Os últimos toques. O perfume, sapatos, o cabelo, o presente - um colar de prata com um pingente em formato de estetoscópio, guardado em uma caixinha, que carregarei em meu bolso.
Me preparo para comparecer na cerimônia de formatura de Cibelle, enquanto ouço o noticiário, como se estivesse conversando comigo. Assim que coloco a caixa com o colar no bolso da minha calça, escutei o que esperava.
"O BOPE, Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio de Janeiro, está realizando uma operação para encontrar as origens das rotas de tráfico de drogas na favela do Jacarezinho, comandada por criminosos parcialmente identificados. Foram encontrados até então, 3 homens com os nomes Juan Ferreira Parrilho, Marcos Vinícius Oliveira e Lucas Rodrigues de Almeida Vilela, todos traficantes de drogas. O Jornal de Hoje entrevistou o comandante das operações, Roberto Nascimento, para esclarecer os fatos."
"Nós iniciamos a operação cerca de 4 semanas atrás, e ao início do processo, foram encontrados 2 rapazes compartilhando substâncias ilícitas, e encontramos, também, mais um garoto que estava dirigindo em alta velocidade e entrou em fuga."
"E você acha que a operação será sucedida?"
"Fazemos de tudo pra manter a segurança do povo, obrigada."Solto um riso baixo quando vejo o final da matéria. A verdade é que, falei essa última frase e saí andando. Não gosto e nem costumo dar entrevistas para esses jornais. Pego o controle da televisão e a desligo, para sair de casa.
[...]
Cibelle me explicou como seria o evento. A universidade possui um salão próprio para oferecer a colação de grau, mas a festa de formatura será em outro lugar, planejado pela turma dela. A universidade ficava longe da minha casa, então acabei atrasando poucos minutos, tive medo de não conseguir ver minha garota desfilar.
Corri pelo grande corredor que antecedia o salão principal, e fui me enfiando em meio ás pessoas, tentando ficar o mais próximo possível da passarela. Provavelmente pela minha altura e estatura, conseguia passar pelas pessoas. Consigo um lugar do lado do palco.
Mesmo com um olhar tristonho misterioso, sua beleza radiante iluminava aquela passarela. Não ironicamente, a Cibelle é uma mulher surreal de linda, e seu físico simplesmente me cega de todas as outras coisas. Todas as mulheres ficam desinteressantes perto dela, nenhum abraço é melhor que o dela, nenhum perfume é melhor do que o dela... E ainda que eu a admire tanto, quero a conhecer muito mais.
Dou um 'tchauzinho' para ela antes que subisse no palco, pareceu alegrar ela. Assim que for possível, eu tento descobrir a origem daquela cara não sorridente - afinal, não vejo motivos para não se estar rindo em um dos dias mais importantes e felizes da vida de alguém.
[...]
Ao compasso do meu pisar, o salto do sapato ecoa um estalo que remete a elegância. Me aproximo cada vez mais de Cibelle, vejo dois pré adolescentes abraçando-a, perto de mais algumas pessoas que imagino ser seus parentes.
Antes de qualquer coisa, penso que é educado que eu cumprimente a família dela primeiro. Então olho para a mulher que imagino ser a mãe de Cibelle - não tem como não ser, uma é o xerox da cara da outra. Nos olhamos ao mesmo tempo. Sorrio e me aproximo.
- Boa noite, tudo bem? Você é a mãe da Cibelle?
- Olá, sou sim!
- Prazer, Capitão Nascimento. - Estendo minha mão para cumprimentar a mais velha, que sorri timidamente, mas aperta minha mão mesmo assim.
Olho para o lado, os adolescentes já não estão mais falando com ela, então também os cumprimento.
- E esses são os irmãos, né? - Aponto para eles e direciono meu questionamento à mãe, que concorda. - Boa noite, prazer, Capitão Nascimento. Sou amigo da irmã de vocês.
- Boa noite, prazer! - Respondeu a menina.
- Boa noite. - Respondeu o menino.
Com o sorriso no rosto, cruzo meus braços esperando Belle terminar de conversar com sua amiga - sinto que estou sendo constantemente observado. Me aproximo dela por trás, e a minha verdadeira vontade é abraçar seu corpo e beijá-lo até não saber mais meu nome. O perfume e aroma agradável em seu cabelo entopem as minhas veias de hormônios da alegria que eu não saberia lembrar do nome de algum, sequer.
Mas, como tenho o senso, só encosto em sua mão, porém da maneira mais delicada que eu poderia. Ela se vira, e dou os meus parabéns: um abraço e beijo na bochecha apaixonante, mas não muito na cara - não faria algo tão explícito na frente dos parentes dela. Afasto-me, e tenho a urgência de visualizar sua reação - um semblante leve, bochechas rosadas, um sorriso natural.
- Com licença. - Aceno para sua família, e viro para a direção oposta a deles, a caminho da saída do salão.
O motivo da minha pressa é simples: um agrado.
[...]
No banco de trás do meu carro, um buquê de rosas vermelhas e florzinhas brancas, no meu bolso, um colar de prata.
Chegando no local da festa de formatura, algumas pessoas já estão entrando no salão, muitos formandos já com roupas de seus gostos. Saio do carro segurando o buquê de rosas, e chamo a atenção das pessoas que estavam por perto. Decidi apenas dar uma agradinho para a menina, já que é um dia muito importante, estamos ficando há um tempo, e fui convidado.
Vou explorando o entorno do salão (sim, a área externa mesmo) conhecendo melhor o lote. Atrás do salão, tem um canto bem simples com um banco de madeira, e um poste de luz amarela, decido ficar por ali. Pego meu celular, e tiro uma selfie minha, segurando o buquê, com um sorriso de canto, mando para Cibelle.
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⊹ ࣪ ˖. .ᐟ𝑪𝒆𝒎 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆 ִ ࣪𝜗𝜚 - Capitão Nascimento
أدب الهواةCibelle é uma estudante universitária residente no Rio de Janeiro, estagiando em comunidades da cidade com a saúde pública negligenciada pelo Estado. Claramente, não é o lugar mais seguro do mundo para se trabalhar. O crime, o tráfico, a violência...