Os seus aromas - All for the game

Capítulo 3

Neil chegou ao próximo estado com pouca fanfarra. Ele rastreou algum dinheiro que estava guardado para ele e sua mãe, pagou por um motel e se instalou. Depois de verificar o quarto em busca de câmeras e microfones minuciosamente, é claro.

Após não encontrar nenhum, ele foi dormir, pois havia chegado bem tarde da noite. Ele sonhou com seu pai.

Ele sonhou com lâminas afiadas e ferros quentes. De gritos e choros. De corpos e sangue, tanto sangue. Uma lona estendida para evitar que encharcasse o chão. Lola entregando-lhe uma faca. Um coelho estava sentado na lona, mastigando pacificamente uma cenoura.

A cena se transformou em um carro quente na costa da Califórnia. Sua mãe segurando o lado do corpo, mas ainda dirigindo, sempre se movendo, você deve sempre se manter em movimento, Abram. Sua mãe ficando quieta, Neil tentando tirá-la do carro, um isqueiro, cinzas, Neil vomitando na areia.

De repente, ele estava em uma floresta, cercado por lobos. Alguns completamente animais, outros parecendo meio humanos. O medo corria por seu coração. Eles se revezavam para atacá-lo, arrancando pedaços dele, observando-o sofrer enquanto ele implorava para que o deixassem ir. Eles uivavam para a lua em alegria enquanto sua presa finalmente ficava parada.

Neil acordou sem fazer barulho, tendo sido treinado para conter seus suspiros ou gritos e ficar quieto, sempre quieto. Mas ele estava suando e seu coração estava acelerado, suas mãos apertadas nos lençóis. Ele respirou fundo algumas vezes e balançou as pernas para o lado da cama. Ele precisava correr.

Não importava que fossem quatro da manhã. Neil trocou suas roupas encharcadas de suor e calçou seus sapatos. Ele estava fora da porta logo depois.

Ele ainda estava trêmulo, mas quanto mais corria, mais calmo se sentia. Passou por uma floresta e brevemente pensou em correr por uma das trilhas que a atravessavam, mas não demorou muito para se convencer de que seria uma decisão estúpida. Ele estava farto das florestas e das criaturas que residiam nelas. Ele pensou que, enquanto permanecesse na calçada, estaria seguro.

Foi por isso que ele não esperava quando uma forma escura saiu correndo da floresta ao seu lado e avançou direto em sua direção.

Ele viu bem a tempo e desviou do caminho, o que quer que fosse passou voando por ele e foi para a rua. A coisa rosnou e se virou para Neil. Foi quando ele viu que era um lobo. Um lobo branco puro com os dentes ameaçadoramente expostos. E Neil sabia que precisava correr antes que seu pesadelo se tornasse realidade.

E ele fez isso.

Mas ele era muito lento.

Lento não era algo que Neil costumava ser. Mas comparado a um animal que corria sobre quatro patas, não era nem uma competição. Ele foi ultrapassado e imobilizado e, antes que pudesse lutar, uma dor ofuscante atingiu seu ombro e pescoço.

Ele empurrou o peito e a cabeça do lobo grande, tentando tirá-lo antes que ele arrancasse um pedaço do seu pescoço, mas o animal não se mexeu. Ele apenas cravou os dentes mais fundo e rosnou. Então tudo ficou escuro.

– –

Neil acordou com uma dor no ombro e uma dor aguda na cabeça. Ele abriu os olhos lentamente e olhou ao redor. Ele ainda estava na mesma área e posição em que estava quando foi atacado. O lobo não estava à vista. Ele não sabia há quanto tempo estava fora, mas parecia que ninguém naquela vizinhança estava fora àquela hora ou eles simplesmente não se importavam em verificar o estranho caído na calçada, sem reação.

Ele se sentou e gemeu, colocando uma mão na cabeça. Por que tudo estava tão alto? Era madrugada, pelo amor de Deus, tudo o que ele deveria estar ouvindo eram grilos. Mas, por algum motivo, ele ouviu cada farfalhar da grama ao vento, cada passo de alguma pequena criatura na floresta e, por algum motivo, o batimento cardíaco de alguém que ele pensou estar na casa perto dele. Ele podia ouvir tudo tão claramente como se estivesse bem ao lado dele.