Vai desistir?

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— Sinto muito dizer, mas o seu filho é gay. — Não espero o alô do outro lado da linha e descarrego a minha raiva.

Só pode ser isso para o fedelho me rejeitar.

— Sakura? — Quem mais?

— Sr. Sakumo — continuo a minha narrativa sem o responder, falando pelo viva voz do carro. — Seu filho saiu comigo uma vez e eu estranhei, sabe? Dei a entender que estava interessada, disse claramente mais de três vezes e nada. Porém, hoje à praia, foi o cúmulo, porque ele me recusou com todas as letras e ainda de forma grosseira.

Estou puta! Sabe o que é pistola da vida? Pronto, essa sou eu! Nunca fui rejeitada dessa forma, principalmente por um moleque virgem e solteiro.

— No contrato, não há nenhuma cláusula que fale sobre não conseguir cumprir o acordo por orientação sexual, então ou eu não devolvo a quantia, ou renegociamos. Na verdade, nada de renegociar, se o senhor não sabe que o seu filho é homossexual, eu não tenho culpa.

Cuspo tudo o que está entalado de uma vez e só então percebo que não sei se o pai da criatura mirim me escuta.

— Conheço a orientação sexual do meu filho, Sakura — responde como se nada pudesse abalar o seu humor, pelo menos pela voz, mas imagino que o homem seja tão frio que deve ter uma pedra no lugar do coração. — Kakashi já namorou uma garota na universidade. E eu o conheço, saberia se ele fosse.

Ok, esse relacionamento não estava no relatório.

— E se foi só para disfarçar?

Já vi muitas pessoas fazerem isso. Ou então, porque não tinha certeza sobre a orientação.

— Vai desistir? — como a porra do homem consegue ser tão calmo ao me fazer essa pergunta, enquanto estou hiper ventilando?

— Tenho que pensar, o garoto não me dá brecha. Adotei até um cachorro por causa dele!

E pela primeira vez escuto um traço de reação no homem ao gargalhar.

Ah, tá bom, deixa ele rir da minha desgraça.

— Puta merda!

Não contenho o palavreado ao ver que ultrapasso o semáforo vermelho e recebo várias buzinadas, me deixando ainda mais nervosa.

— Sakura, está tudo bem? Você está dirigindo enquanto fala comigo?

Ah, merda, agora vai bancar o correto. Porra, Sakura, o homem é juiz, pelo menos não de trânsito.

— Estou... no viva voz — respondo vários tons abaixo ao constatar as minhas mãos tremerem.

Logo alguns metros à frente, visualizo uma farmácia e decido parar um pouco e comprar uma água.

— E se ele for gay?

Por favor, Sakura, não chore. Inspiro e expiro e encosto a cabeça no volante.

— Se ele for, não há nada que conste no contrato sobre isso e o dinheiro é seu — responde com um tom paternal que não ouço há bastante tempo. — Se acalme e vá para casa, parece nervosa. Descanse e depois conversamos.

Sakumo desliga e apenas permaneço como estou antes de descer.

(...)

Só uma coisa aplaca a minha raiva e humilhação, e ela está deitada ao meu lado.

Viro-me de lado e passo a mão por cima do peito do homem, erguendo-me um pouco para sentir o cheiro de sexo na sua pele morena e mordo o ombro forte e magro.

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