12. Voyeur

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Margaret:

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Margaret:

Evan esperava eu ir pro banho, eu o olhava ainda sem reação.

- Vou tomar banho, mas não com você vendo. Depois vou me vestir e ir embora daqui.

Ele deu uma risada curta pra minha exigência, arqueando de leve as sobrancelhas,parecendo surpreso com a ideia.

- Acho que não, Margaret.

- Acha que não o quê?

- Acho que você não vai embora daqui tão cedo.

- Por que não? Que lugar é esse? - insisti, tentando manter a calma.

- É meu porão.

- Então eu tô na sua casa. É exatamente do lado da minha. Logo vão se dar conta do meu sumiço e bater na sua porta.

- Por que bateriam na minha porta? Nunca fomos vistos juntos.

Engoli as palavras e me calei, lembrando que o maldito jogou minha correntinha junto com o cadáver na noite anterior. Pousei meus dedos sobre o pescoço, sentindo falta do pingente que Vanessa me deu há anos atrás. Era provável que, ao acharem o corpo, as autoridades pensariam que sumi por ter cometido o crime. Aguentei firme e não chorei.

- Anda. Tá gastando água. - disse, sendo que permaneci quieta.

- Já falei que não vou tomar banho com você olhando.

Evan fechou os punhos e torceu de leve o pescoço, como quem procura manter a paciência. Seu sorriso ficou forçado e estranho.

- Você deve tá com fome, não é, Margaret? Tá há quantas horas sem comer nada? - se aproximou, me encarando. - Quanto tempo consegue ficar sem comer nada?

- Pode me deixar sem comer. - sustentei o olhar. - Eu prefiro morrer, definhar de fome, do que tirar a roupa pra você.

Ele deu outra risada, dessa vez reprimida, descrente.

- Olha só... - comentou desafiador. - A garota que ficava se exibindo na janela, tirando a blusa pra mim, agora dando uma de difícil. Se sabia que eu te espiava, então nunca teve problema em tirar a roupa pra mim.

Eu suava frio, de raiva.

- Eu... - desviei o olhar, enfim, desistente. - Eu achei que você fosse legal. Me enganei.

Evan deu um longo suspiro, negando com a cabeça, lamentando pela ilusão que criei.

- Eu não vou encostar em você. Só quero te ver.

- Não acredito em nada do que você fala.

- Mas sabe que vai ser pior se não fizer o que eu mando.

Renunciei, lastimando o destino de merda em que me meti. Comecei a me despir completamente robótica, com a atenção fixa em um ponto qualquer da parede. Gostaria que fosse possível fingir estar sozinha, porém a presença, cheiro, energia, sombra, tudo de Evan me devorava. Arranquei a roupa e deixei ao chão.

- Hm, tão brava. - murmurou.

Fui lenta em direção ao banheiro. Ele me seguiu. Me perguntava onde isso pararia, até onde ele chegaria. O que iria fazer?? Sem saída, obedeci.

Entrei debaixo do chuveiro aberto, me infiltrando na névoa de vapores. Me esforçava o máximo pra ignorar a atenção de Evan, denso e pesaroso sobre mim, reparando cada detalhe de minha nudez, tão perto, apoiado à parede. E mesmo com total autoridade, quando eu o flagrava olhando meu corpo, ele desviava de volta para meu rosto, como se não quisesse que eu percebesse.

- Eu sempre te via se trocando. - explicou. - Perambulando pela sua casa, nua... Mas nunca pude te ver tomando banho porque não tinha visão do seu banheiro.

Peguei o sabonete e passei sobre a pele. Virei de costas para que nossos olhares não se topassem de novo. A água caia deslizando ternamente. No silêncio, ecoava meus ofegos de temor pelo suspense perante à ameaça constante. Me ensaboava devagar.

- Não entendo essa satisfação que você tem de ficar me perseguindo... Por que só não me deixa em paz?

- Me responda você. Foi você que me perseguiu ontem.

- Eu te segui porque eu não queria acreditar que você bateu na minha irmã! - exclamei, virando-me pra ele. - Eu... eu fui uma idiota! Quando minha irmã chegou em casa, machucada, eu deduzi tudo... Não queria acreditar... Então tive que me certificar com meus próprios olhos... Tô tão arrependida.

- Ela falou que fui eu?

- Não...

- No fundo você sabia que tinha sido eu, não é? E mesmo assim, você me seguiu. - concluiu.

Fite-o tensa, de cenhos franzidos e sem o que dizer. Ele estava certo. O que, de verdade, tinha dado em mim, para segui-lo sabendo dos riscos?? Mesmo com os alertas de Vanessa??

Evan ficou calado também, me observando de volta. O som da água escorrendo para o ralo era o único ruído agora. Fechei o chuveiro com uma sensação horrível de perda, peguei a toalha que havia ali e enrolei em volta do meu corpo.

Passei pelo rapaz e fui pra cama, emburrada e com uma mágoa desconhecida que preenchia meu peito e pesava nos ombros. Sentei-me molhada, o cabelo pingando, o olhar perdido.

- Eu vou buscar roupa limpa pra você. - ouvi Evan dizendo. - Também algo pra comer.

Ele subiu a escada e se retirou do porão. Eu estava sozinha naquele ambiente precário e pude me enxugar em paz. Ou não, porque não duvidava nada que o maníaco tivesse colocado câmeras pra me bisbilhotar.

Passava a toalha com força contra a minha pele, quase me arranhando, ainda com uma profunda raiva contida de mim. Me recusava a chorar, me transformar em vítima. Confesso que estava surpresa que ele não fez nada, enquanto me via tomar banho, e realmente não encostou em mim. Porém, de forma nenhuma confiaria nele. Precisava ser forte pra sair dali com vida.

Em menos de minutos, Evan voltou. Me atentei à entrada. Era igual à uma porta de alçapão, abria pra cima. Ele desceu a escada e em seguida fechou o trinco com a chave. Nas mãos, trazia uma mochila grande e uma sacola. Depositou tudo em cima da cama, onde eu aguardava nua e seca.

- Aqui tem roupas e comida pra você. - avisou.

Analisei o interior da sacola e encontrei uma marmita recém esquentada com comida. Na mochila haviam várias peças de roupas minhas. Primeiro senti o estômago doer de fome, e em seguida senti náusea ao reconhecer minhas vestes. Apanhei quaisquer peças ao alcance e me vesti rápido, com calça jeans e camiseta.

- Como... como minhas roupas estão aqui? - questionei já deduzindo da resposta.

- Eu fui pegar na sua casa.

- Como conseguiu entrar na minha casa??

- Peguei sua chave, seu celular, tudo tava dentro da bolsa, que você deixou no mato quando me ajudou com a Suzana. - explicou tranquilo.

Não suportei o furor de ódio, vê-lo falando que tirou meus pertences e invadiu minha casa com tanto descaso fez meu sangue ferver. Rangi os dentes e impulsivamente peguei a primeira coisa que vi na frente, a marmita com a comida pronta, taquei direto contra o peito dele.

Evan deu um pulo pra trás ao receber a comida quente contra sua roupa, atingindo o peito e barriga. O cheiro de carne assada alastrou o ambiente e ele arregalou os olhos pra mim, perplexo, de braços abertos com o almoço que preparou pingando longamente pro chão.

- Sua....

Todo meu ódio foi consumido pelo medo, sob a mira daquele olhar fumegante de quem poderia me trucidar em menos de um segundo. Paralisei me perguntando o que eu fiz, com o coração acelerado e a respiração trêmula.

Voyeur || Evan Peters Onde histórias criam vida. Descubra agora