29 - Lisa

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— Não acredito que isso tá acontecendo

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— Não acredito que isso tá acontecendo. – anuncia Dexter — mais ou menos pela
milionésima vez — no banco de trás do Jeep de Jungkook.

Ao seu lado, Stella suspira e concorda — também pela milionésima vez:

— Quem diria, né? Estamos no carro de Jungkook Graham. Parte de mim tá com vontade de  dar uma de Carrie Underwood e gravar meu nome nos assentos de couro.

— Não se atreva! – ameaço do assento do motorista.

— Relaxa, não vou fazer nada. Mas parece que se não deixar minha marca neste
carro, ninguém nunca vai acreditar que estive nele.

Caramba, nem eu posso acreditar que ela está aqui. Yeeun ter topado vir para
Cambridge comigo não foi nenhuma surpresa, já que ainda está em busca de
detalhes a respeito de Jungkook, mas me espantei que Stella e Dex tenham insistido
em vir junto.

Até o momento, os dois já me perguntaram pelo menos duas vezes durante a viagem se Jungkook e eu estamos namorando. Usei minha resposta-padrão — só saímos às vezes. Mas está ficando cada vez mais difícil convencer a mim mesma disso.

Seguimos pelo restante do trajeto cantando aos berros. Dex e eu cantamos
juntos, e nossa harmonia é absurdamente incrível — por que não chamei Dex para
um dueto, droga? Yeeun e Stella seriam incapazes de cantar de forma afinada nem
que suas vidas dependessem disso, mas se juntam a nós nos refrões, e estamos
todos muito animados quando paro o carro no estacionamento da arena de hóquei.

Nunca vim a Harvard antes e gostaria de ter mais tempo para explorar o campus, mas já estamos atrasados, então levo meus amigos para dentro, porque não quero correr o risco de não encontrar lugar.

Fico espantada com o tamanho da arena, bastante moderna, e com a quantidade de pessoas aqui esta noite. Por sorte, encontramos quatro lugares vazios perto do lado da Briar no rinque. Não perdemos tempo comprando comida, já que devoramos uma tonelada de batatinhas no caminho.

— Certo, como funciona esse jogo mesmo ? – pergunta Dexter.

Sorrio.

— Sério?

— É, sério. Sou um garoto negro de Biloxi, Lily. Acha que sei alguma coisa
de hóquei?

— Muito justo.

Enquanto Yeeun e Stella conversam sobre uma de suas aulas de teatro, faço um
rápido resumo a Dex sobre o que ele pode esperar. No entanto, quando os jogadores surgem no gelo, percebo que minha explicação não lhes fez justiça. Este
é o primeiro jogo de hóquei que vejo ao vivo, e não esperava o clamor da multidão, o volume ensurdecedor do sistema de som, a rapidez surpreendente dos jogadores.

Jungkook joga com a camisa 44, mas não preciso nem olhar para o número para saber qual dos jogadores de preto e prata ele é. Está no centro da linha de ataque e,
no segundo em que o árbitro deixa cair o disco, ganha a disputa inicial e faz um
passe para Eunwoo — que eu pensei que jogava de ala, mas, aparentemente, faz parte da defesa.

Estou ocupada demais prestando atenção em Jungkook para me concentrar em
qualquer um dos outros jogadores. Ele é… hipnotizante. Se já é alto sem patins, agora parece enorme. E é tão veloz que tenho dificuldade de acompanhá-lo com o
olhar. Voa sobre o gelo, perseguindo o disco que Harvard roubou de nós e
marcando o adversário como um profissional. Briar sai na vantagem, graças a um gol de um jogador que o locutor chama de Jacob Berderon, e levo um segundo para perceber que está falando de Birdie, o aluno do último ano de cabelos
escuros que conheci no Malone’s.

O cronômetro no placar vai diminuindo, mas, quando penso que Briar vai conseguir fechar o primeiro período sem levar um gol, um dos atacantes de Harvard faz uma finalização rápida em cima de Simms e empata o jogo.

Quando o período termina e os jogadores desaparecem em seus respectivos túneis, Dex me cutuca nas costelas e diz:

— Sabe de uma coisa? Isso não é tão chato. Talvez devesse começar a jogar hóquei.

— Você sabe patinar? – pergunto.

— Não… Mas não deve ser tão difícil assim, né?

Caio na gargalhada.

— Melhor continuar com a música. – aconselho. — Ou, se estiver mesmo determinado a entrar para o mundo dos esportes, jogue futebol. A Briar faria bom uso de você.

Pelo que tenho ouvido, nosso time de futebol americano está na pior colocação
que a universidade já viu nos últimos anos, tendo ganhado apenas três dos oitojogos que disputou até agora. Mas Solomon disse que eles ainda têm uma chance de
chegar às finais, se, segundo ele,
“colocarem a merda da cabeça no lugar e
começarem a ganhar umas merdas de uns jogos”. Fico com pena de Beau, com
quem realmente gostei de conversar na festa.

No instante em que penso em Beau, o rosto de Justin me vem à cabeça como se
trazido por uma lufada de vento.

Merda.

Temos um jantar no domingo à noite.

Como fui me esquecer disso?

Porque você estava ocupada demais fazendo sexo com Jungkook.

É, por isso.

Mordo o lábio, na dúvida sobre o que fazer.

Não pensei em Justin uma única vez durante toda a semana, mas isso não diminui o fato de que passei o semestre
inteiro com ele na cabeça. Algo me atraiu nele para começo de conversa, e não posso simplesmente ignorar isso. Além do mais, nem sei o que está acontecendo
entre mim e Jungkook. Ele não levantou a questão namorado/ namorada. E não sei
se quero ser sua namorada.

Tenho um perfil ideal no que diz respeito a rapazes. Calmo, sério, temperamental. Criativo, se eu tiver sorte. Tocar um instrumento é sempre uma vantagem. Inteligente. Sarcástico, mas não de um jeito depreciativo. Sem medo de mostrar suas emoções. Alguém que me faça sentir… paz.
Jungkook tem algumas dessas qualidades, mas não todas. E não sei se paz é a forma exata de descrever o que sinto quando estou com ele. Quando estamos
discutindo ou perturbando um ao outro, é como se meu corpo inteiro estivesse
ligado na tomada. E quando estamos nus… é como se fogos de artifício explodissem dentro de mim.

Será que isso é bom?

Merda, não sei. Meu histórico com homens não é exatamente uma série de sucessos.

O que sei sobre relacionamentos? E como posso ter certeza de que Justin não é o cara com quem deveria estar se não sair com ele pelo menos uma vez?

— Então, por que eles falam em ‘penetrar na área’? – pergunta Dex, fascinado,quando o segundo período começa. — E por que isso soa tão pornográfico?

Do meu outro lado, Yeeun se estica para sorrir para Dexter.

— Amor, tudo no hóquei soa pornográfico. ‘Entre as pernas’? ‘Desarmar com o taco’? ‘Jogada por trás’? – Ela suspira. — Vai lá em casa qualquer dia escutar meu pai gritando ‘Enfia!’ milhares de vezes enquanto assiste a uma partida, e aí sim você vai ver o que é pornografia.

Dex e eu rimos tanto que quase caímos das cadeiras.

O Acordo - LiskookOnde histórias criam vida. Descubra agora