Capítulo 16

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Eu estava me sentindo bem depois de me encontrar com Renata, aliviada por descobrir que Eric havia mantido sua promessa. Pela primeira vez em muito tempo, as peças da minha vida pareciam estar se encaixando, e a felicidade, algo tão distante, finalmente parecia ao meu alcance. O mundo, antes tão frio e impiedoso, agora me parecia menos hostil, quase acolhedor. Mas essa sensação foi passageira, uma ilusão que se dissipou tão rápido quanto as neblinas nas manhãs de Ouro Preto.

Eu me enganei.

Menti para mim mesma.

— Você disse que seria difícil derrotá-lo. Mas eu esperava que não fosse tanto. Ele está aqui há pelo menos 300 anos. Não imaginei que ele seria tão antigo, tão poderoso. Eu me sinto... — minha voz falha, embargada pelas lágrimas que começam a cair, molhando minhas botas. Levanto o olhar para Eric, buscando em seus olhos alguma esperança, mas encontrei apenas o vazio. — Não acho que podemos...

Vencer.

Seis letras que significam tudo.

Seis letras que nos separam da vida e da morte.

— Fui ingênua ao pensar que poderia derrotar alguém capaz de mudar o curso da história. Não consigo compreender a extensão dos poderes dele. E também não entendo por que ele se interessa por nós... — Na verdade, eu sabia por que ele se interessava por Eric. Ele tinha um dom incrível para escolher obras de arte. O que eu não entendia era por que ele se interessava pelos meus quadros medíocres. — Por mim.

Eric permanece em silêncio. Aproxima-se devagar, sua presença é quase uma sombra, e coloca a mão nas minhas costas, guiando-me para um canto isolado do museu. Ele para na minha frente, e, como ele é cerca de trinta centímetros mais alto, ninguém mais pode me ver. Tento conter as lágrimas. Estou cansada de chorar, de sofrer, de me sentir triste. Estou exausta de viver em um estado constante de depressão. Quando começo a me sentir patética por ser uma adulta prestes a chorar em público, desejo desaparecer. Mas a verdade é que prefiro sentir dor e desespero a não sentir... nada. Eric não parece se incomodar com meu descontrole emocional.

Ele provavelmente não espera nada de mim. Sou só uma mulher desempregada prestes a completar trinta anos. Pedi demissão porque nem a carreira para a qual estudei por quatro anos eu conseguia seguir. Nunca consegui realizar a simples tarefa de fazer os adolescentes gostarem de história, então por que eu venceria uma entidade tão antiga quanto a luz?

Fui arrogante.

Não faço nada certo. Não sou alguém que mereça afeto. Nunca aprendi a amar, e, para ser honesta, o amor sempre me pareceu uma miragem distante. Sinto um desprezo pela maioria das pessoas; vejo-as como egoístas, falsas, mentirosas. Tudo que eu toco, desfaz-se em cacos, como se minha presença carregasse um toque destrutivo.

Sempre há essa desconfiança corroendo meu peito, a certeza de que as pessoas ao meu redor têm segundas intenções. Elas se aproximam, fingem se importar, mas, no fundo, é só uma questão de tempo até que seus interesses esgotem e eu seja descartada. Ninguém me quer de verdade, e quem poderia culpar? Eu mesma não consigo gostar de quem sou.

Estou presa em um ciclo sombrio, onde a negatividade me envolve como uma neblina espessa. Tento me ajustar, mas tudo ao meu redor parece vazio, uma farsa encenada para manter as aparências. Quando estou entendiada e deslizo pelas redes sociais, não vejo ninguém mal-sucedido nos feeds, pelo contrário. 

Todos são felizes.

Todos são bem-sucedidos.

Em uma época onde a fachada de sucesso e felicidade vale mais do que a vida real, mostrar-se vulnerável, triste, ou deprimido é como assinar uma sentença de rejeição... de morte. As pessoas não querem pessimistas por perto... ou seriam realistas? Elas desejam por aqueles que irradiam gratidão, leveza, otimismo. 

Uma Sombra no OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora