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Meus olhos estavam abertos em um ponto fixo, eu sentia que havia algo de diferente pairando ao meu redor mas não conseguia entender ainda. Algo tinha acontecido, e minha cabeça dolorida indicava que isso era verídico, me sentei sobre o chão enquanto focava na árvore que estava em meu campo de visão, todos pareciam estar alheios ao fato de que após alguns tempo adormecida, eu havia acordada. E não estava só.
Em minha mãos eu sentia, um pergaminho enrolado com uma fita de cetim vermelha, como se garantisse a segurança dele e que apenas eu iria abrir. Antes mesmo que pudesse pensar se seria o correto, todas as memórias de antes me atingiram com força, me fazendo soltar um gemido baixo devido a dor que as lembranças tinham me ocasionado. Eu estive fora de mim mesma, mesmo que eu não conseguisse imaginar uma coisa dessas acontecendo, eu tinha quase certeza de que tudo havia acontecido de fato, aliás não havia como negar já que a própria viva estava ali comigo.

Olhei para o papel, eu queria muito abrir e analisar tudo o que tinha desenhado ali dentro, mas sabia que esconder isso seria ainda pior. Me levantei da onde estava, eu não poderia dizer a verdade que consegui isso através da minha alma, que achou que seria divertido vagar por aí procurando alguma coisa. Não, eu precisaria fingir isso, e esperava que eu fosse uma boa atriz a ponto de todos acreditarem. A árvore que estava em minha visão era alta, e dava o início para outra trilha sombria e que poderia parecer perigosa durante a noite, mas que durante o dia era apenas mais um caminho a ser seguido. Virei o rosto, todos estavam distraídos a isso. Gaia estava deitada ao meu lado, me olhando como se soubesse o que havia acontecido, eu não sabia se animais entendiam esse tipo de coisa e principalmente se conseguiam ver, mas pelas expressões que ela fazia eu acreditava que sim. Coloquei a mão sobre a barriga e me levantei, eu sentia a dor no estômago pela fome que eu estava sentindo novamente, mas não era nada que fosse me deixar incapacitada para seguir com meu truque, corri rapidamente para dentro da floresta e aproveitei em um canto para bagunçar um pouco do meu cabelo, eu precisava seriamente fazer uma trança nele em algum momento, já que durante tudo o que tinha acontecido ele acabou ficando solto. Não havia nenhum espelho por perto e eu agradecia a isso, sabia que minhas condições deveriam estar terríveis, e eu já nao sabia mais quantos dias haviam se passado. Coloquei minha mão sobre meu pescoço, percebendo que o colar que havia ganhado de minha avó ainda permanecia intacto ali, ao menos com isso eu me sentia ainda mais segura e confiante de que no fim tudo daria certo.

Assim que consegui uma distância considerável da onde o pessoal estava, comecei a andar em direção a saída da floresta enquanto segurava o pergaminho enrolado perto do meu peito, chamando por alguém que pudesse vir me ajudar. Aparentemente, a atuação estava se saindo bem já que na hora todos perceberam que eu nao estava mais deitada, e vieram correndo ao meu alcanço. Artemys vinha junto com Aric ao seu lado, querendo saber qual o era o motivo de todo o alvoroço, e assim que seus olhos focaram nos meus, eu senti uma onda passando por todo meu corpo, como se todo o cansaço fosse embora e uma energia viesse para me melhorar.

— O que está acontecendo aqui? — Artemys perguntou, parando com sua espada ao lado do corpo enquanto desviava o olhar do meu rosto e prestava atenção no meu estado. Parecia que no fundo ele sabia que eu estava mentindo, mas se sabia ou não, isso seria pra sempre um mistério já que nunca comentou nada. Aric, ao contrário dele, correu em minha direção e me segurou com medo de que eu estivesse machucada e profundamente ferida, mesmo com seus guardas ao redor que eram os especiais para cuidar do príncipe, ele ainda não parecia se importar. Aric era como um sonho, todas as mulheres provavelmente se matariam para ter uma única chance com ele e talvez se tornar rainhas..mas..porque comigo era diferente?

— Natasha!!! Você está bem? O que aconteceu? — Seu olhar percorria por mim, procurando algum ferimento que precisasse ser tratado imediamente, forcei um sorriso enquanto desviava o olhar de Artemys, e focava no loiro que estava em minha frente. Eu não sabia se aquilo seria uma atuação dele também, para tentar se apaixonar por mim desde já, ou se realmente estava preocupado. Mas definitivamente ele se saia bem melhor do que eu isso, já que minhas caras demonstrando um certo receio ao seu respeito eram perceptíveis.

Lembre-se Natasha, você vai se casar com ele depois disso tudo.

Minha mente tentava sempre me dar os avisos, e parecia que uma parte de mim estava bem feliz em simplesmente ignorar tudo isso.

— Eu senti uma presença.. por aqui perto, e eu sabia que era o momento.. — Meu tom saiu fraco, e eu me odiei por fingir tanto algo que nem estava naquele momento. — Eu consegui...ela me explicou tudo.. — Joguei meu corpo para frente, tentando parecer que eu estava fraca após ter andado tanto ou talvez desidratada. Artemys apareceu no mesmo momento com uma velocidade anormal, e me segurou com força. Suas mãos em minha cintura apertavam com força, e seu olhar sobre mim era como uma incógnita. Como um homem poderia ser tão difícil de lidar como ele? Em um momento, meu maior desejo seria matar ele apenas para ter uma onda de paz, no outro momento..bom..não deveria pensar sobre.

Me levaram para uma árvore e me deixaram sentar novamente, enquanto traziam um pouco de água a mando de Artemys. Todo o interesse seria apenas no pergaminho que eu ainda estava segurando?

Expliquei tudo a eles, as mesmas palavras que havia ouvido da mulher do olho violeta e dos cabelos brancos que me lembravam um pouco da lua, misteriosa como.

Quando todos estavam ao redor, eu comecei a desenrolar o pergaminho. O mapa que estava agora em minhas mãos era intricadamente desenhado, com tons de sepia que destacam detalhes elaborados. No centro, encontra-se um ponto focal representando o ponto de partida, aonde estavamos naquele exato momento, enquanto três distintos portais são mapeados em direções opostas. O portal do reino do ar está no canto superior direito, representado por espirais etéreas. O portal aquático, no canto inferior esquerdo, é marcado por ondas sinuosas e cores azul-marinho. Finalmente, o portal terrestre, no canto inferior direito, é caracterizado por montanhas imponentes e vegetação exuberante. A distância entre cada portal é significativa, e olhando dessa maneira cada um parecia ser mais distante que o outro. Os olhares dos soldados passavam entre si, como se estivessem falando silenciosamente algo em suas mentes, todos sabiam que a partir daquele momento a guerra iria começar realmente. Desde o momento em que botamos o pé nessa floresta, não aconteceu nada que fosse considerado perigoso, além da minha fuga para me virar sozinha e seguir minha intuição. Mas com o mapa em mãos e os desenhos ali, no momento em que fossemos começar a seguir para algum dos pontos, não teria mais volta, todas as vidas em jogo. Não somente as nossas, mas talvez de todos os reinos.

Era ali que deveríamos estar, mas não eram todos que pensavam isso. Sem fazer barulho algum, Finian saiu rapidamente de um esconderijo em que estava e corria de volta para o portal em que tinha vindo, voltando para seu chefe para contar tudo o que tinha descoberto.

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