CAPÍTULO 23

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— Café?

— Confere!

— Barra de chocolate?

— Confere!

— Leite?

— Confere!

— Chantilly?

— Hum, isso não tenho em casa — disse Valentina. As duas estavam separando os ingredientes necessários para que a morena preparasse seu famoso frappuccino.

— Chocolate em pó?

— Serve o achocolatado do Léo?

— Daria pra improvisar, mas precisa ser chocolate em pó para receitas.

— Então vou dar um pulinho no mercado e já volto. Aproveito pra trazer o chantilly.

— Ok! Enquanto isso vou preparar o café e colocar em formas de gelo. Levará um tempo até que congelem.

— Certo. Já volto! — Valentina depositou um beijo nos lábios da morena e saiu.

Enquanto a arquiteta não retornava, a outra mulher tratou de ir adiantando a receita. Quando tudo já estava devidamente pré programado, deixou a cozinha e caminhou até o jardim da casa. Luiza olhava ao redor e para as flores como se ainda não acreditasse na grandeza de tudo aquilo. A satisfação em estar de volta e ter conseguido atravessar os limites e as barreiras de tempo e espaço era indescritível.

Sabia que sua história com a arquiteta havia sido escrita há muitos anos. Esse saber não vinha apenas daquilo que fora descoberto, mas também do "sentir". Um sentir que palpitava dentro do peito, preenchia seus pulmões e percorria por sua pele; como uma certeza do quanto se pertenciam.

A chuva havia dado lugar ao sol em sua vida e trazido consigo todas as memórias que os anos eram capazes de carregar. Valentina havia aberto uma janela no tempo espaço de seus dias e lhe apresentado grandes descobertas, que teriam permanecido ocultas pela inércia que seguia. Novas descobertas implicam em novas perguntas Luiza sabia. Mas, ela também sabia que uma vida vivida pela metade era pouco demais para ela. Com a chegada da arquiteta, experimentou a grandeza de novas emoções e "querês". Voltar à sua antiga realidade já não lhe caberia; preferiria conviver com as dúvidas a respeito do que o universo as reservava.

Seu amor por Valentina a fez desenvolver a virtude da paciência e do saber esperar. Trouxe autoconhecimento e uma força interior que até então ela não imaginava possuir. Esse sentimento, o amor, ainda era carregado por Luiza em silêncio. Não o silêncio corporal ou aquele do olhar, pois era impossível não transbordá-lo dessas maneiras. No entanto, ele ainda permanecia no silêncio das palavras, aguardando o momento apropriado para ser expressado.

Ao escutar uma movimentação no portão da frente, saiu de seus devaneios e voltou para dentro de casa. Valentina havia retornado.

— Trouxe o chantilly e o chocolate em pó — comentou, enquanto ia se direcionando para a cozinha. — Aconteceu alguma coisa? — Perguntou ao perceber que haviam lágrimas preenchendo os olhos castanhos.

— Não, nada demais. É só que...

— É só que... — A encorajou a prosseguir.

— Estava no jardim pensando na vida, pensando em nós, acabei me emocionando. Eu gosto tanto de você, que até dói um pouquinho.

— Oh, meu bem... — Valentina depositou as sacolas sobre a bancada e segurou as mãos de Luiza. — Eu também gosto muito de você. — Valentina beijou-a em uma das mãos e em seguida uniu o corpo ao dela. — Sou completamente apaixonada, a começar por esse seu olhar — comentou ao mirar fixamente para os olhos de Luiza. — Seus olhos são tão vivos, que não cabem no tempo...

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora