Flutuar

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Eu gosto de silêncio, mas no qual estamos, sinto-me incomodado. Entendo que Sakura esteja chateada comigo, fui grosseiro com ela na praia e machista ao tirar o cartão para pagar a conta de Pakkun no hospital. No entanto, não foi a minha intenção. Outra coisa que me perturba é saber que Kiba e ela tem, ou tiveram algum tipo de relacionamento. Acredito que ele possui mais de trinta anos, portanto, um homem mais velho e experiente, muito boa pinta, por sinal.

— De onde você e o Kiba se conhecem? — A minha curiosidade vence a discrição.

Sakura bufa ao meu lado e acaricia a patinha do cãozinho que descansa em sua perna. Está medicado, mas ainda tem uma respiração ruidosa. Confesso que quando o vi com problemas, senti um leve desespero.

— Estudamos juntos — responde seca, observando a paisagem urbana pela janela do carro e eu fico surpreso com a sua resposta.

— Desculpe a pergunta, mas quantos anos tem?

Sakura me encara como se eu fosse um extraterrestre.

— Eu não estou conseguindo acompanhar o seu humor, Kakashi. Uma hora você é gentil e parece interessado, para depois me evitar e ser grosseiro. Agora está sendo legal de novo, quis pagar uma dívida minha e quer saber sobre a minha vida pessoal. Me explique melhor o que deseja porque eu não te entendo.

Culpado.

Como explicar tudo? Não tenho maturidade para relacionamentos e muito menos com mulheres lindas que demonstram algum tipo de interesse por mim. Como dizer que sou medroso e covarde sem parecer um adolescente? E para falar sobre isso, eu precisaria que ela soubesse por tudo o que já passei e não é a minha intenção se fazer de vítima, mas é dolorido demais relembrar e colocar em palavras, todas as minhas fraquezas. Além disso, Sakura com certeza se relaciona com homens mais velhos e descolados, como Kiba.

— Desculpe-me. Eu...

— Eu te liguei, Kakashi. Você prometeu me ajudar a cuidar dele, caso precisasse, e quando precisei, você sumiu.

Os olhos parecem levemente marejados e ela traz Pakkun um pouco mais próximo de si, com a intenção de protegê-lo. Ela está parecendo tão frágil, completamente diferente das versões que conheci até hoje. Quase uma garota pedindo socorro para ser acolhida.

— Eu não vi... — O que é a verdade. — Estava no hospital, pois o Shiba, um dos cães da ONG está fazendo um tratamento médico.

— Mas se tivesse visto, me atenderia? — pergunta e não tenho uma resposta para isso. Provavelmente não. — Por favor, pode parar o carro e abrir a porta? Vou ir andando a partir daqui, estou bem perto de casa.

Quando nos encontramos no café eu estava tão encantado por ela, que me deixei levar pelo seu charme e o seu aparente interesse, mas quando cheguei a minha residência, percebi que algumas coisas pareciam mais forçadas do que verdadeiras e um alerta acendeu. Por isso, comecei a evitá-la. Agora, estou enxergando algo mais genuíno e não sei no que acreditar.

Quais as suas reais intenções? Quem é realmente Sakura? Ou ela é tudo o que já vi em uma só?

— Não, eu a deixarei em casa. — Preciso ser enfático e confiante, então, ela suspira. — Me desculpe, Sakura. Tenho problemas com confiança.

Isso é o mais próximo que consigo falar sobre mim e os meus traumas.

Ela não me responde e nem me olha, a janela parece mais interessante. Estaciono em frente a sua casa e sinto-me um tolo. Não sei o que passa pela sua cabeça, e se antes realmente havia interesse, agora não parece mais. Ou nesse momento, realmente eu esteja enxergando a mulher em seus traços genuínos.

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