Capítulo 9

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— Quais foram as condições do seu acordo? — eu pergunto.

— Se eu não morrer, alguém que me ama vai morrer no meu lugar.

Renata, o nome dela vem na minha cabeça.

Engulo em seco.

— Como você acha que pode mudar as condições originais do acordo?

— Ainda estou trabalhando nisso — ele diz. — Mas agora, com uma historiadora, as coisas vão fluir com mais facilidade.

— Vamos começar descobrindo quem é o homem da pintura.

— Eu já tentei, mas não descobri nada. — Ele solta um suspiro frustrado. — Acho que eu não sabia onde procurar, mas você saberá.

Espero que sim.

— Mas já está tarde. Não podemos fazer mais nada agora. Quais são os seus horários disponíveis para nos encontrarmos nos próximos dias?

A pergunta me pega desprevenida. Eu não esperava encontrar com ele com tanta frequência.

— De manhã e à tarde eu costumo pintar. Sei que é absurdo pintar enquanto o tempo está passando, mas...

— Eu entendo. — Nossos olhares se prendem. — Uma vida sem arte não vale a pena ser vivida.

Assinto com a cabeça.

— Podemos nos encontrar no início da noite. Mas preciso voltar até meia-noite. — Não digo que preciso voltar para dar ração para o gato sem nome. Ele não precisa saber dessa informação.

— Perfeito. É o horário que a galeria tem poucos clientes. Os turistas vêm mais de manhã e à tarde.

— Entendo — eu digo. — Bom, se está tudo resolvido...

— Então, até amanhã, Cecília. Estou ansioso para trabalhar com você. — Ele sorri. Seu sorriso é tão afiado quanto uma navalha.

— Também estou ansiosa para trabalhar com você. — Eu repito sem emoção nenhuma nas minhas palavras. Digo o que é esperado de mim, mas não o que sinto no meu coração. O que eu sinto é que não devo confiar nele. Que ele esconde algo de mim. Então, vou ficar ao lado dele até descobrir. E se precisar, vou usá-lo para me salvar. Afinal, pessoas quando encaram a morte são capazes de tudo. — Boa noite, Eric.

— Boa noite, Cecília.

Atravesso o salão da galeria observando a seleção impecável de quadros, móveis e estátuas. Quando estou passando pelo batente da porta da entrada, alguém segura meu braço com tanta força que quase solto um grito. Giro nos calcanhares e encontro seus olhos verdes musgo. Eles possuem um brilho misterioso, como se contassem histórias antigas, histórias a muito tempo esquecidas.

— Desculpa se assustei você. — Ele recolhe as mãos. — Mas para comemorar nossa parceria... — Ele coloca uma garrafa de vinho na minha mão. Eu o esquadrinho confusa. — É o vinho que estávamos tomando.

— Ah, obrigada.

— Posso te levar de volta para casa? Está tarde, por mais que Ouro Preto seja uma cidade pequena, é perigoso ir sozinha.

— Não, obrigada. — Não quero que ele saiba onde eu moro.

— Eu imaginei que não aceitaria. Você ainda não confia em mim. É tão arisca quanto um gato. — Ele solta uma risadinha debochada que me irrita.

— Você tem razão. Sou capaz de arranhar.

Ele me observa com sorriso divertido no rosto.

— Vendo você tão sincera assim, me faz querer ser sincero também. Achei que ia me mandar me foder por falar para você não fumar na galeria.

Uma Sombra no OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora