Capítulo 8

163 40 7
                                    

Caminhei pelas ruas de Paris sentindo frio no corpo e na alma

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Caminhei pelas ruas de Paris sentindo frio no corpo e na alma. Eu confiava na minha empresária, e não esperava uma traição nesta magnitude. Fui apenas um joguete nas mãos dela. Sua justificativa pela minha falta de ambição foi a gota d'água, eu nunca me venderia para homem nenhum e meu corpo foi violado de forma cruel, não pelos homens que eu dormi, mas pela pessoa que deveria zelar pelo meu bem-estar.

Segui em direção a ponte Alexander III, o fluxo não era muito neste horário, mas ninguém percebeu as minhas lágrimas, o meu desespero, a minha dor.

No meio da ponte apoiei minhas mãos no guarda corpo e a água suja do rio Sena me convidava a mergulhar em suas profundezas. Eu não sentia mais nada no meu corpo a não ser a dor da traição.

Escalei o lugar e me sentei com as pernas voltadas para o rio, minha consciência gritava, mas eu silenciei as vozes dentro de mim. Eu me sentia um corpo morto sem a minha alma. Sandrine me quebrou como nenhuma outra pessoa faria.

- Un endroit étrange a choisi de s'asseoir.( Lugar estranho escolheu para se sentar.) – Ouvi a voz ao meu lado direito, mas não compreendi o que foi dito. Eu não falava francês. Neguei com a cabeça e passei a mão no rosto para tirar as lágrimas dali, mas meu nariz vermelho me denunciava. Ele repetiu em inglês e neste momento encarei o homem que tinha falado antes. Ele estava sozinho com um terno de três peças azul escuro e um sobretudo preto por cima da roupa. Suas mãos estavam plantadas dentro do bolso, mas ele não se aproximou do local que eu estava.

-Eu quero ficar sozinha. – falei, séria. Em inglês.

-É claro que você quer, mas não deveria. – respondeu no mesmo idioma.

–E quem é você para me falar o que eu devo ou não fazer. – Fui grossa, mas em minha defesa estava ferida demais.

-Eu não sou ninguém senhorita. Estava apenas passeando por aqui, na minha última noite em Paris.

-Você não é daqui? – perguntei. Não sei por qual motivo estava dando tanta atenção para o homem.

-Não. Vim a trabalho. E você também não é daqui certo? – Neguei. – De onde você é?

-Não quero falar.

-Ok. – Ele apoiou os braços no local onde estava sentada, mas ainda distante o suficiente para não invadir meu espaço pessoal. – Você sabe nadar? – Perguntou e eu confirmei. - Sabe que a ponte não é muito alta, mas a água é muito suja, caso caia do lugar que está sentada, certo?

-Porque você está conversando comigo.

-Apenas senti vontade. Outros turistas não são receptivos com homens pretos. – Bufei, pois achei seus traços e sua postura perfeita. O conjunto todo era. E seu charme era o cavanhaque bem aparado em seu rosto.

-Eu fui traída, da pior forma. – Falei. – Eu queria acreditar que não era verdade, mas confirmei tudo. Sabe quando você coloca a sua vida nas mãos de outra pessoa e ela no meio do abraço, crava uma faca em suas costas.

-Você está usando o sentido figurado?

-Sim. – Respondi baixinho. – Mas, não dá para voltar atrás. Eu estou apenas existindo. – E deixei novas lágrimas descerem, eu estava tremendo de frio. Estava uma noite bem gelada e não vim com agasalho para ficar no ar livre.

-Você ainda está viva e respirando, então não está apenas existindo. Qualquer traição que sofreu, não é motivo para estar sentada em um lugar não muito seguro, tremendo pelo frio e arriscando a ficar doente. A pessoa que te feriu com uma punhalada nas costas, vai continuar a viver caso você escolha partir antes do seu tempo. – Falou. – Quem quer que te machucou, merece assistir sua volta por cima, e nada mais importa. Hoje você está ferida e magoada, mas, a noite vai terminar, as lágrimas vão secar e você vai mostrar o seu melhor para o mundo e quem mais quiser assistir.

Desabei em um choro sofrido após ouvir o que ele falou, eu estava em uma angústia terrível e não sabia ser forte o bastante neste momento. Comecei a tremer violentamente e minha mão escorregou, quando tentei virar minha perna para descer daquele lugar. Eu iria cair de cabeça, mas tive minha cintura segurada pelos braços fortes daquele homem. Ele me ajudou a descer e segurei em seu pescoço escondendo o rosto no seu peito, apagando.

Acordei em um quarto de hospital vestida com roupas brancas e acesso de soro em meu braço esquerdo. Meus batimentos cardíacos aceleraram e uma enfermeira veio me ver. Perguntei como cheguei aqui, mas ela não falava inglês. Fiquei nervosa, mas logo outra enfermeira entrou e ela fez a comunicação necessária, me explicando que eu tive um quadro leve de hipotermia, mas que logo teria alta e ficaria bem.

O médico responsável veio me avaliar, explicou que eu passaria por uma avaliação com um psicólogo e me liberaria para voltar para casa, mas precisava de alguém para me acompanhar. Avisei que estava sozinha e hospedada em um hotel da cidade. Com muito custo fui liberada e soube que a conta tinha sido paga pelo homem que me trouxe até aqui. Mas, nem o nome dele soube e tive a nítida impressão que nunca saberia. Suspirei, pois eu daria a volta por cima e a Sandrine receberia o que era dela por direito pelo que fez comigo, mais cedo ou mais tarde.



Enfim, o encontro dos dois, mas... também a separação. 

Em queda livre( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora