MargaretDesde que minha irmã chegou do Sul, minha vida ficou mais louca. Ela estava hospedada
em minha casa, achava um absurdo eu não ter cortina em nenhuma das enormes janelas,
já queria comprar várias pra colocar - e eu a convenci de não fazer isso, e ela queria me
levar em tudo quanto era balada e lugares da cidade pra eu "curtir" e "conhecer gente
nova".Eu não sou assim, os únicos lugares que gostava de ir eram museus, bibliotecas, teatros e, óbvio, exposições de arte. O barulho alto das músicas dos clubes doía na minha cabeça, os homens chegando em mim me incomodavam, as pessoas se acotovelando na multidão, tudo isso me perturbava. Mas Vanessa adorava a agitação de São Paulo, já veio com uns cinco rapazes pra me apresentar. Eu dispensava todos.
Confesso que, no meio da aglomeração e das luzes, eu esticava o pescoço e procurava meu vizinho... Qual seria o nome dele? Era estranho porque, ele me seguia, estava sempre me acompanhando como uma sombra... Porém, desde que a Vanessa chegou, tive a sensação que sumiu.
Não deveria, sei que é maluquice, só que a ausência dele me incomodava. Será que eu era
carente demais? Devia ser mais estranha que ele. Justo quando queria finalmente me
apresentar e resolver essa distância, o garoto desapareceu!Será que desistiu de mim?? Eu não devia ficar perturbada, eu sabia onde ele morava. O problema era a Vanessa, ela botou na cabeça que eu ia embora pra Floripa, ficava insistindo pra eu arrumar as malas, que não devia ficar numa cidade tão grande, longe dela, que a mãe estava com saudades, que era perigoso...
Não sabia o quê fazer! Meus estudos eram tudo pra mim, não iria transferir! Até que, algo horrível aconteceu.
Vanessa saiu sozinha de noite com alguns rapazes que ela fez amizade. Eu não quis acompanhar porque cheguei exausta da faculdade. Ela disse que voltaria ao amanhecer. Quando acordei no dia seguinte, encontrei-a chorando no sofá da sala.
Cobria seu rosto com as mãos trêmulas. Acendi a luz e me aproximei cautelosa, havia algo errado. Seu pranto era triste, profundo,
como quem não acredita em uma fatalidade.Sentei ao lado e pousei a mão com cuidado
nas costas, e então ela me olhou. A face estava marcada por hematomas, as lágrimas
umedeciam o sangue seco no nariz e lábios.- Meu Deus!! Vanessa! O que aconteceu?
Ela não respondeu, somente me abraçou com suspiros carregados. Sem entender, tentei
confortá-la.- Quem fez isso com você??
- Eu... eu fui assaltada. Me bateram.
- Meu Deus... Levaram alguma coisa?? Temos que ir pra delegacia e pro hospital imediatamente!
Me levantei apressada, mas ela me segurou.
- Não! - exclamou. - Não levaram nada... Por favor, mana, não quero fazer B.O., nem nada
disso! Eu só quero ir embora pra casa, vamos embora. Arruma as suas malas e vamos
sumir dessa cidade, eu te imploro!- O que? Vanessa, isso não tem a ver com meu vizinho, tem?
Ela olhou lentamente na direção da janela dele. Parecia traumatizada.
- Como você consegue... viver dia após dia sabendo que tá sendo observada por um
desconhecido, um louco tendo acesso a tudo que você faz... Isso é doentio, Maggie...- Van, por favor, só me fala se isso tem a ver com ele. Foi ele que te machucou?? Por que
isso tá muito estranho! Te assaltaram, te bateram, mas não levaram nada? O que
aconteceu, me fala!Ela negou com a cabeça e se afastou, indo em direção ao quarto. Eu segui, preocupada e
atormentada.- O que vai fazer?
- Vou arrumar as malas e ir embora, você também vai.
- Não posso, Vanessa. Eu tenho meus estudos aqui! Não posso abandonar!
- Você vai sim, Margaret! - gritou. Apontou pra si mesma. - Olha a minha situação! Poucos
dias aqui em São Paulo e me acontece isso! Não posso te deixar nessa cidade, sozinha!- Vanessa, eu vivo aqui sozinha, há mais de dois anos! Nunca aconteceu nada comigo,
nunca fui assaltada, nunca sofri nenhum ataque! Eu tô preocupada com você, mas não faz sentido você vim lá de Florianópolis, querer me arrastar de volta, me fazer abandonar os estudos assim, não posso! Por favor, vamos pra delegacia e pro hospital, não toma atitude precipitada assim, amanhã te acompanho até o aeroporto.- Maggie, eu não vou ficar mais nenhum segundo nessa cidade! Eu vou AGORA pro
aeroporto, eu sou sua irmã mais velha e você vai comigo, arruma suas malas!Eu fiquei estática observando Vanessa puxando a mala dela pela casa em direção a porta. Ela estava sendo impulsiva, agindo sob estresse, sem pensar direito. Por alguns segundos cogitei de fato arrumar minhas coisas e ir embora, depois voltar pra São Paulo. No entanto, estava em semana de provas, entrega de trabalhos importantíssimos.
Entendia o lado de Vanessa... especialmente por ter sido atacada... porém, se eu embarcasse imediatamente, me prejudicaria.
- Sinto muito, Van... - lamentei, pegando a chave do carro. - Eu vou pro aeroporto. Mas, só pra te acompanhar.
- Você vai ficar?? - perguntou ríspida, os olhos claros como os meus bem arregalados. - Vai mesmo fazer isso comigo?? Vai me abandonar quando mais preciso?
- Não fala desse jeito! Olha a situação horrível que você tá me pondo!!
- Então fica, Maggie. Eu vou embora, porque tenho medo por mim e por você. E não precisa
me levar pro aeroporto, eu vou pedir um Uber.Ela se retirou e bateu a porta. Quis ir atrás, queria conversar e tentar resolver a
situação, queria saber quem fez isso com ela. Sabia que escondia algo. Mas me faltou coragem.Talvez eu estivesse sendo egoísta, e no fundo sabia que Vanessa era teimosa e não me perdoaria agora.
Ela ficou um tempo em frente ao portão
esperando o Uber chegar e eu fiquei dentro da sala torcendo pra que mudasse de ideia, para que se acalmasse.Não aconteceu... O uber chegou e ela partiu.
Fui para o meu quarto com os olhos marejados, me sentindo um lixo de irmã... E nessa hora, me dei conta que ele voltou. Senti aquele peso característico, o peso de sua atenção, como uma presa que se sente espiada pelo predador. Disfarçadamente avistei o reflexo das lentes do binóculo da janela da outra casa.
Que curioso, ele ter sumido quando Vanessa chegou, ter voltado quando Vanessa partiu... E
meu coração me alertou que talvez minha irmã estivesse certa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Voyeur || Evan Peters
HorrorDARK ROMANCE+18 Evan trabalha gravando e vendendo vídeos de mulheres sequestradas na Deep Web. Para ele, esse é o emprego perfeito. Mas debaixo dessa máscara de homem frio e misógino, existe um rapaz cheio de traumas, que esconde uma paixão devasta...