CAPÍTULO 10

378 52 41
                                    

Luiza chegou em casa extasiada. Sentia como se houvessem nuvens sob seus pés em vez de tacos de madeira. Jogou a mochila em um canto qualquer e correu em direção à Juna, que nesse momento também correu e saltitou; encostando suas patas dianteiras na barriga da dona.

— Como está minha garota, hein? Sentiu minha falta? Hum? Hum? — Com um largo sorriso nos lábios, a morena enchia sua cadela de carinho por regiões distintas do corpo. — Mamãe também estava louca de saudades de você, meu amor. — Caminhou até o sofá e permitiu que Juna subisse e deitasse sobre suas pernas.

— A mamãe conheceu a Valentina, sabia? Sim, a Valentina! A moça do livro para o qual você tanto late! Ela é tão linda, Juna... — A cadela olhava como se compreendesse cada palavra que estava sendo dita. Seu olhar era atencioso e ela parecia sorrir com seu focinho aberto e a língua parcialmente para fora.

A felicidade de Luiza era tamanha, que o ocorrido no restaurante tornou-se quase insignificante para ela. Cruzou os braços atrás da cabeça, relaxou as costas no encosto do sofá e divagou. Ela suspirava com seus olhos fechados enquanto refazia mentalmente cada pequeno momento de seus encontros com Valentina. Sabia que sua ideia foi a maneira mais rápida e prática de um encontro com ela, mas também tinha consciência de que para a arquiteta recordá-la, seria Valentina que deveria encontrá-la no futuro. O que Luiza não conseguia entender é o porquê da "Luiza de 2002" ainda não ter procurado Valentina. Infelizmente a morena não tinha qualquer domínio do que possa ter acontecido no futuro, e muito menos saberia como dar alguma coordenada para que a mais velha seguisse. Mas, uma coisa sabia: sua rotina e localidade de segunda à sábado em horário comercial. Em uma futura conversa com a morena ela lhe informaria o endereço de 'Canto da Alma' para que a arquiteta fosse lá atrás de respostas. O que teria feito a Luiza Campos de 2002 ter desistido de encontrar Valentina? Essas e outras perguntas circulavam na mente da morena; mas, por ora, tentaria esquecer tais questões e focar apenas nas boas sensações que estava sentindo.

*****

— Bom dia, senhorita Albuquerque — disse o segurança do edifício comercial.

— Bom dia — o respondeu com um sorriso simpático nos lábios.

— Vejam só se não é a arquiteta mais bonita que essa empresa já conheceu — comentou Augusto ao chegar no elevador a tempo de encontrá-la. — As terças também estão me trazendo sorte.

— Bom dia para você também, Augusto. — Valentina balançou sutilmente a cabeça em negação enquanto ria dos comentários do homem. Suas brincadeiras eram tão previsíveis e sem graça, que a fazia rir. — Para o seu azar, hoje vou passar o dia fora do escritório — comunicou enquanto apertava o botão referente a seu andar de destino.

— Ok, retiro o que disse sobre ter sorte nas terças — riu. — Brincadeira, Valentina. De qualquer maneira, vou passar o dia na rua transportando algumas papeladas mesmo.

Assim que o elevador atingiu o sétimo andar e a porta se abriu, Augusto permitiu que a morena caminhasse na frente.

— Ele está te aporrinhando novamente, Valentina? — Comentou a secretária com o riso contido.

— Apenas sendo o Augusto de sempre — disse ao aproximar-se da mesa de Ana. — Pode me levar aquele café magnífico que só você sabe fazer? — Pediu simpaticamente com sua voz aveludada. Valentina Albuquerque exalava uma postura impecavelmente elegante e educada.

— Claro! — Sorriu. Ana era uma moça de vinte e seis anos, muito bonita, sempre bem vestida, pele negra e cabelo cacheado de cor castanha. Trabalhava na empresa há pouco mais de três anos.

— Obrigada!

Valentina caminhou até a sala, deslizou a persiana da janela para cima e a abriu, permitindo que a claridade do dia e alguns raios solares invadissem o ambiente. Era outono, não havia a necessidade de passar o dia trancafiada no arcondicionado. Regou sua palmeira ráfia, ligou o computador e retornou até a janela. Seus olhos fecharam por uma fração de segundos e reabriram para admirar a paisagem do bairro. Gostava de observar o reflexo da luz solar tocando os edifícios, pessoas e animais que passeavam com seus tutores pelas ruas.

Me apaixonei sem te verOnde histórias criam vida. Descubra agora