Capítulo 14

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Apoio-me na parede de pedra e me levanto. Quando meu pé toca o chão, um grito estrangulado escapa da minha boca. A dor lancinante torna quase impossível me manter em pé. Tento dividir meu peso entre a perna direita e a esquerda. Está tão escuro que não vejo nada. Acendo a lanterna. A luz fraca revela um labirinto de túneis. A lenda de que eles levam até o Morro da Queimada parece real. Engulo a dor e, mancando, começo a explorar o ambiente.

Sinto um cheiro úmido e terroso. O ar é denso, carregado com o cheiro de rochas antigas e musgo, que cresce nas superfícies úmidas. Cada respiração, o ar pesado dos túneis deixa minha boca com o gosto amargo de cinzas. O barulho de água faz o meu coração acelerar. Agora entendo por que as pessoas achavam que havia assombrações vivendo no subsolo da igreja. É apenas o barulho da água percorrendo os túneis subterrâneos. 

A cada passo, meus pés afundam na camada fofa de pó que cobre o chão. Teias de aranha grudam em mim como tentáculos, tentando me segurar. Os túneis são enormes, robustos, assustadores. E depois de algum tempo explorando o subterrâneo, começo a duvidar dos meus próprios sentidos. Não sei mais se é o barulho da água ou se são sussurros. Os sussurros são tantos e tão persistentes que não consigo discernir de onde vêm. É como se as paredes da caverna estivessem vivas, murmurando segredos antigos. 

Segredos que elas não querem que eu descubra.

— É apenas a água — repito para mim mesma, como um mantra.

Mas logo minha convicção se desfaz. Os sussurros se intensificam, ecoando nas paredes úmidas dos túneis à medida que me aproximo. A indecisão me consome. Qual caminho devo seguir? Fecho os olhos e deixo meu instinto me guiar. Meu olfato. Escolho o túnel com o cheiro mais fresco. Se há algo humano aqui embaixo, deve estar no local mais ventilado deste labirinto sufocante. 

Engulo meu medo como se fosse um remédio amargo, esperando que, no final, ele me faça bem. Pelo menos, é o que desejo. Entro no túnel com o cheiro mais fresco. A escuridão é absoluta, tão densa quanto uma noite sem estrelas. Se não fosse pela fraca luz da lanterna, eu seria devorada pela escuridão, perdida para sempre neste abismo subterrâneo.

TIC

TAC

TIC

TAC

TIC

TAC

O relógio acelera junto com minha respiração, cada segundo marcando o ritmo frenético do meu coração. Seguro-o com força, como se fosse meu último fio de esperança. Preciso reunir todas as minhas forças para encontrar o que quer que esteja escondido aqui embaixo. O relógio é tanto uma benção quanto uma maldição, ele me lembra que o meu tempo está acabando, mas também me lembra que devo lutar se eu quiser mais tempo.

Se eu quiser viver.

Continuo explorando os túneis, passando as mãos nas rochas frias e ásperas, tão escuras quanto obsidiana. O tempo parece se distorcer enquanto caminho. Não sei quanto tempo se passou. De repente, a lanterna pisca. Uma. Duas. Três vezes, e apaga. A escuridão me envolve, sufocante e impenetrável. Não consigo enxergar nada, nem ouvir, o silêncio é absoluto. É como se alguém tivesse coberto meus olhos e meus ouvidos. Os sussurros e o som da água desaparecem, como se meus sentidos fossem tragados pela escuridão, deixando-me sozinha com meus pensamentos e medos mais profundos.

Sou só eu com meus pensamentos repetitivos e acelerados. Sinto uma vontade desesperada de gritar, de chorar. A bile sobe pela minha garganta, e coloco a mão na boca para conter o vômito que ameaça escapar. Meu coração parece ser rasgado ao meio pela agonia que o invade. É insuportável. Sei que estou tendo uma crise de ansiedade. 

Uma Sombra no OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora