro a risada, mas deixo um sorriso se formar e aperto sua mão de volta.
- E você não vai — Eu falo e fico feliz ao ver ela sorrir com um brilho evidente nos olhos — Mas e aí, quer fazer uns assaltos e treinar sua fuga?
- Ai meu Deus — Ela ri — Se eu bater seu carro eu não me responsabilizo viu?
- Ah, é assim? — Eu falo e nós rimos juntas.
Levanto e puxo Cecília para fora do sofá, determinada a fazer uma última coisa antes de sair para as bandidagens.
Com um simples aperto na cintura e um sorriso da forma certa, Cecília entende o que eu quero e acaba com a distância entre nós. Beijar ela agora tem uma sensação um pouco diferente, como se fosse mais... real.
Mordo seu lábio inferior antes de nos separarmos e depois zombo do seu sorrisinho idiota, me virando para pegar a chave do carro.
Não sei o quanto a nossa dinâmica vai mudar a partir de agora. Não sei as consequências de um "eu te amo", ainda mais quando não foi dito da forma convencional. Normalmente essa frase é seguida de um namoro, ou até vem depois dele. Mas... a gente não... eu não sei.
Cecília sempre teve seu discurso de que não era uma mulher de namorar, e nos últimos tempos eu tenho concordado com ela nesse ponto. Não é porque nós estamos tendo esse lance e revelando alguns sentimentos que nós precisamos namorar? Eu nem sei se é isso que eu quero.
Além disso, eu ainda não me acostumei totalmente com o que eu tô sentindo. Depois da conversa com a Cristal eu me toquei que estava enganando a mim mesma e percebi que, de fato, nós não somos só amigas. Agora, depois de "assumir" isso pra própria Cecília, é um impacto maior ainda.
Não que seja ruim... só é confuso. Ainda assim, é uma sensação boa. Ver ela sorrindo assim, saber que eu amo ela e, aparentemente, ela sente o mesmo... é uma sensação muito, muito boa.
Mas eu não vou namorar- é, claro que não.
___________________________________
OBSERVAÇÕESSim, eu também acho frustante isso de falar que ama e depois ignorar a situação, mas calma! Paciência!
VOCÊ ESTÁ LENDO
não vou namorar - cecilena
FanficOnde após o fim da regra de relacionamentos e a oficialização de crisnata, Selena e Cecília pensam cada vez mais sobre os próprios sentimentos.