CAPÍTULO 3

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Sentada na cadeira de seu escritório localizado no sétimo andar de um edifício comercial, Valentina Albuquerque sentia os efeitos de ter passado dos limites com o vinho na noite passada. Sua cabeça doía e seu estômago estava em uma inquietude tamanha. Ainda maior que a confusão em seu estômago, era a bagunça que havia em seus pensamentos. A única razão pela qual não alegava que a noite anterior passara de um sonho, era a prova concreta localizada sobre sua mesa. A arquiteta havia levado o livro para o trabalho e se limitou a apenas observá-lo. Vez ou outra, para ter certeza de que aquilo não havia passado de uma ilusão, o abria na página correspondente a comunicação que fizera com a figura misteriosa de nome Luiza.

— Valentina, posso entrar? — Uma voz feminina ecoou através da porta entreaberta.

— Claro, Marcela! Entre — respondeu.

Marcela era a amiga de trabalho da morena, responsável pela área de designer gráfico da empresa.

— Trouxe alguns projetos gráficos para a mudança do nosso logotipo e gostaria da sua opinião. — Marcela puxou uma cadeira executiva, sentou-se ao lado de Valentina e apoiou sobre a mesa o notebook que trouxera.

A empresa na qual trabalhavam havia mudado de sócios recentemente e todos estavam se virando como podiam para se enquadrarem ao novo formato.

— Eu gostei muito desses dois — comentou a arquiteta ao apontar com a caneta sobre a tela.

— Puts, Valentina! Estou justamente na dúvida entre esses — riu.

— Oh droga, então vamos sair desse impasse — respondeu-a em tom de riso. — Esse daqui tem formas geométricas bastante quadradas, semelhantes ao logotipo antigo. Porém, se quer mesmo inovar, então escolhe... Esse! — Comentou ao apontar para a imagem com formas triangulares.

— Feito! Então apresentarei esse projeto na diretoria. Obrigada, gata! — Sorriu.

— Estou à sua disposição. — Sorriu em resposta.

Valentina trabalha para a mesma firma há cinco anos, e também aceita projetos extras de clientes que são exclusivamente seus. Seu escritório na empresa possui uma decoração moderna e clean. Ela fez questão de manter em sua sala apenas o essencial para o trabalho diário. Quaisquer objetos ou decorações que lhe causem poluição visual são imediatamente descartados, assim como um quadro de Romero Britto que seu novo chefe ofereceu para ser posto na parede atrás de sua mesa. Valentina detestou a ideia e bateu perna para que não fosse colocado. Segundo ela, não entrava em harmonia com os outros objetos de sua sala.

— Hum... E esse livro aqui, do que se trata? — Perguntou Marcela ao estender a mão para pegá-lo.

Ao visualizar aquela cena, os olhos de Valentina quase saltaram de sua face.

— Nada de interessante! — Disse ela, repentinamente, ao depositar a mão sobre ele de modo a impedir que sua amiga o pegasse. — Apenas uma investigação criminal sem graça — disfarçou.

— Meu gênero favorito! Poderia me emprestá-lo quando terminar?

— Claro que sim — respondeu em meio a um fraco sorriso. Valentina ainda não sabia o que pensar sobre aquilo, no entanto, de uma coisa possuía certeza: ninguém poderia chegar perto de seu livro até ela desvendar aquele mistério.

— Bom, eu já vou me retirar, estou com trabalho acumulado até o pescoço — resmungou. — Obrigada pela ajuda! Passo aqui ao meio dia para almoçarmos juntas.

Assim que sua amiga se retirou, Valentina soltou a respiração e abriu o livro sobre a mesa. Seus olhos automaticamente percorreram sobre as linhas da conversa que tivera com a figura misteriosa. Toda a folha fora preenchida pelo diálogo que não durara mais que quinze minutos. Na noite passada, ambas estavam receosas demais para prolongarem aquela loucura. No entanto, hoje, com os nervos mais acalmados, Valentina tentaria um novo contato. Ela e Luiza haviam combinado de se encontrarem às dez da manhã na última folha do livro.

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora