CAPÍTULO 17

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As horas, os dias e as semanas estavam passando. O tempo carregava consigo duas mulheres aflitas e ansiosas por respostas. A cada dia tentavam encontrar as peças que ainda faltavam naquele quebra cabeça cronológico. Valentina Albuquerque visitava Luiza Campos semanalmente e renovava as flores que depositava na mesa de cabeceira da morena. Com elas, era renovada também a esperança. Sorrateiramente, a cada visita, tentava incentivar Joana a continuar buscando pelo envelope perdido. A morena tentava não parecer tão desesperada na sua insistência para não soar de maneira estranha, mas não deixava de lembrá-la e de ressaltar que, para ela, seria muito importante se encontrasse.

A morena, por sua vez, aguardou o passar das horas, dias e semanas até completar dois meses desde que vira Valentina pela primeira vez na recepção daquele hotel. Agora, dois meses depois, sabia que a morena havia retornado ao trabalho em San Lumiar. Luiza esteve aguardando ansiosamente a chegada desse momento. Ela queria e precisava ver a arquiteta outra vez, ainda que à distância.

Era por volta de onze horas da manhã de uma quarta-feira quando a morena avisou à Eduarda e Vitória que faria uma pausa longa para o almoço e só retornaria ao final da tarde. Com o coração acelerado e a respiração pesada, recolheu a pequena mochila que levava diariamente ao trabalho e entrou no carro. A empresa onde Valentina trabalha seria seu destino final na próxima hora. Parou apenas para comprar um milkshake e um hamburguer no drive thru de uma rede de fast food.

— Ai, droga! Sério, Luiza? — Resmungou dentro do carro ao apertar o copo com muita força e se sujar com o milkshake. — Droga, droga, droga — reclamava apressadamente, enquanto tentava limpar as mãos com o guardanapo. — Isso não vai dar certo — Luiza falou sozinha.

lembrou-se que sempre levava uma garrafa de água mineral dentro do porta luvas e a usou para lavar suas mãos com os braços para fora da janela.

— Cadê a tampa? — Indagou ao vasculhar os compartimentos, os assentos e o piso do automóvel. — Onde foi que coloquei? — Dizia sozinha, inquieta. — Como eu penso em conhecer a Valentina um dia, se esqueço até onde coloquei a tampa da garrafa que acabei de abrir? Ela vai me achar patética — falava e resmungava sozinha dentro do carro. Quando percebeu que não podia perder mais tempo procurando o item, bebeu o restante da água e guardou a garrafa vazia de volta no porta luvas.

Após comer o lanche o mais rápido que pôde, acelerou o automóvel e dirigiu até a empresa onde a arquiteta trabalhava. Era 11:47 em seu relógio de pulso quando estacionou na calçada de frente ao prédio comercial. Valentina havia avisado a ela que saía para almoçar quase todos os dias com Marcela por volta do meio dia. Sendo assim, Luiza permaneceu aguardando enquanto contava com a sorte.

Era mês de julho, inverno em San Lumiar. Luiza arrependeu-se da compra do milkshake, pois estava se arrepiando e tremendo dentro de seu suéter de tricô com estampa étnica. Usava uma justa calça jeans e botas cano baixo. Em uma falha tentativa de distração, trocava sms com sua única e melhor amiga: Eduarda.

Olhava para a entrada do edifício e conferia a hora no celular a cada instante. Quando o relógio marcou 12:15, surpreendeu-se com a imagem da arquiteta na fachada do lugar. Luiza sobressaltou no banco e correu para retirar da mochila uma máquina fotográfica. Ela precisava tirar ao menos uma foto de Valentina Albuquerque para recorrer à imagem sempre que a vontade de olhá-la chamasse mais alto. Estava com o carro estacionado no meio fio; próximo o suficiente para ver a arquiteta, mas não tão próxima a ponto de ser detectada. Sentia-se um pouco desconfortável naquela posição de quase "espiã", mas sua mente se tranquilizava quando lembrava que Valentina, em dois mil e dois, estava ciente de que ela a observou no passado.

Deixou o pensamento de lado e manteve a atenção focada na mulher. Seu coração batia forte e apressado dentro do peito como se fosse explodir. Lá estava ela, exatamente como recordava. Atrevia-se a dizer que ainda mais bela que a lembrança em sua memória. Valentina usava um vestido azul marinho e um sobretudo preto, por cima. Os saltos faziam a composição do visual elegante e feminino.

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora