Luiza já amanheceu suspirando após a franca conversa com a arquiteta na noite anterior. Saltou da cama com alegria e vigor, deu atenção à Juna e logo em seguida tomou o café da manhã. Estava radiante, até mesmo Juna era capaz de captar as energias que dela emanavam. Saber que Valentina correspondia a cada sentimento, pensamento e vontade, deu à Luiza um novo incentivo para continuar buscando por respostas.
Fora da cidade, a arquiteta não estava muito diferente da morena. Amanheceu renovada após o diálogo e as horas de nado na piscina. Valentina sentia como se algum combustível tivesse sido acrescentado em seu corpo. Seu bom humor e energia não passaram despercebidos por seus pais, que prontamente perguntaram se ela tinha visto passarinho verde.
O coração da arquiteta estava feliz, mas havia um assunto a preocupando. Algo referente à Catarina que, eventualmente, vinha a seus pensamentos.
— Mãe... — iniciou enquanto fazia a mala. Resolveu ir embora antes do escurecer para que tivesse tempo de organizar o cômodo com os pertences de Luiza. Quando obteve a atenção de Catarina, prosseguiu. — Não queria tocar no assunto, mas fiquei um pouco aflita com o ocorrido de ontem enquanto revirávamos aqueles álbuns.
No mesmo instante em que proferia as palavras, percebeu o semblante de sua mãe tornar-se triste; levando a arquiteta a pensar na seriedade daquele assunto.
— Não é nada, filha. Que horas vai cair na estrada? — Desconversou.
— Mãe? — Valentina a olhou com uma séria expressão, lançando-a um olhar bravo.
— Longa história.
As palavras de Catarina saíram em um suspiro arrastado.
— Adoro longas histórias.
— Mas essa tem um final triste, você não iria gostar. — A voz da mais velha estava baixa, tristonha. Suas expressões faciais demonstravam pesar. Afastou-se da filha e caminhou até a beira da cama, onde se sentou e gesticulou para que a mais nova fizesse o mesmo. — Nós éramos amigas. Melhores amigas. Sônia era seu nome. — Valentina manteve-se calada, mas sua atenção estava toda voltada para as palavras que saíam dos lábios de sua mãe. — Trabalhávamos juntas em uma fábrica. A propósito, foi lá que nos conhecemos. Na época ela tinha vinte e dois e eu vinte e quatro anos. Faz um bom tempo, como você pode ver.
— Mãe, eu quero muito saber a respeito, mas se for te fazer sentir mal, não precisa...
— Está tudo bem... — comentou com suavidade na voz ao depositar a mão sobre a da filha, no colchão. Catarina manteve os olhos fixos ali, ela observava as marcas do tempo em sua mão ao mesmo instante em que trazia o passado à tona. Hoje, aos sessenta, ainda sentia aqueles sentimentos queimarem como se tivesse sido ontem que tudo aconteceu. — Nosso trabalho era com costura. Nossas mesas operacionais eram de frente para a outra, então a fofoca rolava solta — riu, arrancando da filha um riso tímido e receoso. — Foram seis anos de muita cumplicidade. Possuíamos uma amizade muito sincera; éramos nós duas contra o mundo. Se hoje você acha difícil ser mulher, não faz ideia como era naquela época. Nossos pais eram totalmente contra o nosso serviço, mas Sônia e eu queríamos nossa autonomia, queríamos mostrar ao mundo que também éramos capazes de trabalhar, de sermos úteis e produtivas. Taxavam-nos de "rebeldes" por isso, mas a gente não se importava.
A cada palavra de Catarina, a arquiteta se sentia ainda mais interessada na história. Desconhecia esse lado valente e aventureiro da personalidade da mãe, e estava orgulhosa ao descobri-lo.
— Fazíamos muitas declarações uma à outra. Dizíamos que nossa amizade duraria pra sempre, que abriríamos uma empresa juntas e que os filhos e netos que teríamos, tocariam pra frente o nosso negócio. E que se tivéssemos filhas mulheres, elas carregariam o nosso legado. Seriam mulheres tão fortes e sonhadoras como nós. — Nessa altura da história, os olhos de Catarina começaram a marejar. — Mas o destino, infelizmente, não quis que fosse assim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Me apaixonei sem te ver
FanfictionE se você encontrasse o amor da sua vida nas páginas de um livro? Luiza se apaixona pela arquiteta Valentina após iniciarem uma comunicação através de um livro que, inicialmente, pensam ser "mágico". Tudo se torna ainda mais enigmático quando descob...