Luiza chegou em casa extasiada. Sentia como se houvessem nuvens sob seus pés em vez de tacos de madeira. Jogou a mochila em um canto qualquer e correu em direção à Juna, que nesse momento também correu e saltitou; encostando suas patas dianteiras na barriga da dona.
— Como está minha garota, hein? Sentiu minha falta? Hum? Hum? — Com um largo sorriso nos lábios, a morena enchia sua cadela de carinho por regiões distintas do corpo. — Mamãe também estava louca de saudades de você, meu amor. — Caminhou até o sofá e permitiu que Juna subisse e deitasse sobre suas pernas.
— A mamãe conheceu a Valentina, sabia? Sim, a Valentina! A moça do livro para o qual você tanto late! Ela é tão linda, Juna... — A cadela olhava como se compreendesse cada palavra que estava sendo dita. Seu olhar era atencioso e ela parecia sorrir com seu focinho aberto e a língua parcialmente para fora.
A felicidade de Luiza era tamanha, que o ocorrido no restaurante tornou-se quase insignificante para ela. Cruzou os braços atrás da cabeça, relaxou as costas no encosto do sofá e divagou. Ela suspirava com seus olhos fechados enquanto refazia mentalmente cada pequeno momento de seus encontros com Valentina. Sabia que sua ideia foi a maneira mais rápida e prática de um encontro com ela, mas também tinha consciência de que para a arquiteta recordá-la, seria Valentina que deveria encontrá-la no futuro. O que Luiza não conseguia entender é o porquê da "Luiza de 2002" ainda não ter procurado Valentina. Infelizmente a morena não tinha qualquer domínio do que possa ter acontecido no futuro, e muito menos saberia como dar alguma coordenada para que a mais velha seguisse. Mas, uma coisa sabia: sua rotina e localidade de segunda à sábado em horário comercial. Em uma futura conversa com a morena ela lhe informaria o endereço de 'Canto da Alma' para que a arquiteta fosse lá atrás de respostas. O que teria feito a Luiza Campos de 2002 ter desistido de encontrar Valentina? Essas e outras perguntas circulavam na mente da morena; mas, por ora, tentaria esquecer tais questões e focar apenas nas boas sensações que estava sentindo.
*****
— Bom dia, senhorita Albuquerque — disse o segurança do edifício comercial.
— Bom dia — o respondeu com um sorriso simpático nos lábios.
— Vejam só se não é a arquiteta mais bonita que essa empresa já conheceu — comentou Augusto ao chegar no elevador a tempo de encontrá-la. — As terças também estão me trazendo sorte.
— Bom dia para você também, Augusto. — Valentina balançou sutilmente a cabeça em negação enquanto ria dos comentários do homem. Suas brincadeiras eram tão previsíveis e sem graça, que a fazia rir. — Para o seu azar, hoje vou passar o dia fora do escritório — comunicou enquanto apertava o botão referente a seu andar de destino.
— Ok, retiro o que disse sobre ter sorte nas terças — riu. — Brincadeira, Valentina. De qualquer maneira, vou passar o dia na rua transportando algumas papeladas mesmo.
Assim que o elevador atingiu o sétimo andar e a porta se abriu, Augusto permitiu que a morena caminhasse na frente.
— Ele está te aporrinhando novamente, Valentina? — Comentou a secretária com o riso contido.
— Apenas sendo o Augusto de sempre — disse ao aproximar-se da mesa de Ana. — Pode me levar aquele café magnífico que só você sabe fazer? — Pediu simpaticamente com sua voz aveludada. Valentina Albuquerque exalava uma postura impecavelmente elegante e educada.
— Claro! — Sorriu. Ana era uma moça de vinte e seis anos, muito bonita, sempre bem vestida, pele negra e cabelo cacheado de cor castanha. Trabalhava na empresa há pouco mais de três anos.
— Obrigada!
Valentina caminhou até a sala, deslizou a persiana da janela para cima e a abriu, permitindo que a claridade do dia e alguns raios solares invadissem o ambiente. Era outono, não havia a necessidade de passar o dia trancafiada no arcondicionado. Regou sua palmeira ráfia, ligou o computador e retornou até a janela. Seus olhos fecharam por uma fração de segundos e reabriram para admirar a paisagem do bairro. Gostava de observar o reflexo da luz solar tocando os edifícios, pessoas e animais que passeavam com seus tutores pelas ruas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Me apaixonei sem te ver
Hayran KurguE se você encontrasse o amor da sua vida nas páginas de um livro? Luiza se apaixona pela arquiteta Valentina após iniciarem uma comunicação através de um livro que, inicialmente, pensam ser "mágico". Tudo se torna ainda mais enigmático quando descob...