CAPÍTULO 14

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Luiza já amanheceu suspirando após a franca conversa com a arquiteta na noite anterior. Saltou da cama com alegria e vigor, deu atenção à Juna e logo em seguida tomou o café da manhã. Estava radiante, até mesmo Juna era capaz de captar as energias que dela emanavam. Saber que Valentina correspondia a cada sentimento, pensamento e vontade, deu à Luiza um novo incentivo para continuar buscando por respostas.

Fora da cidade, a arquiteta não estava muito diferente da morena. Amanheceu renovada após o diálogo e as horas de nado na piscina. Valentina sentia como se algum combustível tivesse sido acrescentado em seu corpo. Seu bom humor e energia não passaram despercebidos por seus pais, que prontamente perguntaram se ela tinha visto passarinho verde.

O coração da arquiteta estava feliz, mas havia um assunto a preocupando. Algo referente à Catarina que, eventualmente, vinha a seus pensamentos.

— Mãe... — iniciou enquanto fazia a mala. Resolveu ir embora antes do escurecer para que tivesse tempo de organizar o cômodo com os pertences de Luiza. Quando obteve a atenção de Catarina, prosseguiu. — Não queria tocar no assunto, mas fiquei um pouco aflita com o ocorrido de ontem enquanto revirávamos aqueles álbuns.

No mesmo instante em que proferia as palavras, percebeu o semblante de sua mãe tornar-se triste; levando a arquiteta a pensar na seriedade daquele assunto.

— Não é nada, filha. Que horas vai cair na estrada? — Desconversou.

— Mãe? — Valentina a olhou com uma séria expressão, lançando-a um olhar bravo.

— Longa história.

As palavras de Catarina saíram em um suspiro arrastado.

— Adoro longas histórias.

— Mas essa tem um final triste, você não iria gostar. — A voz da mais velha estava baixa, tristonha. Suas expressões faciais demonstravam pesar. Afastou-se da filha e caminhou até a beira da cama, onde se sentou e gesticulou para que a mais nova fizesse o mesmo. — Nós éramos amigas. Melhores amigas. Sônia era seu nome. — Valentina manteve-se calada, mas sua atenção estava toda voltada para as palavras que saíam dos lábios de sua mãe. — Trabalhávamos juntas em uma fábrica. A propósito, foi lá que nos conhecemos. Na época ela tinha vinte e dois e eu vinte e quatro anos. Faz um bom tempo, como você pode ver.

— Mãe, eu quero muito saber a respeito, mas se for te fazer sentir mal, não precisa...

— Está tudo bem... — comentou com suavidade na voz ao depositar a mão sobre a da filha, no colchão. Catarina manteve os olhos fixos ali, ela observava as marcas do tempo em sua mão ao mesmo instante em que trazia o passado à tona. Hoje, aos sessenta, ainda sentia aqueles sentimentos queimarem como se tivesse sido ontem que tudo aconteceu. — Nosso trabalho era com costura. Nossas mesas operacionais eram de frente para a outra, então a fofoca rolava solta — riu, arrancando da filha um riso tímido e receoso. — Foram seis anos de muita cumplicidade. Possuíamos uma amizade muito sincera; éramos nós duas contra o mundo. Se hoje você acha difícil ser mulher, não faz ideia como era naquela época. Nossos pais eram totalmente contra o nosso serviço, mas Sônia e eu queríamos nossa autonomia, queríamos mostrar ao mundo que também éramos capazes de trabalhar, de sermos úteis e produtivas. Taxavam-nos de "rebeldes" por isso, mas a gente não se importava.

A cada palavra de Catarina, a arquiteta se sentia ainda mais interessada na história. Desconhecia esse lado valente e aventureiro da personalidade da mãe, e estava orgulhosa ao descobri-lo.

— Fazíamos muitas declarações uma à outra. Dizíamos que nossa amizade duraria pra sempre, que abriríamos uma empresa juntas e que os filhos e netos que teríamos, tocariam pra frente o nosso negócio. E que se tivéssemos filhas mulheres, elas carregariam o nosso legado. Seriam mulheres tão fortes e sonhadoras como nós. — Nessa altura da história, os olhos de Catarina começaram a marejar. — Mas o destino, infelizmente, não quis que fosse assim.

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora