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Caminhávamos em silêncio, o Reino dos Elfos nos envolvendo em sua majestade quase surreal. O ar ao nosso redor era carregado de magia, e eu podia sentir a energia vibrante de cada folha, cada galho, e até mesmo do solo que pisávamos. Apesar de tudo, havia algo estranho em Artemys. Seus passos eram mais cautelosos do que de costume, e ele parecia constantemente olhar ao redor, como se esperasse que algo saltasse das sombras a qualquer momento. Eu me esforçava para ignorar a presença dele e a estranha sensação que brotava em meu peito sempre que nossos olhares se encontravam.

Aric continuava a caminhar à frente, aparentemente despreocupado, como se estivesse em um passeio tranquilo. Ele parecia alheio à tensão que pairava entre Artemys e eu, ou talvez estivesse apenas fingindo não notar. Seus olhos brilhavam de entusiasmo enquanto explorava o novo ambiente. O príncipe era muito diferente de Artemys, com sua leveza e alegria, mas isso não diminuía sua habilidade em combate ou sua determinação em completar a missão.

Enquanto avançávamos, percebi que o terreno ao nosso redor estava mudando. As árvores estavam mais próximas umas das outras, formando um denso emaranhado de raízes e galhos que dificultavam a passagem. A luz suave que iluminava o lugar também parecia estar diminuindo, criando sombras longas e ameaçadoras que se arrastavam pelo chão. A magia no ar parecia mais densa, quase sufocante, como se o próprio reino estivesse nos observando.

Depois de um tempo que pareceu interminável, encontramos uma clareira. O solo aqui estava coberto de uma grama macia e verdejante, e no centro da clareira havia um pequeno riacho de águas cristalinas que corria suavemente, emitindo um som tranquilizador. Árvores frutíferas se erguiam ao redor, seus galhos carregados de frutas brilhantes e suculentas.

— Vamos descansar aqui por um tempo — Sugeriu Aric, apontando para o riacho. — Podemos reabastecer nossas forças antes de continuar a busca pela semente.

Artemys e eu trocamos um olhar rápido, mas nenhum de nós se opôs. A viagem pelo portal e a tensão constante tinham cobrado seu preço, e a oferta de descanso e comida era tentadora. Nos aproximamos do riacho, e eu me ajoelhei para beber da água. Ela era fria e refrescante, com um leve gosto adocicado que revitalizou minhas energias imediatamente. Artemys, a contragosto, fez o mesmo, mas seus olhos nunca paravam de observar ao redor, em busca de possíveis ameaças.

— Nunca imaginei que estaríamos em um lugar como este — Comentei, tentando aliviar um pouco da tensão. — O Reino dos Elfos parecia algo distante, como uma história que se conta para crianças.

— As lendas geralmente têm algum fundo de verdade — Respondeu Aric, enquanto mordia uma fruta. — E parece que essa verdade é muito mais mágica do que qualquer um de nós imaginava.

— Não abaixe a guarda — Artemys interrompeu, a voz firme. — Este lugar pode parecer bonito, mas estamos em território desconhecido. Não sabemos o que pode estar nos esperando.

Eu quase revirei os olhos, mas me contive. Por mais irritante que ele pudesse ser, Artemys tinha razão. Estávamos longe de casa, em um lugar onde não sabíamos quem era amigo ou inimigo. Mesmo assim, havia algo na forma como ele falava, como se estivesse tentando me proteger, que eu não conseguia ignorar.

O silêncio entre nós era quase palpável, e eu sabia que todos estavam sentindo a mesma tensão. Terminei de beber e me levantei, sentindo a energia renovada percorrer meu corpo. Aric se aproximou com algumas frutas em mãos, oferecendo-as a mim e a Artemys.

— Precisamos de toda a energia que conseguirmos — Ele disse com um sorriso, tentando animar o grupo.

Aceitei uma fruta, mordendo-a com cuidado. O gosto era doce e refrescante, e senti minhas forças retornarem com mais vigor. Artemys, relutante, aceitou outra fruta e comeu em silêncio. Mesmo naqueles pequenos gestos, a tensão entre nós parecia aumentar. Era difícil ignorar o peso da missão que tínhamos pela frente, e mais difícil ainda ignorar o que estava mudando entre nós.

Depois de alguns minutos de descanso, levantamos e continuamos a caminhada. A floresta parecia se fechar ao nosso redor, as árvores cada vez mais densas e as sombras mais profundas. Não havia sinal de nenhum elfo, e isso apenas aumentava minha inquietação. Eu sabia que o Reino dos Elfos era vasto e cheio de segredos, mas a ausência de qualquer vida além da nossa era desconcertante.

À medida que avançávamos, comecei a notar pequenas mudanças no ambiente. As folhas das árvores pareciam mais escuras, quase prateadas, e o ar estava mais pesado, carregado de uma magia que eu mal conseguia identificar. O silêncio era profundo, quebrado apenas pelo som de nossos passos e da respiração controlada de Artemys.

Estávamos em uma dessas clareiras quando de repente algo mudou. O ar ao nosso redor ficou mais frio, e uma brisa estranha começou a soprar entre as árvores, fazendo-as balançar levemente. Parei no meio do caminho, os sentidos em alerta, e percebi que não estávamos mais sozinhos.

— Algo está errado — Sussurrei, tentando localizar a origem daquela sensação. Artemys se aproximou de mim, seus olhos brilhando com a mesma cautela.

— Eu sei — Ele respondeu baixinho, a mão já indo para a espada. — Estamos sendo observados.

Antes que pudesse responder, senti um movimento rápido à minha esquerda. Me virei no último segundo, apenas para ver uma figura esguia sair das sombras, movendo-se com uma velocidade incrível. Aric gritou um aviso, mas era tarde demais. Fomos cercados por um grupo de elfos, suas roupas feitas de tecidos que pareciam se fundir com a floresta ao redor. Eles carregavam lanças e arcos, suas expressões sérias e vigilantes.

Artemys e eu sacamos nossas armas, prontos para nos defender, mas antes que qualquer um de nós pudesse atacar, um dos elfos ergueu a mão, sinalizando para que parássemos. Ele se destacou do grupo, sua postura imponente indicando que era o líder. Seus olhos, frios e calculistas, se fixaram em nós com desconfiança.

— Vocês estão invadindo território sagrado — Ouvi sua voz em uma língua que eu reconhecia vagamente, mas que nunca havia estudado. — Quem são vocês e o que querem aqui?

Eu engoli em seco, tentando encontrar as palavras certas. Artemys, sempre mais rápido, deu um passo à frente, a espada ainda em mãos.

— Não queremos causar problemas — Comentou tentando soar conciliador, mas sem baixar a guarda. — Estamos em uma missão importante, procurando algo que foi perdido. Não temos intenção de desrespeitar suas terras.

O líder dos elfos estreitou os olhos, claramente não convencido. Ele deu um passo à frente, e pude ver o brilho da magia ao seu redor, como se ele estivesse pronto para atacar a qualquer momento.

— Vocês carregam consigo a sombra do mal — O elfo falou, sua voz cheia de desconfiança. — E a presença de vocês aqui é uma afronta ao nosso reino. Se querem viver, entreguem-se agora e expliquem suas intenções diante da nossa rainha.

Artemys hesitou, mas antes que ele pudesse responder, Aric se adiantou.

— Estamos apenas procurando algo que pode ajudar a restaurar o equilíbrio em todos os reinos — A voz calma, mas firme. — Se isso significa falar com sua rainha, estamos dispostos a cooperar.

Eu olhei para Aric, surpresa pela facilidade com que ele se adaptava à situação. O líder dos elfos nos observou por mais alguns segundos, antes de acenar com a cabeça.

— Vocês serão levados ao castelo. Mas saibam que qualquer traição será respondida com severidade — Fazendo um gesto para que seus guardas nos cercassem.

Artemys relutantemente guardou sua espada, e eu fiz o mesmo. Não tínhamos outra escolha a não ser seguir os elfos, na esperança de que a rainha deles nos desse uma chance de explicar nossa missão.

Enquanto éramos escoltados pela floresta, senti a presença de Artemys ao meu lado, e aquela sensação inquietante voltou a crescer em meu peito. Eu sabia que as coisas estavam mudando entre nós, mas não tinha tempo para lidar com isso agora. Tínhamos uma missão a cumprir, e precisávamos encontrar a semente antes que fosse tarde demais.

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