Nota: Essa é inspirada na música Quadro de Vidro, do Bryan Behr.
P.o.v. Jão
Olho para o lado atentamente antes de entrar na locadora.
Vejo o Corsa estacionado e meu peito acelera.
Cumprimento o atendente com um sorriso e caminho entre as prateleiras até a sessão de filmes de ação.
Ele está concentrado na prateleira, mas sei que me viu me aproximar.
Pedro: — Já viu esse aqui? — Me pergunta, mostrando a capa de um filme.
Era nosso código, significava: "Que bom que chegou"
Jão: — Gosto bastante, recomendo. — Respondo.
Mas significa: "Estou feliz em te ver"
Pedro: — Acho que vou levar esses. — Ele diz por fim.
E significa: "Vamos!"
Olho pra a quantidade de filmes que ele tem em mãos, três fitas, abro um sorriso.
Porque significa que temos bastante tempo hoje.
Pedro e eu nos conhecemos aqui mesmo, nessa locadora, a única da nossa pequena cidade. Ele é um dos clientes mais fiéis e eu, bom, entrei aqui com o pretexto de alugar um filme cristão para me desculpar com meus pais por não ir à missa em uma noite.
Esse virou nosso ponto de encontro, ele me indicou filmes e me ensinou coisas como sempre alugar no sábado pra pagar uma diária e ainda assim devolver apenas na segunda.
Pedro me ensinou outras coisas, que bem, não envolviam apenas locadoras.
Com os filmes em mãos, ele saiu primeiro, dei mais uma volta pelos corredores e então saí também, com meus filmes, claro, e eu me dirigi à rua de trás, pra só aí entrar no carro.
Bato a porta, fecho o vidro e, antes que qualquer um de nós diga algo, beijo ele.
Um beijo mais rápido do que gostaríamos, não estamos em uma rua tão deserta assim, ainda assim, nossas bocas descolam devagar, como se protestassem o distanciamento.
Pedro: — Estava com saudades... — Ele sussurra contra meus lábios...
Jão: — Eu também estava. — Deixo um selinho nos seus lábios antes de me ajeitar no banco. — Pra onde vamos?
Pedro: — Que tal o parque? — Ele sorri.
Jão: — Pode ser. — Sorri de volta. — Mas você bem que podia ter me deixado te levar de moto... — Toco a mão dele.
Não que eu não prefira andar de carro, mas andar de moto é o único jeito socialmente aceitável de ficarmos bem próximos, agarrados, pra ser preciso, sem ninguém desconfiar.
Pedro: — Tenho alguns outros planos hoje... — É tudo que ele diz antes de dar a partida no carro.
Pedro dirige sem pressa pelas ruas vazias, o sol começa a se pôr.
Jão: — Esses dias, minha irmã levou o namorado novo pra ver filme lá em casa. — Comento. — Eles ficaram agarrados no sofá comendo pipoca a tarde inteira... — Suspiro. — Queria que pudéssemos fazer isso.
Pensei em nós dois nos beijando ao som do videocassete, pausando o filme pra não perder nada, no Pedro reclamar de algum furo de roteiro e eu só balançar a cabeça porque não entendo nada dessas coisas.
Ele me olha de canto e toca minha mão.
Pedro: — Um dia nós vamos poder.
Pedro tem uma certeza estranha na voz, me pergunto o que mudou.