QUATRO

198 29 4
                                    


Depois de uma boa noite de sono, acordo disposta, ponho minha roupa pra correr, pego meu ipod e sigo. Confiro no relógio, 05h15. A hora perfeita! Adquiri o hábito de correr toda manhã após me mudar para os Estados Unidos e, desde então, nunca mais parei. Percebi que a corrida não só me fazia perder peso, como também me ajudava a pensar em coisas boas e relaxar.

Após uma hora de corrida, retorno e tomo um banho. A Layla ainda está dormindo e hoje eu irei cuidar do café. Preparo as torradas, coalhada, suco, frutas, tudo o que posso e arrumo a mesa. Sempre adorei cozinhar, esse é um dos meus hobbys favoritos.

- Epaaa, que hoje alguém acordou inspirada. Bom diaa, maninha! Lay não tem um bom humor pela manhã, do jeito que ela gosta de dormir... E são cerca de 7h e ela ja está de pé. Que milagre!

- Bom dia, magricela! Milagre já estar de pé. Achei que teria de te chacoalhar pra acordar - sorrio - e sentamos pra tomar o nosso café. Meia hora depois, nos aprontamos e vamos em direção a casa dos nossos pais. Infelizmente, ontem não puderam ir me buscar no aeroporto. Pelo que a Lay me contou, eles ficaram presos em uma reunião na empresa até tarde. As coisas não estão indo muito bem e eles fazem de tudo pra nos poupar de tantos problemas e preocupações. Coisas de pais mesmo!

Chegamos na mansão dos meus pais e, logo, Gil vem nos atender. Ela é uma senhora de quase 60 anos que cuidou de mim e da Layla. É uma das empregadas da casa, mas faz tanto tempo que ela está conosco que já a consideramos parte da família. Ela foi uma das primeiras que me pegou no colo quando cheguei a essa casa.

- Minhas meninas, juntas, de novo! Que saudades, minhas princesas! E você, Aurora, está linda! Mais linda a cada dia. Ela me Abraça e faz um afago de avó que sempre gostei. Gil é uma senhora viúva e mãe, apenas, de uma filha que, hoje, também faz intercâmbio na Inglaterra, no seu curso de comércio Exterior. Ela é dona de uma beleza única, mesmo com a idade avançada, seus olhos são sempre expressivos, sua postura, pulso forte, mas, jamais, sem perder a ternura. Está na família há uns 30 anos e, hoje, vive aqui na mansão cuidando dos outros empregados e das necessidades dos meus pais.

Entramos e já encontro com minha mãe saindo do escritório, a princípio falando ao telefone. Mas assim que me vê não contemos as lágrimas e logo nos abraçamos. Na mesma hora, o papai também desce e já vem me abraçar.

- Mãe, pai! Que saudade de vocês. Abraço e beijo os dois, rindo e chorando ao mesmo tempo, como eles que também estão emocionados. Até no papai que sempre tem uma postura dura, vi seus olhos marejados.

- Minha princesa, minha Aurora, fico feliz que tenha voltado. Está uma belezura! Essa é minha mãe, Hellen Moraes; mesmo em meio a qualquer situação sempre põe um sorriso e faz gracinhas. Minha mãe é única. Nos reunimos na sala e logo falo um pouco da viagem, das coisas de ontem, mas percebo papai um pouco absorto em toda a situação e, logo, fico com uma pulga atrás da orelha. O que será que está acontecendo? A Layla, pendurada ao telefone

- Acredito que com o Raúl. Ela, infelizmente, não percebe o peso que está entre o papai e a mamãe. Mas faço uma nota mental de conversar com ela sobre isso e averiguar a situação. O telefone do papai toca e ele se retira da sala me deixando a sós com a mamãe. Esse é o momento certo.

- Mãe, preciso te perguntar. Está tudo bem? Percebi você e o papai tão diferentes hoje. Indago com uma angústia no peito, que prefiro não dar bola. Mamãe pigarreia: 

- Ah, filha! Você não mudou nada, né?! Sempre tão esperta! -Sorrimos.

- Filha, as coisas na empresa não estão muito bem. Infelizmente, nesses dias, eu e o seu pai tomamos muitas decisões arriscadas. E, digamos, que divergimos em algumas coisas. Mas vai dar tudo certo, filha. Não se preocupe, meu amor. Ela sorri e me abraça.

Eu não acreditei muito em tudo o que ela me disse, mas preferi me calar. Meus pais são casados há 42 anos. Se conhecem desde a infância e as famílias dos dois sempre foram amigas. Eles são o típico casal tradicional.

Mamãe tinha dezoito anos e papai vinte, quando se casaram. Os dois, muito jovens, mas cheios de expectativas e amor. Papai, desde novo, sempre ajudou ao tio em uma loja de perfumes. E foi com ele (tio John) que aprendeu tudo o que sabe hoje e construiu o seu império: A renomada empresa Zinus. Hoje não só especializada em perfumaria, como dispõe de uma rede de tratamento estético para todas as idades, feitas em espaços preparados pela própria empresa. Com fabricação de essências próprias. Uma grande empresa que sempre deu muita dor de cabeça. Ele e a mamãe sempre foram muito unidos, construíram tudo juntos com muita paciência, amor e carinho.

Depois de mais algumas horas com a mamãe, que tirou a manhã de folga por mim e por Layla, almoçamos as três juntas. Estava tudo delicioso como sempre. A Gil capricha mesmo.

Após o almoço, a mamãe foi pra empresa e eu e Lay fomos encontrar com o Raúl em seu estúdio. Quase esqueci. O Raúl é fotógrafo. Pelo que a ela me explicou, ele é um expert em fotos e, realmente, ama o que faz. Vamos de carro até lá, o estúdio fica a uns trinta minutos da mansão. Em um bairro de classe média. O espaço muito bem organizado e limpo. Ostentando em suas paredes várias fotos e quadros de artistas desconhecidos.

A moça que, provavelmente, é secretária do Raúl nos atendeu muito bem. Mesmo ela sendo sem sal e nariz empinado. Não gostei dela mesmo. Ela nos informou que ele estava terminando de fotografar uma grávida. Mas que, se quiséssemos entrar pra ver o ensaio, não teria problema. E foi o que fizemos.

Realmente tudo lá dentro era bem organizado, todo o material de última geração. E o principal foi a concentração do Raúl com a modelo (gestante). Ele era bom mesmo! Após alguns últimos cliques, fomos conferir algumas fotos e eu adorei o seu trabalho. Passou até uma idéia louca na cabeça... Um dia ainda farei um ensaio sensual aqui. Quando eu tiver coragem, é claro!

Rapidamente expulsei a idéia. Mas quem sabe? Um dia talvez. O Raúl disse que estava esperando seu primo e que podíamos sair pra algum lugar dali, pois o seu dia de trabalho já havia terminado. E olhe que só são 14h30. Quem pode, pode, né?! Eu não lembro qual o nome do primo dele, mas quando ouço uma voz atrás de mim... Eu simplesmente congelo... Aii minha nossa senhora das calcinhas...

Curvas da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora