10 - Lisa

155 23 4
                                    

No domingo de manhã, minha mãe liga para a nossa conversa semanal, pela qual faz alguns dias que estou ansiosa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

No domingo de manhã, minha mãe liga para a nossa conversa semanal, pela
qual faz alguns dias que estou ansiosa.

Quase não temos tempo de bater papo
durante a semana, porque estou em aula durante o dia, ensaiando no fim da tarde,
trabalhando ou dormindo na hora em que minha mãe termina seu turno da noite
no supermercado.

A pior coisa da vida em Massachusetts é não poder ver meus pais. Sinto uma
falta imensa deles, mas, ao mesmo tempo, precisava me afastar, ir embora de Ransom. Só voltei uma vez desde a formatura da escola e, depois disso, todos nós concordamos que seria melhor se eu não aparecesse mais em casa. Minha tia e
meu tio moram na Filadélfia, então meus pais e eu passamos o feriado de Ação de
Graças e o Natal lá. No restante do tempo, nos falamos por telefone, e, com sorte,
eles vão conseguir juntar um dinheiro para poder vir me visitar.

Não é o melhor esquema, mas eles entendem por que não posso voltar para
casa. E eu não só entendo por que não podem sair, como sei que a culpa é minha.
Também sei que vou passar o resto da vida tentando compensá-los.

— Oi, querida. – A voz de minha mãe envolve meu ouvido como um abraço
caloroso.

— Oi, mãe – Ainda estou na cama, enrolada nas cobertas e olhando para o teto.

— Como foi a prova de ética?

— Tirei dez.

— Parabéns! Está vendo? Disse que você não tinha nada com que se preocupar.

— Confia em mim, tinha sim. Metade da turma reprovou. – Rolo para o lado e
descanso o telefone no ombro. — Como está o papai?

— Bem. – Ela faz uma pausa. — Pegou turnos extras na fábrica, mas…

Meu corpo fica tenso.

— Mas o quê?

— Mas parece que a gente não vai conseguir passar o feriado de Ação de Graças na tia Nicole, querida.

A dor e o pesar em sua voz me dilaceram como uma faca. Lágrimas ardem em
meus olhos, mas pisco, afastando-as.

— Você sabe que acabamos de consertar o vazamento no telhado e que isso foi um golpe e tanto nas nossas economias
– explica minha mãe. — Não temos dinheiro para a passagem.

— Por que vocês não vão de carro? – pergunto, baixinho. — Não é tão longe
assim… – Aham, só umas quinze horas de volante. Pertinho, só que não.

— Se a gente fizer isso, seu pai vai ter que tirar mais dias de folga, e não dá para
ficar sem esse dinheiro.

Mordo o lábio para impedir que as lágrimas caiam.

— Talvez eu pudesse…– Faço
uma conta rápida das minhas finanças.

Definitivamente não tenho dinheiro para
três passagens de avião para a Filadélfia.
Mas tenho para uma até Ransom.

O Acordo - LiskookOnde histórias criam vida. Descubra agora