Coração de Bruxa

30

A rainha acenou com a mão em um gesto sutil, mas cheio de autoridade, indicando que os guardas nos conduziriam aos nossos aposentos. Eu soltei um suspiro que nem percebi que estava segurando, aliviada por ter, ao menos temporariamente, escapado do peso do olhar da rainha dos elfos. Era como se cada palavra que ela falasse carregasse uma gravidade própria, algo que eu não estava acostumada a enfrentar.

Enquanto os guardas nos guiavam pelos corredores do castelo, não pude deixar de notar a beleza natural ao nosso redor. As paredes pareciam crescer organicamente, formadas por árvores e vinhas que se entrelaçavam, como se o castelo fosse uma extensão da própria floresta. A luz do luar entrava por aberturas nas paredes, refletindo nas superfícies de madeira polida e criando padrões intrincados no chão.

Nós seguimos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Artemys mantinha-se distante, como se precisasse de espaço para processar o que acabara de acontecer. Eu sabia que ele estava preocupado, mas não havia nada que eu pudesse fazer agora para aliviar isso. Então, resolvi focar no que poderia controlar: a minha própria preparação para o que viria a seguir.

Finalmente, chegamos a uma série de portas de madeira esculpida, e os guardas nos indicaram que essas seriam nossas acomodações. Fui a primeira a entrar no quarto que me foi designado, sentindo uma mistura de cansaço e alívio ao ver o espaço simples, mas acolhedor. O quarto era iluminado por pequenos cristais que emitiam uma luz suave, quase etérea, e a cama era coberta por tecidos finos e confortáveis.

Deixei a bolsa cuidadosamente sobre uma pequena mesa ao lado da cama e senti Gaia se mexer dentro dela. Abri a bolsa com cuidado, e o pequeno animal saltou para fora, aterrissando graciosamente no chão. Seus olhos brilhantes me encararam por um momento, antes de começar a explorar o quarto, farejando os cantos e saltando de um móvel a outro.

— Acho que também merecemos um descanso, não é? — Murmurei, observando Gaia explorar o ambiente com sua curiosidade natural.

Ela parecia concordar, soltando um som suave antes de pular de volta para a mesa, onde se acomodou, observando-me atentamente. Resolvi que a melhor coisa a fazer naquele momento seria tomar um banho e tentar relaxar, pelo menos por um tempo. Sabia que o dia seguinte seria desafiador, e queria estar o mais preparada possível.

Abri uma porta ao lado da cama, descobrindo que ela levava a um pequeno banheiro. O espaço era adornado com mais cristais brilhantes, que refletiam a luz em tons suaves de azul e verde. A água corria de uma fonte esculpida na parede, caindo em uma pequena banheira de pedra. Era um luxo que eu não esperava encontrar ali, mas certamente não ia reclamar.

Enquanto a água enchia a banheira, tirei as roupas sujas da viagem e me aproximei do espelho. Meu reflexo me mostrou o quanto a missão tinha me desgastado. Havia círculos escuros sob meus olhos, e minha pele estava marcada pela poeira e o cansaço da estrada. Suspirei, desejando que um banho fosse suficiente para lavar não apenas a sujeira, mas também a tensão que parecia grudada em mim como uma segunda pele.

Entrei na banheira e suspirei de alívio ao sentir a água quente envolver meu corpo. Fechei os olhos e deixei minha cabeça encostar na borda, permitindo que meus músculos se soltassem um pouco. Por um momento, tentei esvaziar a mente, afastando as preocupações com a missão e o encontro iminente com a rainha.

Mas não foi fácil.

Os pensamentos continuavam a se agitar, como folhas sopradas pelo vento. Havia tanto em jogo, e eu não podia evitar me sentir insegura. O que aconteceria se falhássemos? E se não conseguíssemos a semente da terra? Eu sabia que a missão era crucial, mas as palavras da rainha ainda ecoavam na minha mente, deixando-me com dúvidas sobre nossas chances.