018. a amiga

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Roberto pov;
alerta gatilho: saúde mental, abuso de substâncias;

Daniel tinha razão: eu fugia do amor.

Em casa, me senti muito pior do que na terapia. Pela primeira vez em muito tempo, olhei tudo ao meu redor e encontrei o vazio. Aquele deveria ser o lar do meu filho também.

Quando a Rosane apareceu pra mim, me apaixonei de cara: era meiga, doce. Ainda me lembro do vestido azul que ela usava na noite em que nos encontramos pela primeira vez. Brincava com os cabelos longos e não parecia tão ansiosa quanto eu: sorria sem parar, com aquela boca enorme e linda.

A Rose me contagiou com cada comentário otimista que fez sobre a vida. Ela preenchia qualquer ambiente com seu senso de humor e sabia rir até nos piores momentos. Eu fiquei fascinado e soube - naquele mesmo dia - que ela seria a mãe dos meus filhos.

Ela foi a minha primeira e única namorada, me deu um propósito e uma direção. Em poucos meses, à pedi em casamento: mesmo sabendo que eu não tinha tanta grana quanto o pai dela gostaria, ela sorriu e aceitou.

Tínhamos tudo, até o BOPE acontecer.

Quando iniciei o meu treinamento, minha mulher falou em separação pela primeira vez: era nítido que aquilo tudo afetava o nosso relacionamento mas, eu estava disposto à lutar por ela e pela corporação, também. Era um processo que superaríamos juntos, pensei.

Os anos se passaram e além de entrar pro BOPE, me tornei capitão. Um filho poderia trazer uma nova perspectiva para nós dois, pensamos juntos; tentamos por meses. Durante este período, assisti a Rosane se apagando lentamente. Foi quando eu me dei conta de que o nosso casamento estava por um fio, pela segunda vez.

Num ato de quase desespero, prometi que daria entrada na minha aposentadoria e ela se encheu de esperança. Eu não estava disposto a perder a mulher que eu amava, o meu casamento e os nossos sonhos; foi quando engravidamos.

Durante os 9 meses, Rosane se queixou da solidão e, discutíamos sobre isso à cada vez que eu chegava em casa e dizia que a sua barriga estava maior. Eu estava tão obcecado em encontrar um substituto no BOPE - para não perdê-la - que, acabei a perdendo neste processo.

O Rafael nasceu na mesma época em que o Neto morreu: ralei o cu na guia. Enquanto a minha esposa enfrentava um puerpério depressivo, eu toquei a ansiedade pela primeira vez ao enterrar o meu soldado e também, a promessa que fiz para ela. A Rosane não suportou o baque e eu, também não.

No dia em que ela decidiu ir embora, uma parte de mim também partiu. Vivi três lutos de uma só vez: deixei de flertar com a ansiedade e, passei a conviver com ela.

Todo o depois foi de mágoas, culpa, remorso, discussões e recaídas entre minha ex-mulher e eu. Nossa amizade não foi construída de um dia para o outro: a vida nos obrigou, em nome do nosso amor em comum pelo nosso menino. Confesso que partiu dela a maior parte dos esforços.

Por ironia do destino, a Rosane foi a primeira pessoa em quem eu pensei quando saí da terapia. Ela esperou a vida inteira por aquele momento e era quem mais merecia uma versão melhorada de mim. Eu precisava vê-la.

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maria  batalhão | CAPITÃO NASCIMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora