Capítulo 5

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Minhas mãos tremem, sinto minhas forças escapando pelos meus dedos. Minha cabeça gira vertiginosamente. Ou será a sala que está girando ao meu redor? Salas não giram, Cecília. A sensação é de estar sendo puxada para um redemoinho que me lança em um abismo. Tento me convencer: não é real. Não pode ser real. Diários não se escrevem sozinhos. E, no entanto, ali estão as palavras que me causam tanto desconforto:

Prazer em conhecê-la, Cecília querida.

Será possível que eu tenha escrito isso sem perceber? Estou perdendo a sanidade? Será que a doença está avançando, corroendo minha mente? A paranoia se infiltra, tornando difícil distinguir o real do imaginário. O que é real? O que é imaginário? Nada parece fazer sentido.

Seguro o diário com força desejando que ele se desfaça, que desapareça diante dos meus olhos. Mas, ao contrário das minhas expectativas, o diário permanece intacto. Apenas as palavras, como sombras que passam nas paredes, começam a sumir. Elas se dissolvem no papel, como se nunca tivessem existido, apenas para ressurgir logo em seguida.

Você quer jogar um jogo comigo, Cecília?

Não sei o que fazer, apenas encaro a página até que ela muda de novo.

Se você não responder, o jogo perde a graça.

A incerteza me consome. Será que isso é real? Não tenho as respostas. Mas estou disposta a jogar o jogo para encontrar uma cura para minha condição. Talvez tudo isso esteja acontecendo apenas na minha mente, e para me curar, eu precise ir além dos meus próprios limites. Preciso jogar o jogo para descobrir a verdade. A cura. Pego a caneta tinteiro e forçando minha mão a ficar firme, escrevo:

Que tipo de jogo?

Assim que termino de escrever, as palavras somem e mais letras aparecem.

Um jogo de adivinhação. Dependendo do seu desempenho, conto o que você tanto quer saber... ou melhor, o que seu coração tanto deseja.

Quanta arrogância, penso, soltando um suspiro resignado 

Quem você pensa que é para saber o que meu coração deseja? Você não me conhece.

Acompanho sua família há muito tempo.

Quem é você? 

As palavras somem, mas não aparecem mais. Então eu compartilho as informações que minha avó deixou no diário, procurando confirmar a identidade de quem estou conversando:

Minha avó Helena falava de você como aquele que concede o dom... aquele que permanece além do tempo.

Correto.

Um ancestral da família Resende não pôde pagar o preço do dom. Então você fez os descendentes pagarem também. 

Perco a pouca paciência que eu tenho:

E agora, o que você quer comigo, seu desgraçado arrogante? Não foi o sucifiente assassinar meus ancestrais?

Estou ciente do ódio que nutre por mim, mas seu verdadeiro rancor deveria ser direcionado àquele que buscou além do que podia ser. Ele almejou a perfeição sem se importar com o preço, amaldiçoando não só a si mesmo, mas toda a sua linhagem. Muitos se perdem nessa busca, e ele, em sua arrogância, condenou a si e aos seus descendentes a esse fardo. 

Uma Sombra no OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora