Rato

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A vida na favela seguia seu curso habitual, marcada pela rotina frenética de trabalho e os dilemas que sempre me acompanhavam. Meus dias eram preenchidos com obrigações e os desafios diários da segurança que eu fazia para o Naldo, mas havia algo em minha mente que não me deixava em paz: Clara. Sabia que estava agarrado num relacionamento complicado com a Brenda, mas a presença da Clara era um sussurro constante na minha cabeça, uma ideia que não conseguia afastar.

Era uma sexta-feira à noite e o baile prometia ser brabo. De longe, ainda consegui ouvir os testes das caixas de som, e já imaginava as piranhas jogando. Eu tinha um compromisso com a Brenda naquela noite, mas a ideia de passar tempo com ela não me animava. O pensamento de ver a Clara lá despertou uma mistura de ansiedade e expectativa dentro de mim.

Quando cheguei, o lugar estava fervendo. Juntei-me aos amigos e troquei uma ideia. Vários rostos conhecidos se misturavam entre as luzes, risos altos e os agitados passos de dança. A música pulsava através do meu corpo, e por um momento, consegui me distrair do turbilhão de sentimentos que rodavam em minha mente. Enquanto tentava me divertir com a galera, senti um frio na barriga. 

O olhar certeiro surgiu na multidão e, como se o destino quisesse me lembrar de algo, lá estava ela: Clara. Ela estava linda, com um vestido colado e as luzes coloridas refletindo em seu cabelo. Quando nossos olhares se encontraram, o tempo parecia desacelerar. Havia uma conexão invisível entre nós, algo que falava mais alto que qualquer palavra. Mas não era só isso: havia algo mais, um incêndio de ciúmes queimando no fundo da minha mente, vendo-a rodeada, chamando a atenção que ela sabia que chamava.

Enquanto Clara dançava, vi de relance Luiz, admirando o mesmo que eu. Ele estava com a mulher, mas antes de mais nada, chamou um mlq e mandou um balde de cerveja para a Clara. Fiquei puto. A visão de Clara recebendo a bebida e agradecendo ao Luiz, com um sorriso no rosto, fez meu ciúmes ferver. 

O que que esse arrombado tava fazendo? Respirei fundo, tentando manter a calma, mas o ciúmes estava se tornando impossível de ignorar. Fiquei observando Clara, que parecia contente com a surpresa, enquanto um rapaz que tentava se aproximar dela ainda estava ao seu redor. Minha mente estava em um turbilhão de pensamentos, entre a vontade de ir até lá e o peso da minha relação com Brenda.

Não muito mais tarde, Luiz e a mulher se despediram e, eu sabia que ele queria era dixavar ela pra chegar na Clara, tive que plantar a semente, né?

- Ué, qual foi? Só vai ficar melhor, po. - Ele fez sinal com os olhos e eu dei um gole na cerveja -

- A gente vai pra praia amanhã cedinho, vamos? - Perguntou encarando a Brenda que me encarou e eu neguei - 

- Tenho plantão já já, vai dar não. - Xoxaram e eu ri, dando um trago na maconha. Luiz me fuzilava com o olhar - 

- Já é, bora.

Vi de longe quando ele passou por mim e me fez um sinal de cabeça, me informando que voltaria. 

Merda! 

Segui a noite e do nada o Luiz apareceu, marcou um dez comigo fumando e falando que ia pegar a Clara, eu mandei ele dar uma segurada porque ele tava casado e a mina era tranquila. Ele me encarou sem entender nada e acabou que caímos na gargalhada. 

- Porra, mlq, olha a mensagem que a Clara me mandou pra eu pensar em me segurar?

Minha vontade era de atravessar o celular e amassar a cara dessa arrombada, mas o que eu poderia fazer, né?

- Vai voltar pra mim, escuta o que eu to te falando. Ela voltou da melhor forma, papo reto.

Eu respirei fundo e fizemos toque com ele metendo o pé. O sentimento de possessividade e ciúmes me consumia, e eu mal conseguia raciocinar. Por que eu estava tão afetado por isso?

Luiz foi até Clara, e eu os observei de longe enquanto conversavam. Ela parecia satisfeita, mas a expressão em seu rosto revelou que a situação era mais complexa do que eu gostaria de admitir. Luiz estava fazendo um gesto, como se estivesse sugerindo algo mais, e eu não pude deixar de me sentir inquieto com a ideia de Clara saindo com ele. 

A festa continuava em seu ritmo frenético, mas o turbilhão na minha cabeça só aumentava. Eu estava em um campo de batalha interno, lutando entre o desejo de estar com Clara e o compromisso que assumi com a Brenda. O baile parecia ter perdido a diversão e se transformado em um palco para os meus ciúmes e inseguranças. Enquanto Clara se preparava para ir com Luiz, eu me vi preso em um dilema. 

O que fazer com os sentimentos que estavam me consumindo? O baile continuava, mas eu sabia que a verdadeira batalha estava apenas começando para mim. Eu assisti Clara sair com Luiz, sentindo um nó no estômago e uma confusão de emoções, enquanto o mundo ao nosso redor girava sem parar.

Depois que eu te vi [PAUSADA!]Onde histórias criam vida. Descubra agora