Julgamento: Parte I

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— Se tudo der certo hoje o papai volta pra casa..

— Mamãe posso ir no julgamento?

— Já conversamos sobre isso minha pequena, é um lugar de adulto..

— Não faço bagunça mamãe eu prometo, porfavor, porfavor!

Olhei para o Ted e ele me encarou da mesma forma, Aurora tem me pedido desde ontem quando soube do julgamento. Ela não dormiu a noite toda ansiosa e eu sei que se for não vai causar nenhum problema mas tenho medo da resposta do juiz não ser o que nós esperamos.

Ted apenas assentiu concordando e eu não pude mais negar a ela isso, é o julgamento do pai e ela merece estar presente em um momento tão importante.

— Tudo bem... mas você precisa saber que pode levar horas.

— Vamos logo mamãe!

— Ei não sai correndo ainda precisa me escutar.

Ela parou de correr no meio do caminho como sempre fazia quando estava animada com alguma coisa.

— Vão ter muitas pessoas lá julgando seu pai, muitas coisas são mentiras mas muitas coisas também são verdade.. não quero que tenha uma visão ruim do seu pai por tudo que ele fez.

— Eu sei que ele fez coisas ruins mamãe, ele me disse.

— Eu sei mas ouvir de outras pessoas é diferente, eles estão lá pra julgar seu pai e vão falar tudo de forma ruim pra condenar ele... apenas não deixe isso afetar você entendeu?

— Entendi mamãe..

— Tudo bem, agora vai pro carro.

Meu coração estava apertado, não queria que Aurora presenciasse o julgamento mas ela é uma garota doce e compreensiva. Ela passou por um massacre e viu tantas pessoas mortas mas mesmo assim isso não a afetou como eu pensei que afetaria.

Durante o caminho até o tribunal o bebê não parava de mexer na minha barriga, ainda não me acostumei com isso mas a sensação de ter uma parte dele dentro de mim me deixava tranquila. Eu gosto de estar grávida mas gostaria ainda mais se ele estivesse aqui pra dividir esses momentos comigo.

— Chegamos Sky.

— Vamos sentar juntos na primeira fileira, Aurora tudo bem pra você?

— Sim mamãe..

— Ótimo, então vamos entrar.

O julgamento levaria cerca de 3 horas, o juiz ouviria testemunhas e depois julgaria os fatos. Eu estava nervosa e ansiosa o advogado me proibiu de visitar Zayan nas últimas duas semanas e nem mesmo pude contar a ele o sexo do nosso bebê que descobri na semana passada.

Quando entramos já haviam várias pessoas ali, como pensei Aurora se assustou e se agarrou em mim com medo e eu a segurei mais forte para dar confiança.

Nos sentamos na primeira fileira de frente a mesa do juiz apenas aguardando a entrada de todos eles e quando eu menos esperava as portas se abriram.

O primeiro a entrar foi Ângelo algemado, Aurora sorriu pra ele animada e o mesmo também não pôde evitar o sorriso ao vê-la, com certeza ela é o ponto fraco de todos eles.

Logo depois acompanhados pelos guardas vieram Dimas e Max, se sentaram ao lado do Ângelo olhando pra mim vez ou outra podia ver que estavam nervosos.

Não levou muito tempo até que Bruno e Zayan também apareceram e Aurora ficou ainda mais agitada, ela apertou minha mão com força com os olhinhos cheios de lágrimas enquanto sorria pra eles e os dois a encaravam com o mesmo ânimo e afeto.

Sentados ao lado dos outros a sala ficou um completo silêncio até que o juiz do caso entrou, todos se levantaram para recebê-lo e quando ele assumiu a posição nos sentamos outra vez pra ouví-lo falar.

— Vamos ouvir algumas testemunhas importantes no caso de hoje, espero que possamos chegar a uma decisão até o fim do julgamento mas se não, vamos adiar.

Eu precisava de uma resposta pra hoje, já estava esperando por isso a seis longos meses e não podia esperar mais.

— A primeira testemunha pode entrar.

Não fazia ideia de quem eram as pessoas que iriam depor então quando um homem entrou eu não sabia quem era. Mas por outro lado Bruno parecia conhecer, ele olhou pra mim de relance e suspirou, ele não é um homem que se abala então quem seria aquela testemunha?

— Porfavor se apresente ao júri.

— Meu nome é Luiz Santoro, fui o primeiro patrão do Bruno quando ele tinha apenas quinze anos.

Agora entendia o porquê Bruno pareceu surpreso, isso era uma parte antiga da vida dele e mesmo assim o juiz foi ácido o suficiente pra trazer alguém daquela época para julgá-lo.

— Conte sua história com ele.

— Ele me pareceu um mini adulto quando chegou pra trabalhar comigo na minha oficina. Chegou lá com uma menina pequena e um bebê nos braços, perguntei a ele quem eram e ele disse que os pais haviam morrido.

Eu conheço a história mas ouvir de outra pessoa me parece muito mais intenso, não pude evitar as lágrimas que surgiram nos meus olhos só de imaginar o que Bruno deve ter passado.

— E o que você fez?

— Ele me pediu trabalho, apenas isso.. ele não me pediu teto, nem comida, nem roupas.. ele me pediu trabalho e eu dei o trabalho.

— Então o que houve depois?

— Algumas semanas depois eu perguntei onde ele deixava o bebê enquanto ia trabalhar e ele não me respondeu, comecei a segui-lo no caminho de volta pra casa e foi quando notei que ele já não estava com o bebê apenas com a outra menina, eles dois estavam morando em um ferro velho abandonado e como eram duas crianças e eu não sabia pra onde ele havia levado o bebê eu denunciei o caso as autoridades.

Com certeza Bruno já tinha me levado pro orfanato quando isso aconteceu, ele não podia ir para um abrigo com Sarah do contrário toda a informação do tráfico infantil voltaria às mãos do Nolan.

— Ele fugiu assim que viu a viatura e depois disso nunca mais o vi até agora.- o homem olhava pra ele com um peso grande, dava pra ver que sentia um carinho pelo Bruno.— Sinto muito por estar nessa situação rapaz, eu só queria te ajudar.

— Tudo bem, acho que já ouvi o suficiente...- O juiz disse calando o homem.— Bruno tem algo a dizer?

— Sim, eu tenho.- meu irmão se levantou e respirou fundo encarando o homem a sua frente.— Obrigado, eu sei que fez tudo aquilo com uma boa intenção mas era tudo complicado demais pra resolver com uma denúncia.. sobre o bebê bem, ela está bem aqui.

Bruno apontou pra mim e o homem me encarou deixando suas lágrimas escorrerem no mesmo instante, como é possível alguém que nem mesmo conheço sentir tanto carinho por mim a ponto de chorar por me ver bem?

— A levei pro orfanato exatamente por não ter condições de criá-la naquela época mas nunca me afastei dela senhor Luiz, infelizmente minha outra irmã não teve a mesma sorte mas deixou comigo minha preciosa Aurora... acredite a fé que o senhor depositou em mim eu nunca vou esquecer.

Aquilo foi... inexplicável.. de alguma forma esse senhor foi o primeiro e único exemplo de pai que o Bruno teve, ele o ofereceu emprego e mesmo sem saber o que estava acontecendo tentou ajudar, Bruno parece ser extremamente grato a ele e se esse homem foi capaz de tanto por nós então eu também estou grata.

O homem se retirou dali ainda chorando e então o juiz voltou sua atenção ao caso.

— Próxima testemunha, pode entrar.

Já havia notado que o juiz queria saber a raiz do problema, todos eles são procurados desde crianças então não me surpreendi quando outra pessoa desta vez uma mulher mais velha entrou, mas ao contrário de mim Zayan e os meninos pareceram surpresos. Eles conheciam aquela mulher mas, quem seria ela?

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