Devia ser umas onze horas, ou meia noite.
Beatriz finalmente tinha comido sua pizza de marshmallows e se encontrava no momento dormindo no quarto de hóspedes, enquanto a sala agora estava tomada de risos e uma energia embriagada.
Eu, por exemplo, finalmente me vi mais confortável após umas três taças de vinho. Até tirei o casaco, tentando evitar o calor que me tomava.
Emily forçou uma tosse, engolindo em seco e lambendo os lábios antes de continuar a história que contava, algo sobre uma outra modelo que teve que fazer um ensaio fotográfico com ela. Mexia com a taça de vinho em mãos.
— Então ela meio que surtou, disse que eu era uma magricela vagabunda, que meus dias na moda estavam contados, que não suportava ficar do meu lado e um monte de outras merdas.
— E o que você fez? — Questionou Hugo, num tom que me parecia realmente interessado.
Ele ainda estava sentado ao lado do Eros, parecendo bem relaxado também. Os cotovelos apoiados nos joelhos.
De vez em outra nossos olhos se encontravam no meio do falatório do pessoal. Mas eu não me prendia, tímida demais para tal coisa, desviando o olhar na mesma hora.
Fazia isso para que meu coração permanecesse calmo.
Eros soltou uma risada nasalada.
— Ah... Emily foi a Emily, né.
— Eu já sei como termina essa história — disse Julia, bebendo seu vinho com um sorriso contido que dizia que já ouviu essa história milhares de vezes.
A noite inteira ela foi indiferente comigo, não dirigindo mais nenhuma palavra à mim. Algumas vezes, quando eu me tornava o centro da conversa, ela mudava o assunto.
A loira riu, jogando seus cabelos para trás do ombro.
— Bom, como a pessoa calma e controlada que sou, apenas suspirei e disse que ela era patética, ao ponto de se sentir tão ameaçada por mim que tinha que me rebaixar com insultos medíocres para tentar se sentir melhor consigo mesma. Depois, dei às costas para ela.
— Porra! Você realmente está em outro nível! Se eu pesquisar o significado de sofisticação aqui no Google, aposto que vai aparecer uma foto sua — ele bateu palmas para ela, que sorriu em resposta.
— Meu amor, tu não contou o resto da história — seu marido a cutucou, espremendo os lábios um contra o outro.
Ela suspirou, revirando os olhos.
— E dois dias depois, quando a vi descendo uma escadaria, fui por trás dela e a empurrei.
Julia deu uma gaitada braba, jogando a cabeça para trás.
— Caralho! Esse dia foi foda.
— Tu tá brincando, né? — Questionou Hugo, com os olhos arregalados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doce Como Café Preto
RomanceFadada a conhecer caras sem vergonhas e garotas ilusionais, Rafaela estava para desistir de conhecer alguém legal quando um raio a acertou: Hugo. Um garçom simpático de uma das cafeterias mais famosas de Porto Alegre. Oferecendo um simples café em u...