Margaret:Evan esperava eu ir pro banho, eu o olhava ainda sem reação.
- Vou tomar banho, mas não com você vendo. Depois vou me vestir e ir embora daqui.
Ele deu uma risada curta pra minha exigência, arqueando de leve as sobrancelhas,parecendo surpreso com a ideia.
- Acho que não, Margaret.
- Acha que não o quê?
- Acho que você não vai embora daqui tão cedo.
- Por que não? Que lugar é esse? - insisti, tentando manter a calma.
- É meu porão.
- Então eu tô na sua casa. É exatamente do lado da minha. Logo vão se dar conta do meu sumiço e bater na sua porta.
- Por que bateriam na minha porta? Nunca fomos vistos juntos.
Engoli as palavras e me calei, lembrando que o maldito jogou minha correntinha junto com o cadáver na noite anterior. Pousei meus dedos sobre o pescoço, sentindo falta do pingente que Vanessa me deu há anos atrás. Era provável que, ao acharem o corpo, as autoridades pensariam que sumi por ter cometido o crime. Aguentei firme e não chorei.
- Anda. Tá gastando água. - disse, sendo que permaneci quieta.
- Já falei que não vou tomar banho com você olhando.
Evan fechou os punhos e torceu de leve o pescoço, como quem procura manter a paciência. Seu sorriso ficou forçado e estranho.
- Você deve tá com fome, não é, Margaret? Tá há quantas horas sem comer nada? - se aproximou, me encarando. - Quanto tempo consegue ficar sem comer nada?
- Pode me deixar sem comer. - sustentei o olhar. - Eu prefiro morrer, definhar de fome, do que tirar a roupa pra você.
Ele deu outra risada, dessa vez reprimida, descrente.
- Olha só... - comentou desafiador. - A garota que ficava se exibindo na janela, tirando a blusa pra mim, agora dando uma de difícil. Se sabia que eu te espiava, então nunca teve problema em tirar a roupa pra mim.
Eu suava frio, de raiva.
- Eu... - desviei o olhar, enfim, desistente. - Eu achei que você fosse legal. Me enganei.
Evan deu um longo suspiro, negando com a cabeça, lamentando pela ilusão que criei.
- Eu não vou encostar em você. Só quero te ver.
- Não acredito em nada do que você fala.
- Mas sabe que vai ser pior se não fizer o que eu mando.
Renunciei, lastimando o destino de merda em que me meti. Comecei a me despir completamente robótica, com a atenção fixa em um ponto qualquer da parede. Gostaria que fosse possível fingir estar sozinha, porém a presença, cheiro, energia, sombra, tudo de Evan me devorava. Arranquei a roupa e deixei ao chão.
- Hm, tão brava. - murmurou.
Fui lenta em direção ao banheiro. Ele me seguiu. Me perguntava onde isso pararia, até onde ele chegaria. O que iria fazer?? Sem saída, obedeci.
Entrei debaixo do chuveiro aberto, me infiltrando na névoa de vapores. Me esforçava o máximo pra ignorar a atenção de Evan, denso e pesaroso sobre mim, reparando cada detalhe de minha nudez, tão perto, apoiado à parede. E mesmo com total autoridade, quando eu o flagrava olhando meu corpo, ele desviava de volta para meu rosto, como se não quisesse que eu percebesse.
- Eu sempre te via se trocando. - explicou. - Perambulando pela sua casa, nua... Mas nunca pude te ver tomando banho porque não tinha visão do seu banheiro.
Peguei o sabonete e passei sobre a pele. Virei de costas para que nossos olhares não se topassem de novo. A água caia deslizando ternamente. No silêncio, ecoava meus ofegos de temor pelo suspense perante à ameaça constante. Me ensaboava devagar.
- Não entendo essa satisfação que você tem de ficar me perseguindo... Por que só não me deixa em paz?
- Me responda você. Foi você que me perseguiu ontem.
- Eu te segui porque eu não queria acreditar que você bateu na minha irmã! - exclamei, virando-me pra ele. - Eu... eu fui uma idiota! Quando minha irmã chegou em casa, machucada, eu deduzi tudo... Não queria acreditar... Então tive que me certificar com meus próprios olhos... Tô tão arrependida.
- Ela falou que fui eu?
- Não...
- No fundo você sabia que tinha sido eu, não é? E mesmo assim, você me seguiu. - concluiu.
Fite-o tensa, de cenhos franzidos e sem o que dizer. Ele estava certo. O que, de verdade, tinha dado em mim, para segui-lo sabendo dos riscos?? Mesmo com os alertas de Vanessa??
Evan ficou calado também, me observando de volta. O som da água escorrendo para o ralo era o único ruído agora. Fechei o chuveiro com uma sensação horrível de perda, peguei a toalha que havia ali e enrolei em volta do meu corpo.
Passei pelo rapaz e fui pra cama, emburrada e com uma mágoa desconhecida que preenchia meu peito e pesava nos ombros. Sentei-me molhada, o cabelo pingando, o olhar perdido.
- Eu vou buscar roupa limpa pra você. - ouvi Evan dizendo. - Também algo pra comer.
Ele subiu a escada e se retirou do porão. Eu estava sozinha naquele ambiente precário e pude me enxugar em paz. Ou não, porque não duvidava nada que o maníaco tivesse colocado câmeras pra me bisbilhotar.
Passava a toalha com força contra a minha pele, quase me arranhando, ainda com uma profunda raiva contida de mim. Me recusava a chorar, me transformar em vítima. Confesso que estava surpresa que ele não fez nada, enquanto me via tomar banho, e realmente não encostou em mim. Porém, de forma nenhuma confiaria nele. Precisava ser forte pra sair dali com vida.
Em menos de minutos, Evan voltou. Me atentei à entrada. Era igual à uma porta de alçapão, abria pra cima. Ele desceu a escada e em seguida fechou o trinco com a chave. Nas mãos, trazia uma mochila grande e uma sacola. Depositou tudo em cima da cama, onde eu aguardava nua e seca.
- Aqui tem roupas e comida pra você. - avisou.
Analisei o interior da sacola e encontrei uma marmita recém esquentada com comida. Na mochila haviam várias peças de roupas minhas. Primeiro senti o estômago doer de fome, e em seguida senti náusea ao reconhecer minhas vestes. Apanhei quaisquer peças ao alcance e me vesti rápido, com calça jeans e camiseta.
- Como... como minhas roupas estão aqui? - questionei já deduzindo da resposta.
- Eu fui pegar na sua casa.
- Como conseguiu entrar na minha casa??
- Peguei sua chave, seu celular, tudo tava dentro da bolsa, que você deixou no mato quando me ajudou com a Suzana. - explicou tranquilo.
Não suportei o furor de ódio, vê-lo falando que tirou meus pertences e invadiu minha casa com tanto descaso fez meu sangue ferver. Rangi os dentes e impulsivamente peguei a primeira coisa que vi na frente, a marmita com a comida pronta, taquei direto contra o peito dele.
Evan deu um pulo pra trás ao receber a comida quente contra sua roupa, atingindo o peito e barriga. O cheiro de carne assada alastrou o ambiente e ele arregalou os olhos pra mim, perplexo, de braços abertos com o almoço que preparou pingando longamente pro chão.
- Sua....
Todo meu ódio foi consumido pelo medo, sob a mira daquele olhar fumegante de quem poderia me trucidar em menos de um segundo. Paralisei me perguntando o que eu fiz, com o coração acelerado e a respiração trêmula.
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Voyeur || Evan Peters
HorrorDARK ROMANCE+18 Evan trabalha gravando e vendendo vídeos de mulheres sequestradas na Deep Web. Para ele, esse é o emprego perfeito. Mas debaixo dessa máscara de homem frio e misógino, existe um rapaz cheio de traumas, que esconde uma paixão devasta...