9. Cúmplice

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Evan

Esperava que fosse qualquer pessoa me espreitando, menos a Margaret! Que porra deu na cabeça dela??

Juro que minha vontade era de estourar a cara dela, eu nunca senti essa vontade com a Margaret antes, porque a via há anos como algo inalcançável, representava o mundo puro e bonito distante do meu, um mundo não palpável e que só vislumbrava de longe, como um sonho. Mas a imbecil fez a merda de me seguir na pior noite da minha vida, arruinou tudo.

Ter quebrado o "elo" que nos separava e ter entrado no meu domínio transformou ela em algo real. A partir do momento que uma mulher se torna real pra mim, perde o seu valor.

Ela me esclareceu que já sabia que era observada de longe. Enquanto falava, eu tentava pensar em que momento fui burro a ponto de dar brechas e ser notado. Sentia tanto ódio de mim que queria descontar nela.

Se era pra ser assim, então ela se tornaria minha cúmplice. Se quis invadir meu espaço, então eu a traria por inteiro pro meu inferno. Quis enfiar Margaret nisso até o pescoço. Ela se meteu onde não deveria, era a hora de me conhecer tão bem quanto eu a conhecia.

Estava com o revólver em punho, apontado pra ela. Óbvio que eu não atiraria, apesar da raiva, não queria machucar, nem muito menos matar. Só queria manter ela quieta.

- Eu te fiz uma pergunta, já enterrou alguém antes?

- N-não. - respondeu atônita olhando pro cadáver.

- Então pra tudo tem uma primeira vez. Você vai me ajudar com isso aqui. - expliquei e dei um pequeno chute em Suzana. Margaret virou o rosto, com cara de quem iria vomitar.

- Eu... eu não deveria estar aqui. Só me deixa ir embora... por favor... - pediu com a voz minguante tão baixa que mal ouvi.

- Você vai embora, prometo, mas antes me ajuda com a Suzana, pode ser?

Vi lágrimas caindo dos olhos grandes e azuis, umedecendo as bochechas alvas. Ela olhava com súplica pra Suzana morta, depois me olhava, e voltava a olhar Suzana, igual a um cervo abatido numa armadilha.

- Minha irmã não fez nada, por que machucou ela? - perguntou de repente, como se questionar isso agora fosse resolver algo ou adiar a tarefa de enterrar a mulher.

- Porque ela queria te levar pra longe de mim.

- Você é louco!! Que... que merda... Você nem me conhece... só me olha de longe, seu doente!! Você vai me matar igual matou essa mulher!

- Eu matei essa puta aí sem querer, pra falar a real, não planejava nada disso. E não... Não vou te matar se fizer o que eu mandar. Agora pega ela e arrasta pra aquele lado...

- Não!! Por favor, não...

Eu sorri pras suas lágrimas e desespero.

- Agora. - estiquei o braço e a ponta do revólver tocou-a delicadamente na testa. - Pega Suzana e leva pro lado do matagal.

Margaret teve um ligeiro ataque de pânico que foi manifestado com um tremor repentino e ranger de dentes audível, mas esse ataque cessou rápido quando olhou para o revólver perto de sua cara e prontamente me obedeceu.

- Isso, Margaret. Sei que consegue ser prestativa quando quer.

Assisti ela puxando a carcaça pelos tornozelos com dificuldade. Em poucos segundos já estava transpirando, o suor escorria pelo pescoço e umedecia a blusa, colava o cabelo castanho na pele. De lábios entreabertos, ofegava quase chorando.

Eu permanecid e pé acompanhando, apenas observando ela trabalhar, com uma mão apontava a arma e com a outra iluminava com o flash do celular. Ao chegar no mato alto, ela parou e esticou as costas, me fitando com profundo rancor.

- Se tentar correr ou fugir, minha 9mm vai disparar e te acertar tão rápido que você nem vai

vê. Você vai cair em menos de um segundo. - ameacei. - Continua, quero jogar no barranco ali.

Apontei onde deveria levar e ela prosseguiu. A dificuldade aumentou no matagal intenso. No percurso, Margaret manteve o rosto afastado do cadáver e exerceu uma força maior do que podia. Soltou Suzana várias vezes e seu repentino acesso de pânico regressou, tremia, perdia o ar e chegou a vomitar. Dava um longo ofego e voltava ao serviço. Apesar das crises, fez tudo direitinho como ordenei.

Depois de longos minutos, chegou em um declive com um buraco fundo escondido no terreno.

- Joga lá pra baixo.

Ela empurrou o corpo e desviou os olhos com asco para não ver o pesado cadáver tombando. Deixei que ela desse uma pausa sentada inquieta para respirar antes de voltar, e nesse instante eu aproveitei para fazer algo que tinha em mente. Me aproximei de Margaret, que estava debilitada e exausta, segurei com força na sua correntinha de ouro presa ao pescoço com um pingente escrito "Sister". Puxei, a correntinha arrebentou e eu a joguei junto de Suzana, que jazia no buraco abaixo de nós.

- Por que fez isso?? - perguntou pondo os dedos no próprio colo, atormentada.

- Porque você é minha cúmplice.

- Eu... - engoliu em seco, me olhando contra o escuro. - Eu não acredito que você me incriminou...

Dei um sorriso curto para o temor incontestável naquele rosto de bonequinha, sujo de terra. Segurei ela no braço como fiz outrora e a empurrei pro caminho de volta. Margaret deu uma rápida debatida, que eu controlei apertando mais forte, ouvi um resmungo de dor e ela ficou quieta depois, com o cano da arma às costas.

Chegamos até a minha van e ela me fitou aflita. Guardei meu revólver de volta dentro da calça.

- Me deixa ir agora??

- Claro, você vai embora comigo. - afirmei. Ela estava indefesa, de costas para o porta malas do furgão.

Fiz menção de empurrar pro compartimento mas ela segurou na minha blusa e se debateu com maior intensidade, tirando vantagem de me ver desarmado, numa luta ridícula e inútil contra meu corpo, tentando socar meu peito. Contive, segurando nos dois braços ao mesmo tempo.

- Quieta!! - exclamei contra seu rosto.

- O que você quer de mim??Já fiz o que mandou, me deixa em paz agora! - clamou sem forças.

- Eu vou te levar pra casa, ou quer ficar largada aqui no meio do mato?? Entra nessa porra e fica quieta!

Joguei ela pra dentro do porta-malas e fechei com raiva. Peguei a bolsa que ela deixou caída. Voltei pro banco motorista, pingando suor e com a boca queimando de sede.

Parti dali ignorando os socos e pontapés de Margaret lá atrás. Liguei o rádio em volume máximo e tentei limpar a mente. Tinha me livrado de Suzana, um problema a menos. Agora precisava cuidar de Margaret.

Voyeur || Evan Peters Onde histórias criam vida. Descubra agora