CAPÍTULO 5

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Era uma da tarde quando Valentina reuniu-se com a equipe de obras da empresa para executar a análise de um terreno. Junto a ela estavam alguns pedreiros e Roberto, o engenheiro civil. Debaixo de um sol escaldante, amaldiçoava-se internamente por estar de camisa social, blazer e calça. Caminhar de salto sobre o terreno irregular também não estava sendo uma fácil tarefa. Quando sabia que precisaria fazer visitas desse nível, a morena sempre optava por peças de roupas mais confortáveis. No entanto, naquele mesmo dia teria uma reunião com empresários importantes, por essa razão acabou escolhendo um look formal antes de sair de casa.

Valentina e o engenheiro estavam responsáveis pelo planejamento de um pequeno edifício residencial de nove andares. Era competência da morena criar toda a modelagem do ambiente físico: interno e externo, assim como verificar suas funcionalidades. Também cabia à Valentina a preocupação referente ao impacto ambiental que a obra ocasionaria na localidade.

Enquanto interagia com a equipe, ia verificando as condições do local, sua capacidade expansiva e se os limites financeiros da empresa se adequavam à finalidade desejada.

— Hoje o calor está castigando, hein, Valentina? — Comentou o engenheiro. Roberto era um homem na casa dos seus cinquenta anos.

— Nem me fale, já estou na quarta garrafa d'água — disse ela. A arquiteta já havia retirado o blazer, aberto os primeiros botões da camisa e dobrado as mangas da mesma até pouco mais da metade de seus antebraços.

Quando a visita ao terreno finalmente chegou ao fim, retornou para o escritório na expectativa de sentar-se em sua cadeira e sentir o prazer que um ar-condicionado em dias como aqueles podia oferecer. No entanto, para a má sorte da mulher, o aparelho não queria ligar.

— Oh, sério? Não estou acreditando nisso! — Disse ela ao ar-condicionado enquanto tentava ligá-lo de maneira insistente. Após algumas tentativas inúteis, discou para o ramal da secretária e notificou a ocorrência.

— O que aconteceu? — Perguntou Augusto ao adentrar o lugar. — Encontrar com você duas vezes no mesmo dia é digno de gratidão! Obrigado, meu Deus, não mereço tanto — brincou, recebendo um olhar quase fulminante da morena.

— Não estou pra brincadeira. Acabei de chegar da visitação a um local de céu aberto e estou quase pegando fogo de tanto calor. Para o meu azar, essa droga não quer funcionar — disse ao apontar para o ar-condicionado. — Para piorar ainda mais a minha situação, como se não bastasse, vou receber dois clientes para uma reunião em menos de trinta minutos. Acha que consegue solucionar antes desse tempo?

Augusto era o famoso “quebra galho” da empresa. Quando estava à toa, sempre era convocado para solucionar alguma questão corriqueira.

— Primeiro preciso identificar qual o defeito dele — respondeu. — Ah, a forma de pagamento também contribui para que eu agilize o serviço. Para a sua sorte, hoje estou aceitando beijos — disse enquanto segurava o riso.

Sentada em sua cadeira, Valentina massageava as têmporas enquanto se perguntava o que fez para merecer Augusto no seu pé em pleno estresse de segunda-feira. Quando o rapaz se retirou com o aparelho, aproveitou o tempo livre para verificar se a morena do livro havia entrado em contato. Ao constatar que não havia nenhuma chamada perdida, resolveu ela mesma ligar. Valentina insistiu três vezes, mas a ligação estranhamente não completava.

*****

Na livraria Canto da Alma, Luiza terminava de conversar com a nova equipe que viera analisar o relógio da torre. Dessa vez os homens alegaram que não havia defeito aparente, mas que algumas peças pareciam desgastadas e precisavam de restauração. A morena assinou um cheque para a empresa e autorizou que os rapazes levassem as peças para repará-las. Luiza estava esperançosa.

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora