Os olhos pequenininhos...! Boca pequenininha, nariz pequenininho, tudo pequenininho... Um amor tão profundo e sincero, que pode acalmar completamente todos os meus sentidos.
Olho no espelhinho de seu quarto que estava na nossa frente, nós dois abraçados. Ele dormindo, e eu quase dormindo também. Eu e meu filho.
É a quarta vez que vejo Rafael, meu filho, depois que eu e a Rosane nos separamos. Por mais que eu sabia que ela não queria falar comigo de novo, eu não podia ficar sem meu filho, eu nunca aceitaria isso. Mandava mensagem pra ela sempre que surgia a oportunidade, até que um dia, ela cedeu e negociamos.
Como o Rafael ainda é bebê, ela quer que eu o veja com menos frequência, mas disse que conforme ele crescer, podemos negociar mais visitas. Vagabunda.
Falando no demônio, Rosane entra no quarto, falando na maior altura, e acordando o bebê.
- Roberto, acho que você já tá aqui a tempo...
O bebê, acordando assustado com o tom da voz, começa a chorar, cortando sua fala.
- Acordou o Rafael, Rosane. - Falo irritado, olhando pra aquela carinha de esquilinho coitadinho, que por dentro é uma criatura do inferno.
Eu e Rosane não tínhamos problemas no nosso casamento, pelo menos eu nunca vi problemas. Mas na moral, depois que ela simplesmente vazou com nosso filho, percebi que foi livramento. Sinto que esse casamento foi uma falha. Quem sabe em outra vida eu tenho uma esposa de verdade.
Levanto da cadeirinha que balança com o bebê, nos braços, tentando acalma-lo, e olho para Rosane.
- Outra coisa. Não acredito que você veio aqui só pra me encher o saco!
- Essa casa aqui é minha. Você tem que sair e entrar quando eu bem entender.
- Tá bom, mas você esquece que eu e você tivemos um filho, né? E você deveria dar graças a Deus que eu pago pensão, quero ajudar, e venho visitar ele, porque tem muito marica por aí que engravida e vai embora.
- Meu Deus do céu. Eu não acredito que você disse uma merda dessas!
- Eu tô sendo sincero com você, porra! - Rafael não parava de chorar, no calor do momento, coloco-o em seu berço, pego no pulso de Rosane e a puxo para fora do quarto, fechando a porta.
- Ele tá chorando! Não é pra deixar ele sozinho!!!!!
- CALA A BOCA. Cala a sua boca e você me escuta agora.
- EU NÃO VOU CALAR, ROBERTO. Já tô cansada dessa sua mania de dar ordens pra mim, pra todos! Debaixo desse teto, você não manda em mim, e eu não obedeço você. - Ela se solta bruscamente da minha mão. - Nem pra ser pai você serve.
Os músculos de meu rosto congelam. Só consigo ficar com uma expressão facial - cenho franzido e boca semiaberta. "Nem pra ser pai você serve"? Eu fui de "vilão da história" pra "zé ninguém"?
Inconsolado - apesar de não demonstrar muito pelas minhas expressões faciais - ando até a mesinha de centro da sala de estar da casa da Rosane, pegando minha boina de uniforme.
- Beto...
Ignoro, indo embora daquele inferno batendo a porta. Na rua, ando por algumas casas, lojas, sentindo meu corpo se esquentar. Chego em uma praça um pouco deserta, e me sento em um banco. Olho em volta, depois para minhas mãos, a palma de minhas mãos. Uma lágrima cai.
Eu não me lembro quando tinha sido a última vez que eu chorei, e me recuso a admitir diretamente que estou aqui chorando, só por causa da fala de uma cachorra burra. Talvez eu devesse ter mais respeito com a Rosane, sim, eu sei, mas que ela é uma imbecil, de fato ela é, e eu não consigo ignorar isso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
⊹ ࣪ ˖. .ᐟ𝑪𝒆𝒎 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆 ִ ࣪𝜗𝜚 - Capitão Nascimento
ФанфикCibelle é uma estudante universitária residente no Rio de Janeiro, estagiando em comunidades da cidade com a saúde pública negligenciada pelo Estado. Claramente, não é o lugar mais seguro do mundo para se trabalhar. O crime, o tráfico, a violência...