— Quais foram as condições do seu acordo? — eu pergunto.
— Se eu não morrer, alguém que me ama vai morrer no meu lugar.
Renata, o nome dela vem na minha cabeça.
Engulo em seco.
— Como você acha que pode mudar as condições originais do acordo?
— Ainda estou trabalhando nisso — ele diz. — Mas agora, com uma historiadora, as coisas vão fluir com mais facilidade.
— Vamos começar descobrindo quem é o homem da pintura.
— Eu já tentei, mas não descobri nada. — Ele solta um suspiro frustrado. — Acho que eu não sabia onde procurar, mas você saberá.
Espero que sim.
— Mas já está tarde. Não podemos fazer mais nada agora. Quais são os seus horários disponíveis para nos encontrarmos nos próximos dias?
A pergunta me pega desprevenida. Eu não esperava encontrar com ele com tanta frequência.
— De manhã e à tarde eu costumo pintar. Sei que é absurdo pintar enquanto o tempo está passando, mas...
— Eu entendo. — Nossos olhares se prendem. — Uma vida sem arte não vale a pena ser vivida.
Assinto com a cabeça.
— Podemos nos encontrar no início da noite. Mas preciso voltar até meia-noite. — Não digo que preciso voltar para dar ração para o gato sem nome. Ele não precisa saber dessa informação.
— Perfeito. É o horário que a galeria tem poucos clientes. Os turistas vêm mais de manhã e à tarde.
— Entendo — eu digo. — Bom, se está tudo resolvido...
— Então, até amanhã, Cecília. Estou ansioso para trabalhar com você. — Ele sorri. Seu sorriso é tão afiado quanto uma navalha.
— Também estou ansiosa para trabalhar com você. — Eu repito sem emoção nenhuma nas minhas palavras. Digo o que é esperado de mim, mas não o que sinto no meu coração. O que eu sinto é que não devo confiar nele. Que ele esconde algo de mim. Então, vou ficar ao lado dele até descobrir. E se precisar, vou usá-lo para me salvar. Afinal, pessoas quando encaram a morte são capazes de tudo. — Boa noite, Eric.
— Boa noite, Cecília.
Atravesso o salão da galeria observando a seleção impecável de quadros, móveis e estátuas. Quando estou passando pelo batente da porta da entrada, alguém segura meu braço com tanta força que quase solto um grito. Giro nos calcanhares e encontro seus olhos verdes musgo. Eles possuem um brilho misterioso, como se contassem histórias antigas, histórias a muito tempo esquecidas.
— Desculpa se assustei você. — Ele recolhe as mãos. — Mas para comemorar nossa parceria... — Ele coloca uma garrafa de vinho na minha mão. Eu o esquadrinho confusa. — É o vinho que estávamos tomando.
— Ah, obrigada.
— Posso te levar de volta para casa? Está tarde, por mais que Ouro Preto seja uma cidade pequena, é perigoso ir sozinha.
— Não, obrigada. — Não quero que ele saiba onde eu moro.
— Eu imaginei que não aceitaria. Você ainda não confia em mim. É tão arisca quanto um gato. — Ele solta uma risadinha debochada que me irrita.
— Você tem razão. Sou capaz de arranhar.
Ele me observa com sorriso divertido no rosto.
— Vendo você tão sincera assim, me faz querer ser sincero também. Achei que ia me mandar me foder por falar para você não fumar na galeria.
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Uma Sombra no Ouro
FantasyUma mistura dos bestsellers "A biblioteca da meia-noite", "A vida invisível de Addie LaRue" e do clássico "O retrato de Dorian Gray" Às vésperas de seus 30 anos, as únicas conquistas na vida de Cecília Resende foram o diagnóstico de ansiedade e dep...