CAPÍTULO 4

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Era final de tarde de uma sexta feira, Valentina havia encerrado seu expediente no trabalho e buscado Léo na escola. O menino estudava em horário integral, dessa maneira a arquiteta conseguia levá-lo antes do serviço e buscá-lo ao final do dia.

Ao chegar em casa, entrou pela porta dos fundos. No percurso do jardim até a cozinha colheu algumas flores, plantou em um jarro com terra e o depositou sobre uma prateleira de madeira acima da pia. Valentina amava plantas e flores, em razão disso sentiu-se imensamente feliz quando em uma das visitas ao imóvel atual descobriu que havia um pequeno jardim nos fundos da casa.

Enquanto Léo se livrava do uniforme sujo, a morena abria todas as janelas e permitia que o ar fresco entrasse e invadisse seu lar. Ela odiava a sensação de sentir-se presa em uma caixa. Esse era mais um ponto positivo do imóvel; haviam enormes janelas em todos os cômodos.

— Mamãe, hoje a titia me ensinou a fazer um coelho de papel! — Disse Léo com empolgação enquanto se direcionava para o banheiro com a mais velha. — A titia disse que é doradura!

— Doradura? — A morena indagou, franzindo o cenho.

— Sim, mamãe. Sabe fazer doradura? Eu te ensino. Tem que pegar a folha de papel e ir dorando ela até virar um coelho!

— Oh sim, você quer dizer “dobradura”, não é? — Ela sorriu, o observando dar de ombros. — A mamãe adoraria aprender com você, meu pequeno.

Valentina deslizou a cueca por entre as pequenas pernas do menino e o guiou para debaixo do chuveiro. Após alguns minutos de banho regado a diálogos divertidos, o secou, perfumou e o vestiu com um pijama de estampa infantil.

— Queria que o papai também aprendesse — comentou ele ao sentar-se em uma cadeira da cozinha. — Quando ele vem me visitar? Amanhã? — Perguntou de maneira ingênua, fazendo o semblante de sua mãe tornar-se tristonho.

— Eu não sei quando o seu papai poderá vê-lo, meu amor. Ele tem estado muito ocupado com o trabalho. O que você gostaria de jantar hoje? — Desconversou. Valentina sentia seu coração apertar cada vez que precisava mentir para Léo. No entanto, ou era isso, ou magoá-lo com a dura verdade sobre seu pai.

Desde que se separara de Miguel há quase dois anos, o homem passou a se comportar como se o menino tivesse deixado de existir. Lembra-se de Léo apenas no final ou início de cada mês, quando faz uma transferência bancária vazia na conta da arquiteta. Valentina nunca mexeu nas quantias que Miguel deposita, o fundo que cresce mensalmente será destinado aos estudos do menino quando o mesmo entrar para uma faculdade.

Valentina e Miguel tiveram uma vida feliz nos dois primeiros anos de casamento, até que as brigas entre eles começaram a se tornar cada vez mais frequentes e sérias. Em uma tarde de sábado, quando Léo tinha pouco mais de três anos de idade, Valentina resolveu fazer uma surpresa ao marido indo com o filho até seu trabalho. Ao passar pela recepção, constatou que os funcionários locais a olhavam apreensivos. A princípio a arquiteta não entendeu o porquê, mas, ao entrar na sala do marido sem ser anunciada, passou a compreender muitas coisas. Há pouco mais de seis meses Miguel mantinha uma relação íntima com uma das secretárias da empresa. Naquele mesmo dia, há quase dois anos, Valentina nunca mais voltou a ter um relacionamento duradouro com alguém. Tampouco permitiu que outra pessoa fizesse morada em seu coração.

— Pizza! — Léo verbalizou, estendendo suas mãos para o alto em um gesto de empolgação.

— Por que sua resposta não me surpreende, hum? — Comentou ao bagunçar o cabelo do menino de maneira brincalhona e carinhosa. — Já que é sexta feira... A resposta é sim! — Exclamou, o fazendo descer da cadeira e saltar de alegria.

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora