Julgamento: Parte II

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— Testemunha Penélope Linhares, conte sua visão da história.

Nunca imaginei voltar a vê-la depois de 10 anos, minha cuidadora desde que fui parar naquele abrigo, a mesma mulher que quis me afastar dos meus amigos e que quis me ajudar sobre sua visão da história. Me lembro da última vez que nos vimos, eu tinha 13 anos mas naquela época pensei que ela era cruel, ela queria me afastar dos meus irmãos por causa dos meus problemas de raiva mas agora percebo que ela apenas queria o melhor pra mim.

— Por Deus... como vocês estão crescidos..‐ Ao contrário do que eu pensava ela disse isso com lágrimas nos olhos completamente emocionada por me ver outra vez.— A última vez que vi vocês quatro eram todos uns meninos...

— Senhora Penélope, porfavor apenas relate sua história com eles.

— Sim senhor juiz... bem, fui diretora do abrigo onde esses meninos cresceram. Eles sempre foram muito unidos desde que se conheceram quando crianças, mas Zayan em específico sempre foi o mais rebelde.

Ela fez parte da época mais pura da minha vida, minha mãe havia me abandonado e eu nem sequer me lembro do rosto dela. Mas dona Penélope por um certo tempo foi minha mãe, ela me conhecia bem e sabia que eu não fazia tudo aquilo por mal.

— Ele pregava peças nos outros meninos, nos professores que davam aulas de graça como ação social e até mesmo em mim algumas vezes...

— Então a senhora admiti que ele sempre foi problemático?

— Não diria essa palavra, ele apenas era uma criança criativa não fazia por mal... mas começou a ficar intenso na adolescência, confesso que parte disso foi minha culpa eu devia ter imposto os limites mas não pensei que fosse avançar tanto a ponto de...

Ela parecia decepcionada em me ver preso, aquilo doeu meu coração porque eu realmente me importo com o que ela pensa sobre mim. Quero que ela acredite que sou um bom homem e que tudo que fiz foi por um bom motivo mas fica difícil me explicar com meu histórico conturbado.

— Disse que os viu pela última vez a dez anos?

— Sim, foi a dez anos..

— Me conte como aconteceu.

— Os fiscais do abrigo relataram que Zayan juntamente com os outros estava causando muita confusão então me obrigaram a mudar ele de abrigo... ele era um menino então quando contei a ele obviamente ele não reagiu com maturidade.

— Ele fugiu do abrigo?

— Sim, naquele mesmo dia... disse a ele que tentaria o colocar em um orfanato mas ele entendeu errado... eu queria adotá-lo...

Eu não fazia ideia disso... ela me disse que me colocaria em um orfanato pra que eu encontrasse uma boa família mas jamais imaginei que ela queria me adotar. Não pude evitar minha surpresa e frustração com a descoberta, minha mente imaginou vários cenários onde talvez minha realidade atual fosse diferente.

Eu teria uma família e não estaria preso hoje se não tivesse agido por impulso naquele dia... obriguei os meninos a fugir comigo por medo e agora me arrependo amargamente da minha escolha.

— Ah rapaz... sei o que deve estar pensando mas não se culpe, você era uma criança e fez a escolha que qualquer criança faria... infelizmente o destino não quis você como meu filho mas espero que saiba que pensei em você todos os dias durante 10 anos da minha vida.

Eu queria gritar, chorar e por pra fora tudo que estava sentindo agora... tudo bem, eu tenho uma família no fim das contas mas tudo poderia ter sido tão diferente.

— Tudo bem acho que já foi o bastante, Zayan tem algo a dizer?

— Sim...

Engoli meu choro preso tentando conseguir forças pra falar, eram tantas coisas que eu não sabia por onde começar mas queria ser honesto com essa senhora que um dia me amou como filho.

— Eu tenho uma filha agora... e um bebê que está a caminho..- Disse apontando para Sky e Aurora que estava no banco bem atrás de mim e dona Penélope ficou ainda mais emotiva.— E como pai agora depois de tanto tempo eu queria pedir desculpas pela forma imatura como eu agi com a senhora.

— Ah querido você não precisa...

— Não por favor... não tente justificar.. eu era mesmo uma criança mas deveria saber que a senhora queria o melhor pra mim, eu podia sentir seu amor e mesmo assim escolhi fugir e olha onde estamos agora... porfavor acredite que eu não sou uma pessoa ruim, apenas fiz escolhas ruins..

Não pude conter minhas lágrimas ao ver a esperança em seu olhar, ela acreditava em mim mesmo depois de tantos anos sem estar por perto ela acreditava e era só isso que me importava.

— Papai não chora...

Ouvi a voz da Aurora bem atrás de mim e me apressei em enxugar minhas lágrimas porque não queria que ela me visse assim.

— Tudo bem querida, eu tô bem...

O tribunal ficou em silêncio por um tempo até que o juiz decidiu falar alguma coisa, eu já estava sensível demais com toda essa situação e só queria que tudo isso terminasse o mais rápido possível.

— Acho que precisamos de uma pausa de 15 minutos, vamos voltar daqui a pouco.

Ele se levantou pra sair juntamente com o júri, minha maior vontade era de abraçar e beijar minha filha e minha mulher mas precisei me conter quando o advogado me segurou para não fazer isso.

— Eu amo vocês...- Disse a elas mesmo de longe enquanto me afastava.

— Também amamos você, vai dar tudo certo..

— Eu te amo papai.

Ouvir das duas como elas me amavam me dava mais esperança, não sei se a resposta do juiz vai ser o esperado mas de qualquer forma já me sinto extremamente grato por ter uma família.

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