CAPÍTULO 11

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Valentina se afastou do portão de metal totalmente contra sua vontade interior. Ela queria poder permanecer, queria que as portas estivessem abertas e que Luiza estivesse à sua espera. Mas, sem nada que pudesse fazer, se retirou do local a passos lentos e caminhou em retorno ao automóvel. Olhar para trás enquanto sentia a chuva fina cair sobre seu corpo foi inevitável.

Ao adentrar o veículo não sabia se batia as mãos contra o volante em um nítido gesto de frustração, ou se chorava. Havia um grande nó em sua garganta, acompanhado de um choro entalado. Por mais que soubesse que aquela ideia poderia vir a dar errado, no fundo existia aquela pequena fagulha de esperança. Valentina precisou secar as lágrimas que estavam prestes a escorrer por sua face e se recompôs dentro do carro. Ela respirou fundo, soltou o ar e procurou pelo livro dentro da bolsa. Precisava encontrar as palavras mais adequadas para dar aquela má notícia a Luiza.

V: Boa tarde. Nesse momento me encontro dentro do carro. Ele está estacionado em uma calçada na rua da sua livraria. Acabei de voltar de lá e infelizmente a notícia que tenho para te dar não é legal. Dei de cara com a livraria fechada e com o letreiro coberto por uma espécie de lona. Pude perceber que ela já não é aberta há algum tempo, pois a construção me pareceu meio abandonada. Desculpe Luiza, mas minha visita não teve um desfecho feliz. Estou bastante chateada, não posso negar. Queria tanto poder te ver e compartilhar um momento ao seu lado.

Com o coração apertado e um choro preso na garganta, Valentina guardou o livro na bolsa e dirigiu em retorno. Ainda precisava buscar o filho na escola antes de seguir para casa.

Assim que esteve na presença de Léo, sentiu o nó na garganta começar a se desfazer. A companhia da criança sempre era capaz de acalentar seu coração e preencher a alma de alegria. Contudo, mesmo desfrutando das gargalhadas do filho, ainda existia aquela angústia cutucando ao fundo, a respeito do ocorrido.

*****

Em seu escritório a morena terminou de responder alguns emails, cadastrou mercadorias e posteriormente buscou o livro dentro da gaveta. Ela mal podia conter a ansiedade e curiosidade para saber se a arquiteta havia conseguido encontrá-la. Ao folhear as páginas rapidamente, sentiu um gosto amargo invadir sua boca com a última mensagem recebida. Luiza viu toda a sua esperança e expectativas se transformarem em frustração. Ainda pior que o sentimento de fracasso, foi a incógnita que pairou sobre sua cabeça. Ela não conseguia encontrar uma razão que justificasse o fechamento de sua livraria.

Sem perder tempo, buscou um lápis na gaveta e pensou sobre o que escreveria para Valentina. Luiza imaginou que a morena pudesse estar tão triste e frustrada quanto ela, então tentaria escrever algo que acalentasse seu coração e trouxesse algum tipo de conforto para o peito. A mais nova sabia que Valentina já tentou abandonar aquele barco uma vez, mas também sabia que as coisas estavam diferentes agora. Não mais eram as "estranhas do livro"; haviam transitado para duas pessoas que nutriam sentimentos e anseios.

L: Oh Valentina, eu sinto tanto por isso. Fico triste por nós duas. Não faço ideia do que possa ter levado ao fechamento da loja, eu jamais a fecharia por vontade própria! Porém, três anos são três anos. Infelizmente aqui em 1999 eu não tenho qualquer domínio sobre o que possa ter acontecido. Realmente foi bastante frustrante o que aconteceu, mas vamos encontrar outra maneira, ok? Posso te passar o endereço da minha casa se você ainda estiver disposta a me encontrar. Comprei meu imóvel com a intenção de morar nele pelo resto da minha vida. Ele tem vários cômodos para receber meus pais e o filho que eu possa vir a ter um dia. A casa também é grande o suficiente para proporcionar espaço à Juna, e tem o jardim que cultivei com minhas próprias mãos. Tenho certeza que ainda estarei morando nela daqui alguns anos.

Em casa, Valentina terminava de vestir um pijama em Léo enquanto conversavam sobre o dia do menino. Ele já havia jantado, tomado banho e agora assistiria um pouco de desenho animado na presença da mãe, na sala. A noite estava fria, então os dois compartilhariam uma coberta no sofá. Léo possuía uma hora de entretenimento antes da morena alegar que era o momento de dormir.

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora