Acordei com o sol da manhã acariciando meu rosto, os raios penetrando pela fina camada de tecido da tenda improvisada. Meu corpo doía, cada músculo parecia ter sido esculpido por uma lâmina afiada. Abri os olhos lentamente, piscando contra a luz. A primeira coisa que vi foi Leonnar sentado ao meu lado, seu rosto marcado pela preocupação. Ele deu um leve sorriso quando percebeu que eu estava acordando.
- Bom dia, dorminhoca. - Ele disse, tentando soar animado, mas a preocupação ainda presente em sua voz era inegável. Eu tentei me sentar, mas a dor era excruciante. Leonnar rapidamente colocou uma mão no meu ombro, me ajudando a me levantar devagar.
- O que... o que aconteceu?
Minha voz saiu fraca e rouca, ainda sentia um cansaço mesmo tendo dormido...nao sabia por quantos dias.
- Você nos salvou, Natasha. - Ele falou com um orgulho que eu não estava acostumada a ouvir em sua voz. - Usou seus poderes e espantou aquelas coisas.
Eu assenti, lembranças fragmentadas da batalha retornando lentamente. Minha mente se voltou para Artemys.
- Onde está Artemys? - Perguntei, a urgência crescendo dentro de mim. Leonnar apontou para o lado oposto da tenda, onde Artemys estava deitado, ainda inconsciente. Meu coração apertou ao vê-lo tão vulnerável. Com esforço, me levantei e caminhei até ele, cada passo uma tortura.
Toquei a mão de Artemys, fria e imóvel. Fechei os olhos, concentrando-me em enviar qualquer energia que me restasse para ele. Não sabia se isso ajudaria, mas eu tinha que tentar. Senti uma leve pulsação sob meus dedos, um sinal de que ele ainda estava ali, lutando.Depois de algum tempo, me levantei e voltei para a minha cama improvisada. Leonnar me ajudou a deitar, e eu sabia que precisava descansar para me recuperar completamente.
Os dois dias seguintes passaram em um borrão de dor e sono. Meus sonhos eram preenchidos com sombras e fogo, e as palavras da minha avó ecoavam em minha mente.
Eu era uma fênix. Eu tinha que confiar em mim mesma.
No terceiro dia, acordei sentindo-me um pouco mais forte. Ainda havia dor, mas agora era algo que eu podia suportar. Leonnar me trouxe água e algumas frutas, e eu comi lentamente, saboreando cada mordida como se fosse um banquete.- Estamos quase na Montanha da Alvorada. - Leonnar informou enquanto eu comia. - Mais um dia de caminhada, talvez dois.
Assenti, sentindo a determinação crescer dentro de mim. Precisávamos conseguir a semente, e eu estava pronta para enfrentar qualquer desafio que surgisse.Quando finalmente deixamos o acampamento, me senti estranhamente calma. Artemys estava ao meu lado, ainda um pouco pálido, mas determinado. Caminhamos em silêncio por um tempo, o som de nossos passos e os ruídos da floresta preenchendo o ar.
Sentia que precisava falar alguma coisa, mesmo que não fossemos as melhores pessoas juntas, eu ainda me preocupava com ele e aquele leve sentimento dentro de mim necessitava para ouvir sua voz novamente.- Como você está se sentindo?- Perguntei a Artemys, quebrando o silêncio finalmente.
- Melhor, graças a você. - Ele respondeu, um sorriso fraco surgindo em seus lábios. - Eu... não sei como agradecer.
- Não precisa. - Respondi, tentando parecer confiante. - Estamos nisso juntos.
Continuamos caminhando, e eu comecei a notar a paisagem mudando. As árvores se tornavam mais esparsas, e o terreno mais rochoso. Sabíamos que estávamos nos aproximando da montanha.
O sentimento de ansiedade percorria por mim novamente, parecia que quanto mais próximos chegavamos, mais esse medo aumentava. Eu não sabia o que poderia esperar afinal, o portal como seria? Talvez algo evidente demais com uma placa dizendo que era a entrada para outro lugar, ou algo tão disfarçado que nunca seríamos capazes de descobrir. Odiava pensar em tudo isso, mas era quase impossível quando estávamos começando agora nossa jornada e tendo um objetivo em mente.Sequer notei quando Aric apareceu ao meu lado, seu cavalo trotando junto a Midnight e nos deixando pertos o suficiente. O som de sua voz me chamando me fazia virar o rosto rapidamente em sua direção, mas antes que eu pudesse ter a chance de falar qualquer coisa, inconscientemente me virei novamente e notei que Artemys já havia sumido do meu lado.
Uma pontada de tristeza me percorreu com isso, eu não conseguia compreender o motivo. Ele me odiava e tudo bem que eu não via razões para isso, mas ainda assim. Eu precisava deixar tudo de lado e focar no príncipe e futuro rei, eu teria um futuro com ele e se a hora de construir qualquer coisa era agora.
- Eu estava dizendo que você foi muito corajosa, nos ajudando. Nosso reino está nas mãos da rainha certa. - Ele comentou com uma felicidade genuína, um sorriso surgiu em meu rosto mas sabia que era forçado. A palavra "rainha" nunca me causou tanta náusea quanto aquele momento. Eu seria sua rainha e o ajudaria em tudo, tudo isso em troca da minha liberdade sobre algo que eu era inocente.
- Tenho certeza que seremos ótimos juntos.
Foi a única coisa que eu era capaz de dizer, antes de virar meu rosto pra frente e continuar meu caminho ao seu lado, como se fosse minha obrigação.
E talvez era, afinal eu seria sua rainha e esposa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coração de Bruxa
ФэнтезиE quando a guerra se aproxima e o inimigo se fortalece, a única escolha que resta é se juntarem. Natasha, Artemys e Aric devem seguir um caminho em busca dos elementos para poderem derrotar o mal. Mas o que fazer quando tudo se torna um verdadeiro c...