Capítulo 26

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— Alguém está escondendo algo de mim? — pergunto, sentindo uma inquietação corroer meu peito.

— Sim — a mulher responde — As tatuagens que você escolheu mostram que alguém muito próximo está escondendo a verdade de você, distorcendo o que você vê, criando uma ilusão para te manter cega à realidade.

Meu celular vibra, o nome de Eric brilha na tela, mas meus dedos, pesados como chumbo, não conseguem atender. Ele parece tão distante agora, alguém inalcançável como se vivêssemos em universos separados. 

— Eric — sussurro, o nome que antes trazia conforto agora me traz um vazio devastador.

— Você sabe o que esse nome significa? — a voz da mulher corta o ar, seus olhos fixos em mim.

— Não.

— É um nome germânico. Significa aquele que governa para sempre. O rei solitário. O que governa sozinho.

Aquele que governa para sempre. Solitário. Sozinho. As palavras se infiltram em meus pensamentos. Aquele que permanece além do tempo. E então tudo começa a se encaixar, uma verdade que sempre esteve ali, mas que me recusei a aceitar.

O quadro em minhas mãos pesa como os séculos de história que ele viveu. Não é só um quadro. Não é apenas arte. É Eric. Sempre foi Eric. A sombra que eu não quis ver. A voz que eu me recusei a ouvir.

Eric. 

Eric. 

Eric. 

O celular vibra incessantemente. Eu o encaro, mas não consigo atender. 

Não consigo enfrentá-lo. 

Não ainda.

— Qual é a distância até a Mina da Passagem? — pergunto de repente, minha mente já tomada por uma decisão que ainda não compreendo completamente.

— Quase uma hora a pé — ela responde, confusa com a pergunta.

— Obrigada — digo, entregando o copo de volta para ela e me levantando com esforço. O quadro continua preso em minhas mãos. E por mais que esteja pesado sou incapaz de soltá-lo.

— Você vai até a mina... nesse estado? Além disso, a mina já fechou. 

— Vou — afirmo, sentindo a dureza em minhas próprias palavras. — Lá é o único lugar onde encontrarei o que procuro.

— Mas você não está bem — ela insiste, o olhar carregado de compaixão.

Eu sorrio, um sorriso amargo, tão quebrado quanto eu. Nunca estive bem. Essa é a verdade que carrego há tanto tempo. E talvez essa seja a última chance de corrigir o que está errado. Cada passo que dou é um passo em direção à verdade. Ainda que essa verdade me destrua. 

— Se um homem vier me procurar... diga que voltei para Ouro Preto.

— Mas você está indo para a Mina da Passagem... — ela me olha, confusa, inquieta.

— Ele não precisa saber disso — sussurro, piscando, como se guardar esse segredo fosse a única coisa que ainda posso controlar.

— Você terá que tomar decisões que cortam mais fundo do que qualquer lâmina — a voz da mulher soa suave, quase como um sussurro, enquanto seus olhos profundos me observam. — Vou rezar por você. 

Agradeço com um aceno silencioso. Saio da tenda, e o vento gelado de Mariana me envolve como um abraço áspero. O ar da noite é frio e pesado, mas parece mais leve do que o peso que carrego dentro de mim. Eric continua ligando. Recuso as ligações com um gesto mecânico, e envio uma mensagem para Renata, dizendo que estou a caminho de Ouro Preto.

Uma Sombra no OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora