Lençóis

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A aurora despontava em Cornel de uma maneira única, um espetáculo que parecia dançar entre as sombras do meu quarto. Despertei envolta em um aroma inusitado que emanava do travesseiro onde estava aconchegada. Os lençóis, suaves como algodão, me traziam uma sensação de conforto, mas ao mesmo tempo sentia meu corpo pesado, como se uma tempestade de cansaço tivesse me atingido.

Amado caderno, não consigo esconder a vergonha que me consome pelo que fiz.

Ao abrir os olhos, percebi que o ambiente ao meu redor não era o familiar; as paredes que costumavam me cercar estavam ausentes e os lençóis que conhecia tão bem haviam desaparecido. Em vez disso, encontrei uma escrivaninha minimalista com alguns livros organizados e uma caixa de cigarros repousando sobre ela. Um frio na espinha me percorreu quando a dor intensa tomou conta do meu ser, e eu me levantei assustada, as mãos se apertando contra minha cabeça.

"Você acordou! Achei que estivesse morta", disse uma voz profunda e suave. Paralisei ao encontrar o moreno à minha frente. Ele estava apenas com uma toalha jogada sobre o ombro, seu torso exposto revelava um físico escultural que prendia meus olhos em um misto de admiração e confusão.

"Por um segundo, também pensei que estivesse," murmurei, desviando o olhar enquanto puxava a coberta para perto de mim. "O que aconteceu... Alex?" O nome dele soou como uma revelação; era a única informação que eu tinha sobre aquele garoto enigmático.

"Você desmaiou nos corredores do campus," ele explicou casualmente, escorando-se na escrivaninha. "Quando te levei para o seu quarto, sua amiga estava ocupada, então decidi trazer você para cá."

"Meu Deus! Sinto muito pelo trabalho," eu disse, envergonhada, olhando para baixo. Mas a ideia dele ter me trazido para seu quarto—mesmo com aquele olhar frio—me deixou intrigada: ESPERA Al!! "Você dormiu..."

"Não, relaxa," ele respondeu com uma expressão despreocupada, apontando para o sofá atrás da porta. "Me aproveitar de garotinhas bêbadas não é minha praia."

"Eu não quis dizer isso," eu retruquei, sentindo a chama da indignação surgir dentro de mim. Ele apoiou os braços na ponta da cama e fixou os olhos em mim como se buscasse algo mais profundo.

"Deveria tomar mais cuidado," ele disse com uma sinceridade cortante. Ele estava certo; eu havia exagerado na bebida. Levantei-me da cama com delicadeza, ajustando meu vestido enquanto a vergonha se acumulava no meu peito. "Acho melhor eu ir," declarei, hesitando ao encará-lo.

"Beba isso," ele insistiu, oferecendo-me um copo. Olhei para o líquido dentro dele—"Relaxa, é só água. Vai te ajudar," ele disse com um tom casual que parecia esconder algo mais.

Peguei o copo e nossas mãos se tocaram por um breve momento; um choque percorreu meu corpo como um relâmpago inesperado. A respiração dele era quente e reconfortante, mesmo em meio à frieza do ambiente. Ele retirou a mão rapidamente, entregando-me o copo e dando um passo para trás. Assim que terminei de beber, coloquei-o na mesa ao lado da cama.

Meu olhar foi atraído pela minha bolsa atrás dele; caminhei lentamente até lá e ele se encostou levemente ao lado dela, aguardando minha aproximação. Seria isso uma provocação? O silêncio se instalou entre nós enquanto o som acelerado do meu coração ecoava no ambiente: aproximei-me para pegar a bolsa e senti o calor do corpo dele quase como uma chama viva perto de mim. Virei-me para olhar em seus olhos: "Obrigada, Alex."

Ele não respondeu; apenas continuava a me observar intensamente como se quisesse desvendar todos os meus segredos.

Querido diário, é fascinante perceber como meu corpo reage ao dele; será que essa conexão é unicamente minha? Desejo poder ler seus pensamentos e compreender o que passa pela mente de alguém tão distante e intrigante. Agora que sei seu nome—um pequeno passo—me pergunto quantos outros segredos ele guarda. No fundo, as advertências internas que tentam me afastar dele parecem apenas intensificar a atração que sinto por sua presença.

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