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Sentada na privada do primeiro banheiro que vi pela frente, derramava minha ansiedade a cada lágrima que descia dos meus olhos. Ninguém nunca disse que ia ser fácil, ninguém disse que seria divertido, aconchegante. Já fazem cerca de 3 meses que comecei a trabalhar nesse hospital, na favela do Jacarézinho, estou terminando a faculdade de medicina.

Desde que eu cheguei nessa bosta só veio merda na minha vida. Meus pacientes são ou traficantes, ou mulheres vítimas de violência doméstica, ou vítimas de conflitos armados do morro, pessoas carentes. Já fui assediada, já fui ameaçada, xingada, ignorada... Mas conforme passa o tempo, passo a nem me importar mais com isso.

Mas o motivo de eu estar aqui chorando não é só a preocupação e cansaço constante do trabalho. Eu namorava um veterano da minha faculdade, Luís. Namoramos por 3 anos, foi um bom tempo, mas no fundo eu sabia que não ia durar muito... Afinal, temos realidades muito diferentes. Mãe, avó e irmãos moram todos no Leblon, e seu pai nem de Brasil quer saber mais, mora na Noruega faz 15 anos. E eu? Cibelle Raíssa Gomes dos Santos? HA! Nasci no Complexo da Penha, origem humilde, classe baixa. No fim, o relacionamento acabou porque descobri que ele me traiu com uma caloura, que já não me vai muito com a cara.

Só de pensar que eu amei e confiei em uma pessoa assim, me faz querer que eu me enfie na terra e nunca mais volte pra superfície. E olhe lá, que minha descoberta é bem recente - fazem 3 dias - então minhas emoções estão à flor da pele.

Tenho minha crise interrompida por uma batida na porta do banheiro, que me faz respirar fundo e enxugar minhas lágrimas, indo em direção á porta. Quando abro, vejo meu colega de plantão, Daniel, que após ver o semblante em meu rosto, torna-se confuso.

  - Belle?? Aconteceu alguma coisa?

Envergonhada, viro levemente meu rosto de lado, puxando os meus fluidos corporais pelo nariz.

  - Ah, nada... Só to cansada. Quando eu to cansada, eu choro.

  - Entendi. Olha... se precisar de ajuda, qualquer coisa, pode falar comigo, viu?

  - Ok. Obrigada Dani.

Dou um leve sorriso de 1 segundo, apenas para amenizar minha aparência derrubada, sendo retribuída com um sorriso e sua mão em meu ombro. Daniel entra no banheiro e fecha a porta, e fico sozinha no corredor do segundo andar do hospital.

Olho no relógio digital em meu pulso e vejo que são 21:17, e suspiro, pois ainda faltam algumas horas de plantão. Ando até o elevador e aperto no botão para o térreo, eventualmente, o elevador desce até seu respectivo destino.

Ao ver as portas do elevador se abrindo, me encaminho até o balcão da pequena recepção - literalmente, é uma caixinha de vidro, basicamente

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Ao ver as portas do elevador se abrindo, me encaminho até o balcão da pequena recepção - literalmente, é uma caixinha de vidro, basicamente. - e me dirijo à funcionária.

  - Oi, tem algum paciente em espera para atendimento clínico?

  - Oi! Até o momento não exatamente... - Percebi que sua expressão parecia um pouco receosa, com medo de algo. - É só que... chegou uma senhora aqui reclamando, disse que queria falar com o médico de plantão, disse que veio a uns dias aqui, mas está se sentindo pior do que da última vez que veio.

⊹ ࣪ ˖.  .ᐟ𝑪𝒆𝒎 𝑪𝒉𝒂𝒏𝒄𝒆 ִ ࣪𝜗𝜚 - Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora