capítulo 2 - praia

268 31 66
                                    

Emery Greengrass

Eu estava sentada no sofá, ouvindo os gritos da minha mãe que falava com meu pai no telefone. Isso estava virando rotina.

— Isso é ridículo! Você não pode abandonar sua filha por causa dessa puta! — diz em um tom alto e estressado.

Cravei as unhas nas palmas da mão, até senti-las perfurar a pele. Não deveria doer, eu sabia exatamente o tipo de homem meu pai era. Mas doía. Doía ver como ele havia deixado minha mãe marcada. Vê-la se destruindo aos poucos e se perguntando o que fez de errado. Ele não marcou só ela, ele me marcou também. A dor era inevitável.

— Mãe — a chamo.

Ela me olha de canto, escutando o que meu pai dizia no outro lado.

— VAI SE FODER, JEFFREY! — berra.

Minha mãe bate o telefone no gancho e apoia suas mãos no balcão com uma expressão frustrada.

— Ele não vem, não é?

Eu já sabia a resposta, mas sempre perguntava. Um pouco de esperança de que ele faria alguma questão de ficar comigo. Eu sou patética.

Ela levantou seus olhos para me encarar e negou com a cabeça. Apenas assenti e me levantei, seguindo em direção a porta. Preciso respirar. Meu peito doía e eu só queria gritar. Quem ele pensa que é?

Fecho os olhos, respirando pesadamente em uma tentativa de me acalmar. Eu odeio ele. Eu odeio ele!

Solto um suspiro e abro os olhos, me deparando com um belo par de olhos castanhos me encarando. Daniel estava do outro lado do corredor. Merda, ele deve ter ouvido tudo. Pisco meus olhos várias vezes para espantar as lágrimas que queriam surgir e ando em sua direção.

Ele desviou o olhar e começou a mexer na porta de sua casa, disfarçando.

— Problemas com a porta, Daniel? — pergunto, parando ao seu lado.

Daniel me olha e sorri sem graça.

— A maçaneta não estava trancando... — puxa a porta com toda a força, fechando-a.

Analiso seu rosto por alguns segundos. Ele estava mentindo, era óbvio.

— Você ouviu? — me refiro aos gritos da minha mãe.

Ele assente. Merda. Passo a língua pelo lábio inferior. Vergonha. Tudo o que eu sentia agora era vergonha. Daniel, o garoto que conheci dois dias atrás nos corredores da escola, o garoto que nem sequer sabia meu nome ainda, havia escutado os gritos da minha mãe sobre como meu pai era um cretino. Era incrível a capacidade que meu pai tinha de estragar tudo até quando não estava presente.

— Ei... — colocou sua mão no meu ombro, me despertando dos meus devaneios. — Está tudo bem?

— Está sim. — afasto meu ombro de seu toque devagar, sem querer parecer rude.

Eu não gosto muito de toque físico. Daniel entende o recado e retira a mão. O clima ficou tenso a medida que o silêncio se instalou entre nós. Logo Daniel o quebrou ao perguntar:

— Quer dar uma volta? Freddy me chamou pra ir à praia, disse que iria ter uma festa — sorri fraco, esperando atentamente pela minha resposta.

Seria bom. Eu poderia descansar a mente e parar de pensar no meu pai. Era tudo o que eu precisava. Ali havia comentado sobre a festa na praia, mas eu pensei que estaria em outro lugar. Ela deve ficar surpresa ao me ver lá.

— Claro — retribuo o sorriso.

— Legal — seu sorriso se alargou e ele foi em direção às escadas.

Chuva da Meia-noite; Daniel LaRussoOnde histórias criam vida. Descubra agora