Ⅺ • Receptáculo

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Sam

Meu coração estava quase saltando para fora do meu peito de tão agitado. Como se não fosse caótico o suficiente correr ao som de Alex sendo morto, começou uma tempestade. Meu all-star estava completamente encharcado de lama, e minhas roupas ensopadas. 

Quando fechamos a porta de nossa cabana, vimos todos nós ofegantes e com os corpos completamente molhados. Esperava que o que quer seja que Sophie e Marck tem para nos contar, tenha valido a pena, pois custou uma vida. Não entrava na minha cabeça como Sophie e Marck estavam tão de boa em usar um ser humano como isca. Assim como eles, Alex também era uma pessoa, era filho de alguém, amigo de alguém, um ser humano com sonhos, que confiava na gente. Como Sophie e Marck conseguiram chegar à conclusão de que a vida deles é mais importante que a de Alex? 

— G-gente — Sophie balbuciou. Ela estava muito ofegante e apoiava suas mãos em seus joelhos, se recompondo. — Sam, a gente achou umas fichas.

— E uns... desenhos — Marck mostrou. Eram os desenhos do ritual que Sophie havia nos contado, com o crucifixo para baixo. O ritual me assustou, porque quem estava no crucifixo era eu. Eu estava completamente nua e cheia de ferimentos, coberta de sangue dos pés à cabeça. Era esse o ritual que iriam fazer comigo? Eu não entendia por que eu era tão importante. Eu só queria ser parar de sentir medo e poder me sentir segura, dormir sem ter pesadelos, sair da cabana sem ter medo de ser meu último dia de vida. Queria que esse acampamento realmente tivesse sido um acampamento normal.

Sophie deu para cada um sua ficha. Estava com um pouco de água, mas não interferia na nossa leitura. Vi Alana segurar o próprio papel e se sentar no beliche, novamente em posição fetal. Seu irmão estava ao seu lado, tentando consolá-la, imaginei. Deveria ser difícil ter medo de chuva.

Eu estava cansada das minhas vozes dizendo que eu tocaria o sino, que eu era a escolhida, que eu deveria me matar. Mas ler isso em um papel era muito mais assustador, era uma confirmação de que eu não tinha salvação. Como assim eu era perfeita? Perfeita para quê? Eu morreria por respostas se pudesse, naquele momento. 

— O que é objeto de medo? — Marck perguntou.

— Eu acho que é alguém que é usado pra causar medo. Medo é a fonte de poder desse Tsu — Sophie teorizou. Era difícil ficar brigada com Sophie quando ela estava de cabelo molhado. Seu cabelo sempre foi bonito, mas com Sophie encharcada e de cabelo molhado...

— O que é receptáculo? — Perguntei, falando muito alto. A chuva e o vento estavam tão barulhentos que não nos deixavam ouvir nossos próprios pensamentos. — Isso tá na minha ficha e na do André.

— Não sei. Nunca ouvi isso. Receptáculo — Marck me respondeu.

— Receptáculo? — Ouvi Sandy, o irmão de Alana, perguntar.

— Isso — afirmei.

— É tipo... um local vazio. É como um lugar pra guardar algo. Uma cápsula — ele respondeu.

Apesar dele quase não falar, era muito inteligente. Queria que ele falasse mais.

— Quê? O André era uma cápsula? — Sophie franziu as sobrancelhas, tão confusa quanto eu. Também não entendi a filosofia de primeira.

— Pode ter algo dentro dele. Nessa situação, pode ser alguém também — Sandy continuou. — Tipo o Bones do Marck.

— TINHA ALGUÉM CONTROLANDO O ANDRÉ? — Sophie respondeu, de boca aberta. — Isso explica muita coisa.

— Por que alguém iria querer controlar o André? — Marck se questionou.

— Pra espionar a gente. Lembra quando a gente tava na enfermaria? Ele disse algo estranho, eu não lembro o que. Algo de supervisionar a gente — me lembrei.

O Abismo do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora