As horas, os dias e as semanas estavam passando. O tempo carregava consigo duas mulheres aflitas e ansiosas por respostas. A cada dia tentavam encontrar as peças que ainda faltavam naquele quebra cabeça cronológico. Valentina Albuquerque visitava Luiza Campos semanalmente e renovava as flores que depositava na mesa de cabeceira da morena. Com elas, era renovada também a esperança. Sorrateiramente, a cada visita, tentava incentivar Joana a continuar buscando pelo envelope perdido. A morena tentava não parecer tão desesperada na sua insistência para não soar de maneira estranha, mas não deixava de lembrá-la e de ressaltar que, para ela, seria muito importante se encontrasse.
A morena, por sua vez, aguardou o passar das horas, dias e semanas até completar dois meses desde que vira Valentina pela primeira vez na recepção daquele hotel. Agora, dois meses depois, sabia que a morena havia retornado ao trabalho em San Lumiar. Luiza esteve aguardando ansiosamente a chegada desse momento. Ela queria e precisava ver a arquiteta outra vez, ainda que à distância.
Era por volta de onze horas da manhã de uma quarta-feira quando a morena avisou à Eduarda e Vitória que faria uma pausa longa para o almoço e só retornaria ao final da tarde. Com o coração acelerado e a respiração pesada, recolheu a pequena mochila que levava diariamente ao trabalho e entrou no carro. A empresa onde Valentina trabalha seria seu destino final na próxima hora. Parou apenas para comprar um milkshake e um hamburguer no drive thru de uma rede de fast food.
— Ai, droga! Sério, Luiza? — Resmungou dentro do carro ao apertar o copo com muita força e se sujar com o milkshake. — Droga, droga, droga — reclamava apressadamente, enquanto tentava limpar as mãos com o guardanapo. — Isso não vai dar certo — Luiza falou sozinha.
lembrou-se que sempre levava uma garrafa de água mineral dentro do porta luvas e a usou para lavar suas mãos com os braços para fora da janela.
— Cadê a tampa? — Indagou ao vasculhar os compartimentos, os assentos e o piso do automóvel. — Onde foi que coloquei? — Dizia sozinha, inquieta. — Como eu penso em conhecer a Valentina um dia, se esqueço até onde coloquei a tampa da garrafa que acabei de abrir? Ela vai me achar patética — falava e resmungava sozinha dentro do carro. Quando percebeu que não podia perder mais tempo procurando o item, bebeu o restante da água e guardou a garrafa vazia de volta no porta luvas.
Após comer o lanche o mais rápido que pôde, acelerou o automóvel e dirigiu até a empresa onde a arquiteta trabalhava. Era 11:47 em seu relógio de pulso quando estacionou na calçada de frente ao prédio comercial. Valentina havia avisado a ela que saía para almoçar quase todos os dias com Marcela por volta do meio dia. Sendo assim, Luiza permaneceu aguardando enquanto contava com a sorte.
Era mês de julho, inverno em San Lumiar. Luiza arrependeu-se da compra do milkshake, pois estava se arrepiando e tremendo dentro de seu suéter de tricô com estampa étnica. Usava uma justa calça jeans e botas cano baixo. Em uma falha tentativa de distração, trocava sms com sua única e melhor amiga: Eduarda.
Olhava para a entrada do edifício e conferia a hora no celular a cada instante. Quando o relógio marcou 12:15, surpreendeu-se com a imagem da arquiteta na fachada do lugar. Luiza sobressaltou no banco e correu para retirar da mochila uma máquina fotográfica. Ela precisava tirar ao menos uma foto de Valentina Albuquerque para recorrer à imagem sempre que a vontade de olhá-la chamasse mais alto. Estava com o carro estacionado no meio fio; próximo o suficiente para ver a arquiteta, mas não tão próxima a ponto de ser detectada. Sentia-se um pouco desconfortável naquela posição de quase "espiã", mas sua mente se tranquilizava quando lembrava que Valentina, em dois mil e dois, estava ciente de que ela a observou no passado.
Deixou o pensamento de lado e manteve a atenção focada na mulher. Seu coração batia forte e apressado dentro do peito como se fosse explodir. Lá estava ela, exatamente como recordava. Atrevia-se a dizer que ainda mais bela que a lembrança em sua memória. Valentina usava um vestido azul marinho e um sobretudo preto, por cima. Os saltos faziam a composição do visual elegante e feminino.
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Me apaixonei sem te ver
FanfictionE se você encontrasse o amor da sua vida nas páginas de um livro? Luiza se apaixona pela arquiteta Valentina após iniciarem uma comunicação através de um livro que, inicialmente, pensam ser "mágico". Tudo se torna ainda mais enigmático quando descob...